Há sentimentos e sensações em nossa vida que são imprescindíveis para cumprirmos o trajeto de nossa existência, que eventualmente nos preenchem e nos fazem melhores e mais seguros de nós mesmos, fazendo crer no que podemos conquistar através destes. Essas palavras são pouco para representar a latente mensagem de esperança que Mary & Max providencia, esta obra traz a tona reflexões sociais e íntimas, que mesmo sendo apresentadas por um longa metragem em animação, não perdem um milímetro de sua força e importância.
Através de bonecos de massa, Mary & Max personaliza sua estória, de forma profunda e emocionante sobre o poder dos relacionamentos, e como esses, em quaisquer situações, podem apresentar-se como sinônimo de esperança e coragem para se seguir em frente. O filme narra a trajetória de Mary, uma garotinha esperta e solitária, que vive dispersa em seus pensamentos, e estes divide por cartas com seu novo amigo, Max (voz de Phillip Seymour Hoffman), um homem obeso e anti-social que vive entristecido pelas poucas conquistas que alcançou e pela forma que a vida o trata. Eles mantêm através de uma correspondência epistolar, uma amizade forte e grandiosa.
É notório que, mesmo sobre bonecos construídos a partir de massinha de modelar, Mary e Max consegue apresentar um vívido e concreto sentimento a seu espectador, fazendo-o acompanhar a emocionante estória sobre uma amizade improvável, mas mesmo assim terna e cativante. Esta é uma das poucas animações que conseguiu traçar um meridiano entre as telas e a realidade, mostrando, sobretudo como a sociedade trata pessoas que julga diferente, e por esta razão, Mary e Max já desbanca muitas produções em live-action.
Mary e Max abrange também temas corriqueiros, que vemos em nosso dia a dia, mas que por alguma razão egoísta fechamos os olhos para não percebê-los. No filme, estes temas são abordados de forma delicada (depressão, homossexualidade, suicídio, cleptomania...), por vezes analisado sobre uma ótica inocente, mas sem ofuscar a intensidade e a discussão que este promovem na sociedade. Esta animação, em si, já é uma crítica objetiva as desigualdades e os preconceitos formados pela arcaica e primitiva visão social, é tanto que no filme, esta amizade entre uma garotinha e um homem de meia idade já exala que as diferenças são o que menos importa na hora de se estabelecer uma verdadeira e honesta relação humana.
O filme também ganha força por mostrar os dois lados de uma mesma moeda, este recurso narrativo utilizado pelo diretor e roteirista Adam Elliot só adiciona ainda mais na relevância social que Mary e Max possui, isso porque, ele apresenta duas óticas diferentes, a primeira de uma triste e solitária criança e a segunda um homem obeso de meia idade, sobre a insensível realidade em que eles vivem, mostrando-a sem utopias, somente o prisma real e inocente de cada um.
O filme conta com uma estética maravilhosa, pouco convencional aos aspectos de uma animação corriqueira; o promissor cineasta Adam Elliot acerta em ilustrar sua estória com uma animação em stop-motion, prezando o valor artístico dessa técnica, e aplicando sobre ela, tons de acordo com o ângulo da narrativa; o mundo de Mary assume uma coloração amarronzada, de acordo com sua visão do mundo, tendo em vista que essa é sua cor preferida, já o mundo de Max é acinzentado, estático, que serve para ressaltar a tristeza absoluta que o atinge, já não conseguindo exprimir vibração a seu universo. Essa engenhosa tática entre o contraste de cores foi belissimamente utilizado por Tim Burton em 2005, com seu sensacional A Noiva Cadáver, e aqui se reproduz com igualitária maestria em uma genuína expansão imaginativa.
Mary e Max - Uma Amizade Diferente é uma animação que confere ao público grandes estímulos emocionais, que monta a partir de sua estória triste, porém sincera, uma identificação com o real, com cada um de seus espectadores, pois a amizade que ambos compartilham é a mesma que podemos levar conosco durante todo o percurso de nossas vidas, mantendo-a sempre intacta e acesa em nossos corações.
“Podemos, no entanto, escolher nossos amigos... e eu estou feliz por ter escolhido você.”(Max, Mary and Max)
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário