Há sempre uma dúvida que fica no ar para quem assiste Mato sem Cachorro (idem, 2013). Diversos momentos, tanto no início, em seu meio e seu ato final, não se sabe bem o que quer. O humor do filme de Pedro Amorim é certamente bem variado, porém quando em uma cena estamos vendo um momento mais sentimental de repente planamos em uma piada de Danilo Gentili e uma outra piada sobre paulistas e cariocas que se repete várias vezes. Ora o cachorro faz uma gracinha e ora uma radialista sensacionalista cospe palavrões pela rádio.
Mato sem Cachorro é uma mistura de todo o humor presente na televisão brasileira – o mais engraçado é que a mais um humor proveniente da rede bandeirantes no filme da globo filmes - pois diferente de outras comédias brasileiras produzidas pela mesma, como Se Eu Fosse Você(idem, 20jfh), e algumas películas dirigidas por Hugo Carvana somos conectados a uma espécime de humor ao mesmo tempo conservador e pouco escrachado. Porém, apesar da novidade se encaixar muito bem na mídia cinematográfica atual em que se encontra, Mato sem Cachorro é um Marley e Eu (Marley & Me, 2008) querendo ser algum Quem Vai Ficar com Mary?(There’s Something About Mary, 1998) que se utiliza desse tema já manjado para arquitetar essa ideia.
Como em um Stand-up, Danilo Gentili pergunta: “Sabe como eu sei que você é carioca?”(não é atoa que ele tenha escrito parte do roteiro), e seu companheiro Deco(Bruno Gagliasso) escuta e faz a mesma pergunta sobre o paulista. É um diálogo de um humor bem conservador, batido e logo em seguida algo acontece. Se o humor que existe no stand-up se faz da agilidade de soltar piadas no ar, uma seguida da outra, Gentili aproveita desse cenário em que se encontra e aparece pelado para se fantasiar de vagabundo enquanto Deco não é nada mais que um outro vagabundo que cria vídeos e diversas montagens criando e misturando músicas(como muitas fazem no youtube), e possui sua graça.
O que mais enferruja em Mato sem Cachorro é essa falta de narrativa, porque o que menos importa é o protagonista que “une” o casal. Repentinamente um surto de humor pastelão cai sobre a tela e um anão começa a perseguir diversos cachorros que se soltaram, por mais que a figura do cachorro esteja ali, o que menos importa é ele. Ele não é utilizado em algum tom possível para fazer um tipo de humor, tudo o que se tem é apenas uma afeição que pouca explica a justificativa do mesmo na narrativa principal, forçando o argumento de que Mato sem Cachorro seja um apanhado de boas intenções em uma história oca para utilizar esse esqueleto como sustentação para algo que simplesmente não há.
Como as próprias montagens que o personagem de Bruno Gagliasso faz, é em uma retrospectiva curta que em minutos depois do acidente em que somos apresentados ao cão que ele finalmente cai nas mãos de Zoé(Leandra Leal) sem alguma explicação, mas sabemos que houve alguma separação. É uma narrativa rápida porém que segura bem firme as pontas, sem excessos é um filme de potencial corajoso, mas reprimido diversas vezes e sua condição a que veio é de um humor rápido que consegue envolver diversos gêneros de humor, escapando daquele que seria seu humor se fosse feito sem alguma mão um pouco mais sábia e menos pretensiosa, por mais que seja um filme extremamente televisivo e americanizado por outros do mesmo gênero, Mato sem Cachorro não tem os melhores humoristas, nem as melhores cenas nem as melhores escolhas, mas utiliza o melhor que pode para fazer dentro do que lhe foi proporcionado.
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