Fritz Lang, um dos cineastas mais importantes da história, começou sua carreira bastante cedo (anos 20), sendo, portanto, um dos pioneiros a participar do desenvolvimento do que conhecemos hoje como sétima arte. Alcançou o cinema mudo, no ápice do Expressionismo Alemão. Trabalhou, em fase posterior, também em Hollywood. Sua obra ainda hoje espanta pelo perfeccionismo e técnica à frente do seu tempo. O tom crítico/político era comumente presente. Muitos diretores, tais como Alfred Hitchcock e Orson Welles foram influenciados pelos seus filmes ao longo dos anos. Nunca foi reconhecido pela Academia (Oscar).
“Metrópolis”
O filme, considerado um épico para os padrões daquela época, ainda impressiona e emociona. Os anos se passaram, mas o impacto de suas imagens não foi prejudicado. Hoje, sabendo das limitações tecnológicas que existiam, ficamos ainda mais admirados com a técnica empregada, com a perfeição da arte e da fotografia. As questões abordadas permanecem atuais, mesmo quase noventa anos depois.
O roteiro, assinado por Lang e por Thea von Harbou, recebeu grande e óbvia influência de uma Alemanha Pós-Guerra, e isso fica claro no forte discurso que o filme traz sobre a relação entre Homem, Tecnologia e Indústria, bem como em questões associadas às diferenças socioeconômicas do país naquele momento. O movimento expressionista da época também está bastante impregnado: a forte e expressiva maquiagem, o clima de mistério/gótico, a distorção da imagem, até nas atuações (caricatas). Esse foi o estilo que consagrou o diretor, e que está presente em outros de seus importantes trabalhos.
Logo no início, uma cena resume com eficiência a principal proposta: durante uma troca de turno, centenas de operários marcham em direção a grandes elevadores que os levarão às profundezas da cidade, no subsolo, onde uma cruel e colossal indústria funciona ao custo de um trabalho desumano, quase escravo. Ao mesmo tempo em que esses descem, outros sobem, e marchando de cabeças baixas, se vão esgotados. Essa é apenas uma das dezenas cenas memoráveis produzidas por Lang.
“O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”
O cenário, genialmente construído, representa uma enorme cidade futurista (Metrópolis), e é nesse ambiente que o diretor aprofunda na sua interessante abordagem: o icônico “homem-máquina” (o androide que ilustra o cartaz), produto do avanço tecnológico e científico, é utilizado com o objetivo de persuadir a massa operária desesperada a se rebelar contra o sistema, dominado pelos poderosos. Então, quando todos destroem as máquinas que forneciam energia à cidade, uma relação de dependência é exposta. Fica clara então a intenção do cineasta: o vislumbre de uma frágil sociedade subordinada à modernidade, que precisa encontrar o equilíbrio entre os que estão “acima” e os que estão “abaixo”. Então, o personagem Freder Fredersen (Gustav Fröhlich), simbolizando o “coração”, age como um mediador entre as duas realidades, “cabeça” e “mãos”.
Trata-se de uma obra de arte que sobreviveu ao tempo. Curiosamente, foram encontrados há algum tempo (em 2008, nos porões do Museu do Cinema de Buenos Aires) uma versão mais longa com 25 minutos de material inédito já considerado perdido, contendo ao menos duas importantes cenas (estima-se que um quarto do longa tinha sido perdido). O custo da restauração foi de US$ 850 mil. A versão que apreciei, mesmo que fantástica, não era ainda a mais completa. Pequenas explicações foram inseridas em certos momentos para garantir a fluidez e o sentido da história. Recomendo então esse rico filme que é simplesmente obrigatório para quem realmente gosta de cinema.
Ótimo texto! 😁
Obrigado Francisco! 😁
Impressionante como grandes e consagrados nomes nunca foram reconhecidos pela (políticagem da) academia do Oscar, alguns nem mesmo postumamente. Meus parabéns, Rômulo.
acredito que esse filme daqui a 100 anos ainda continuará a render boas críticas como esta, a criação de um cenário urbano quase que satânico/Gotham City é tão real e atual que me assombra um pouco