No cenário bucólico de Yorkshire, surge uma irregular história de romance entre duas jovens mulheres, que parecia engrenar para uma boa discussão entre amor adolescente, intolerância religiosa e desestrutura familiar, mas acaba derrapando no excesso de temas que tenta provocar e na velocidade com que o desfecho foi se desenvolvendo.
Para uma modesta produção, ficam evidentes as competentes jogadas de luz e fotografia da equipe técnica logo nas primeiras cenas: cores fortes, vibrantes, nas externas. Isso tudo evidencia o cenário rústico em que as duas protagonistas se inserem, contrastando com o mundo não tão idílico assim quando as tomadas são feitas em espaços privados, de intimidade das duas, com cores mais escuras. As garotas em questão são as boas Mona (Nathalie Press) e Tamsin (Emily Blunt).
O público é apresentado às duas logo de início, sem rodeios. Ambas exalam carência e necessidade de afeto. Pode-se dizer que o filme fala sobre um romance que nasceu do desajustamento social de ambas. A primeira grande virtude do filme foi não culpar a experiência lésbica por isso: as garotas, solitárias, são, antes de tudo, humanas.
Talvez por isso o filme passe a impressão de que a relação entre elas seja movida mais por carência do que pelo efetivo desejo lésbico. No entanto, além de eu discordar deste ponto de vista, creio que o roteiro revelou outro ponto positivo neste limiar: elas, em nenhum momento, passam a ideia de transtorno ou angústia em relação às experiências relativas às suas sexualidades. Mesmo se as personagens estivessem apenas se aventurando (Mona, por exemplo, tinha um ex-namorado), a situação clichê em que elas poderiam questionar a prática lésbica, numa espécie de “lesbofobia” internalizada, não existe. Elas vivem aquele relacionamento não duradouro sem ressentimentos, ainda que a questão do preconceito surja, mas por pressões externas.
Outro ponto importante é o irmão de Mona, Phil (Paddy Considine), um personagem cujo passado obscuro é apenas citado, e que vive a experiência de ter se convertido a uma Igreja cristã. O filme cresce quando ele está em cena, pois ele representa o fardo de um assunto extremamente pertinente: o fundamentalismo religioso frente às liberdades individuais no que tange à sexualidade.
Há também uma ligeira pincelada em pontos como o machismo, a desestrutura familiar, a solidão, o desajustamento social. E é justamente aí que vai se formando o problema: o roteiro acaba se perdendo, há bruscas reviravoltas, incluindo mudanças nas personalidades de Tamsin e Phill, forçando surpresas quando, na verdade, o interesse maior residia nos pontos de discussão interessantes propostos pela premissa do filme, o que acaba decepcionando o produto final como um todo.
Ainda assim, é um filme que toca em pontos essenciais, com uma trilha sonora escolhida de forma certeira: o filme encerra com a voz de Edith Piaf. Em muitos momentos é demasiadamente gostoso acompanhar aquele romance e as reviravoltas, e por mais que eu tenha minhas ressalvas, em nenhum momento são indigestas, mesmo que a mensagem seja dura e impactante ao seu final. Enfim, um filme que vale a conferida.
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