Não conhecia Ursula Meier até ver a indicação desse filme em um site e ficar instigado pois no elenco possuía a fantástica Léa Seydoux que ficou conhecida mundial por "Azul é a Cor mais Quente". Seydoux é uma promessa que já se cumpriu não só pela beleza, mas acima de tudo pelo talento natural no dom da atuação. "Minha Irmã" é o segundo trabalho atrás das câmeras de Meier sendo o primeiro "O Lar" encabeçado pela soberba Isabelle Huppert outro drama, escrito pela diretora sendo que "Minha Irmã" também é escrito pela mesma. Os dois filmes de Meier são secos e em 'L'enfant d'en haut' as escolhas nunca são de fácil decisão e a crueza é predominante durante toda a história. Mais uma vez a cineasta utiliza o cotidiano das relações familiares para dissecar a personalidade de seus personagens perante o público
As consequências são de grande magnitude para os personagens envolvidos. Os problemas são causados por forças além do controle dos protagonistas. Imergidos e jogadas em varias situações e claro, nós mesmos quantas vezes somos obrigados a carregar grandes fardos ou abrir mão de N posses e fatos que nos agradam ou até mesmo amamos para realizar outros processos de mais prioridades. Nada é de graça neste mundo. E Simon eva à risca esta premissa para poder seguir sua vida.
Simon de 12 anos rouba o que pode em uma estação de inverno suíça: de sanduíches a pares de esquis, passando por relógios, dinheiro.... Vendendo os objetos que rouba (óculos para usar na neve, capacetes, luvas, casacos...) arrumando dinheiro para sobreviver. Sua irmã Louise vive alternado empregos com períodos em que fica desempregada - e aí depende dos furtos de Simon. Frequentemente some por dias com diferentes sujeitos que a apanham em seus carros. Tem fama de puta entre outros meninos que também moram na base do morro onde fica, no alto, a estação para turistas endinheirados.
É neste cenário, uma Suíça gélida e repleta de ambientes abertos, que a cineasta conta este pequeno e rico conto de dívidas e cobranças. Um paralelo com a situação financeira da Europa, com certeza, com todos os seus desempregados que, diariamente, precisar buscar novas alternativas para sobreviver. Afinal, é isto o que os personagens de Minha Irmã fazem: eles não vivem suas vidas, apenas estão à procura de melhorar suas condições materiais, sem se preocupar, aparentemente, com o que acontece internamente.
Na cena mais pungente do filme, ele oferece dinheiro para dormir na cama de casal, ao lado dela, abraçando-a. Perto de Simon, os meninos de "Os Incompreendidos"(Truffaut, 1959) ou de O Garoto de Bicicleta" (Irmãos Dardenne, 2010) eram muito bem cuidados. Ele é quem tenta cuidar dela, mas ela pode beber todo o dinheiro que ele consegue com a venda de coisas roubadas. Assim como ela pode usufruir do fato de Simon ser um ladrão, muitos que compram o que ele vende (por um décimo do valor de mercado) aproveitam os furtos, pois percebem o preço ridículo pelo qual adquirem aqueles produtos.
As gélidas paisagens em larga escala contrastam com a frieza constante dos personagens, que não são vitimizados por serem pobres, assim como os turistas de classe média alta que frequentam a estação de esqui não são demonizados. Entre estes visitantes temos a sumida e ainda estonteante Agente Scully, quer dizer, Gillian Anderson, em um belo papel que, metaforicamente, substitui a figura materna perdida de Simon. a perfeita interação entre os atores nos desempenhos que oferecem sobre o comportamento pouco integrado de seus personagens. Léa Seydoux - que esteve também em "Bastardos Inglórios", "Meia-noite em Paris" e no mais recente "Missão: Impossível" tem melhor oportunidade do que nos demais filmes citados, oportunidade que ela utiliza com garra . E o menino Kacey Mottet Klein se revela excepcional, sem utilizar nenhum traço de “simpatia” que comovesse de modo fácil a plateia. Aliás, o filme não utiliza recursos melodramáticos fáceis.
Em uma determinada cena, o esconderijo do garoto é descoberto por um cozinheiro da estação (Martin Compston), a quem Simon conta sua história. Momento em que o longa poderia cair no mais absoluto clichê da vítima das circunstâncias. Porém, o roteiro dá cabo de transformar esta pequena revelação (para outro personagem, não ao público) no retrato de um rapaz maduro precocemente e que sabe como se virar sozinho sem precisar que os outros o achem um coitado. Tanto que, em vez de pedir dinheiro sem nada em troca, Simon quer pagamento pelo equipamento de esqui confiscado (um dos tantos que ele encontra em suas andanças pela estação e acaba servindo como principal mercadoria de seu “comércio”.
Muito além de um retrato sociológico de uma Europa em crise ou de uma relação familiar desgastada, Minha Irmã se preocupa, principalmente, em traçar um perfil de um garoto que, sem ter com quem contar, acaba renegando seus sentimentos e os materializa na forma do lucro – mesmo que ele pareça inexistente...
Parabéns pelo centésimo comentário, meu amigo Gabriel!!! Siga nesta evolução tremenda que logo chegarás na centésima estrela!!!
Poxa caro Cristian, fico bastante lisonjeado pelo seu acompanhamento! Isso que me motiva a escrever... Espero que possamos partilhar esse processo juntos!
Ainda tô bem longe do centésimo... Fiquei muito tempo afastado do Cp.