Amizade e desprezo, memória e desejo e também temporalidades. O tempo se vê presente em Ma Vie de Courgette, primeiro longa animado de Claude Barras, é ele quem dita os rumos dos seres estranhos e frágeis que habitam aquela tela onde nunca há um acúmulo maior do que 3 ou 4 adultos em rápidos 60 minutos. Como a personagem infantil que tenta se adiantar ao tempo, sempre esperando que a próxima visita seja a sua mãe, descobre-se que é ele quem dita nossas vidas (a espera, a passagem, uma noite de insônia) e certamente que nem sempre nos traz o que espera-se.
O cinema francês, e o europeu num sentido mais amplo, há décadas já passou os limites da experiência animada comum: sabemos que aqui não se encontrarão personagens "disneylânicos" que sairão cantando pelos mares ou pelas florestas sobre o quanto a vida espera deles: em Minha Vida de Abobrinha o homônimo personagem (Abobrinha) não terá grandes feitos, quiças uma vida de felicidade. A realidade é mais dura em animações com propensões artísticas, e o tempo é sempre mais tempo, sempre mais duro e de certa forma mais educativo.
Também é impressionante a capacidade que se têm de aliar o juvenil e o adulto, dos pais que ficam entediados e das crianças que se divertem ou do vice-versa, há espaço para ambos e eles nem sempre estão bem delimitados a bel prazer de uns e outros.
Na sessão em que fui vê-lo, as piadas com tons de piadas adultas (totalmente puras em sua significância e também totalmente francesas) não atingem as crianças, que conseguem sorrir e compreender a simplicidade dos acontecimentos difíceis da vida de Abobrinha e seus amigos no orfanato.
Porque também é sobre o tempo do abandono: crianças abandonadas pelos pais recebem a visita de um policial abandonado pelos filhos - porque o tempo também pode inverter as coisas. E é o que esperam Camille e Abobrinha, o casal infanto-juvenil do filme: que o tempo passe e eles possam crescer e fazer de suas vidas algo melhor, escrever uma nova página e assim abafar os males do passado, mas se o vissem passar tão rapidamente como desejam, estariam então satisfeitos? Minha Vida de Abobrinha não se fecha com essa resposta, é como a vida: nunca se sabe o que o passo seguinte reserva. E aí reside toda a sua sensibilidade e complexidade.
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