''Falta violência,
O desastre que existe na privacidade alheia, de no caso, uma família comum, dissecado minuciosamente. Avranas, recorreu ao não usual para discorrer um tema alarmante, a subordinação.
Lembra muito 'Dente Canino', outro da safra e de origem grega onde vemos uma política de vida e desenvolvimento incomum, ora arcaica. A história dessa vez ambienta um apartamento onde uma filha pula da sacada, a problematização sai do dilema, por quê o suicídio? Um ponto à se destacar nessas produções são a iluminação e câmera, sempre opaca e vazia, vista de longe e por vezes na primeira pessoa para que incorporemos seu campo de visão, como numa imersão na repugnância e leveza dos personagens, este primeiro, quase como uma constante.
Escrúpulos não existem no patriarca, maníaco e sociopata, fruto de uma geração cínica e desprovida de soluções, cabisbaixa, quase infeliz. Monopoliza com seriedade tudo e todos, criando uma imagem de respeito em seu mundo. Por muitos momentos é visível a insatisfação do mesmo com seu meio e como este abusa do compreensível pra tornar mais adequado aquilo que jamais foi seu. Talvez seja um trauma, tipos de longa data que não ficam claros na película, para explicar tal egoísmo e discrepância.
Com o passar dos minutos a obra vai agonizando e passando um real desconforto quanto ao silêncio ensurdecedor da casa, mascarás caem de um lado e são postas de outro, sempre com um ar frio e autoritário vemos o deslumbrar dos alicerces da violência na sua mais pura forma, agindo contrária a cerne do homem. O poder de subjugar e dominar está em efetivo vigor durante toda a fita, o medo estampa praticamente toda ação criando até uma imagem à principio, de conservadorismo, piada. Insuportável de se assistir, vemos aos poucos nossos limites serem testados diante do caos secreto e coletivo da família, num ciclo reincidente quase livre de falhas.
Acerca do elenco, todos em sincronia e trabalhando bem os rostos e feições diante dos acontecimentos. Quase todo filmado na casa da família, o apartamento, vemos um trabalho primoroso da câmera com distanciamento, enfoque e poucos cortes. Já a trilha é pouco ou quase não usada, dando espaço a um vazio silencioso. Como ator, Themis Panou se destaca e recebe o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza do respectivo ano da produção, junto de seu diretor, Alexandro Avranas condecorado como vencedor do Leão de Prata de direção. Tecnicamente, não há defeitos, apenas elogios ao seu todo.
Por fim, Miss Violence, pode não agradar a todos públicos por conta de seu ritmo e teor pesado, beirando o depressivo, o que não deixa de ser uma experiencia distinta e interessante para os abraçadores do gênero. A sensação após os créditos continua por horas, sendo um daqueles que dá pra se refletir e debater dias à fio sobre a conclusão, tardia, do segredo que ronda os habitantes daquele universo. Há ainda quem diga que o contexto pode estar parafraseando um governo, dum certo país.
Sobra a latente do oportunismo.''
Fiquei interessado nesse. Alguém mais viu por esses dias e também gostou, mas não lembro quem. Só me preocupou a comparação com Dente canino, que detestei. Mesmo assim, preciso ver mais filmes gregos e esse é uma boa oportunidade.
Quanto ao texto, precisa de um melhor acabamento pra organizar e expor melhor as ideias, mas é uma tentativa bastante válida de compartilhar sua experiência com o filme e, por isso, considero bom. 😉
Eu assisti na Mostra do ano passado e, pra mim, é o melhor filme que assisti nos cinemas em 2013.
A comparação com Dente Canino só é válida porque trata-se da nova onda do cinema grega, que pode ser resumida como um verdadeiro soco no estômago. Este aqui é ainda mais forte.