“Tempos desesperados, medidas desesperadas.”
Em uma série de filmes que ostenta o título de Missão: Impossível o mínimo que podemos esperar são cenas que irão nos deixar claro o quão impossível é missão dos protagonistas – ou ao menos o quão difícil são, já que sabemos que eles irão completá-las, que não são impossíveis, apenas difíceis, como um dos melhores diálogos desse quinto filme deixa claro. Dito isso, a produção comandada por Christopher McQuarrie é extremamente eficiente, seja em sua trama de intrigas internacionais, que mesmo quando os heróis parecem mais próximos de capturar o vilão ainda faz parecer que estão longes do objetivo, seja nas impressionantes cenas de ação, que ao serem estreladas pela intensidade absurda de Tom Cruise se tornam melhores ainda.
Escrito também McQuarrie, este Nação Secreta traz Ethan Hunt (Cruise) em um intrigante jogo de gato e rato envolvendo sua IMF (a Força Missão Impossível), a CIA representada por Alan Hunley (Alec Baldwin), e o Sindicato liderado pelo vilão Solomon Lane (Sean Harris), onde poderá contar com a ajuda, claro, de seus parceiros e amigos Benji Dunn (Simon Pegg), Luther Stickell (Ving Rhames) e William Brandt (Jeremy Renner). Em sua missão que atravessará o mundo passando por lugares como Marrocos, Inglaterra e Áustria, Hunt ainda precisará lidar com a enigmática Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), agente inglesa infiltrada no Sindicato que pode ou não estar do lado de Hunt conforme a situação avança. A trama é intrincada, costurada com cuidado por Mc Quarrie e encarada com seriedade pelos atores, mas mesmo que fosse só uma desculpa para a ação já seríamos obrigados a reconhecer que o quinto Missão: Impossível é entretenimento de primeira.
E impressionar com sequências de ação em um ano onde não só Jurassic Park voltou às telonas com um final apoteótico, como Mad Max apresentou um dos filmes mais explosivos da história recente, não é pouca coisa. Ao abrir já com a alardeada cena onde Tom Cruise voa agarrado do lado de fora de um avião – SEM DUBLÊ! – a mais de mil pés de altura, Nação Secreta parece dar um tiro no próprio pé ao entregar de bandeja seu grande momento, mas logo descobrimos que aquele não é o grande momento do filme: além de uma perseguição sobre duas rodas em alta velocidade, que eclipsa sem o mínimo esforço qualquer Fúria em Duas Rodas da vida, e de uma sequência visualmente bastante interessante em uma ópera, perdemos o fôlego junto com Cruise em uma sequência de roubo de informações que envolve uma dificuldade absurda e muita água.
Dono de um elenco de primeira, Nação Secreta traz além do sempre ótimo Tom Cruise exibindo aquela intensidade habitual de alguém que estrela um filme como a vida de todos que ama dependesse disso – e ainda nos lembrando pelo caminho o quanto é bom no humor apesar de não investir tanto nesse lado de seu talento (sério, tente não rir de sua tentativa fracassada de saltar sobre um carro ainda atordoado depois de quase morrer) -, Simon Pegg tirando de letra o papel de alívio cômico, além de ser quase um avatar do espectador na narrativa, como quando ao ouvir a “missão impossível” que precisarão executar responde sem piscar que Ethan Hunt será capaz de fazer aquilo. E se Ving Rhames, Jeremy Renner e Alec Baldwin ganham bons momentos mesmo merecendo mais tempo de tela (Baldwin em especial, já que seu personagem some durante boa parte do filme e quase esquecemos que a CIA está atrás de Hunt), e Sean Harris compõe um vilão ameaçador mesmo (ou talvez por isso) deslizando em alguns momentos de over e outros de inexpressão, Rebecca Ferguson quase rouba o filme.
Em um ano onde Charlize Theron foi aplaudida unanimemente por sua poderosa Imperatriz Furiosa em Mad Max e Bryce Dallas Howard correu de um tiranossauro Rex usando salto alto, Ferguson e sua Ilsa não deixam por menos – inclusive, sua destreza com o salto é imensa também, ainda que o tire em determinados pontos, num realismo inesperado por parte da produção –, em um duelo de igual para igual com Cruise, onde por vezes o supera. Longe de ser apenas um rostinho que fará o protagonista perder a cabeça, Ilsa é uma personagem forte, que se revela em diversos aspectos bastante similar ao personagem de Cruise. E apenas sua imagem de vestido de gala sexy, salto alto e sniper, já valeria o filme, numa das ilustrações mais apaixonantes de femme fatale que já vi.
Claro que em alguns momentos o incômodo despertado pelas situações implausíveis bate forte e acaba fazendo o filme perder alguns pontos, mas sabemos que isso é parte do pacote. Mais incômodo, no entanto, é perceber como ao contrário do excelente trabalho exibido em cenas de maior escala, como as citadas alguns parágrafos atrás, McQuarrie adere a lógica de decupagem de Michael Bay nas menores, como o confronto físico que ocorre em uma sala de tortura, onde os cortes rápidos e em excesso mal nos deixam entender o que acontece e como os personagens saem daquela situação. Por outro lado, a trilha sonora de Joe Kraemer é sensacional, utilizando o tema marca registrada da série, composto por Lalo Schifrin, de maneira inteligente, com variações que ajudam a estabelecer o clima das sequências e mesmo mudanças de cenários.
Encerrando com um gancho explícito para uma continuação, Missão: Impossível – Nação Secreta nos deixa ansiosos pela nova missão de Ethan Hunt e seus companheiros mesmo que saibamos que a coisa toda não será tão impossível assim.
Que texto, Pedrão. Parabéns.
Como de costume, só assistirei mais a frente, junto com Jurassic e Mad Max. Mas como fã da série, espero coisa boa mesmo. McQuirre ainda vai ser um dos grandes.
Cara, se eu que nem sou fã curti, imagina você então hahaha
Valeu 😁