Mutum
Com um filme simples e singelo, o longa Mutum mostra um mundo profundo e intimista. Por meio de sua trilha sonora composta pelo som da chuva, o canto do galo, da roça, do vento, até das águas correndo pelas torneiras, enfim apenas pelos ruídos do som ambiente, somos levados a uma atmosfera totalmente distinta da que vivemos. (Pelo menos, aqueles que, como eu. vivem na cidade)
O que mais chama a atenção é a forma como o filme é apresentado. Tudo se passa pelos olhos de um garoto. Um garoto como todos os outros, mas que enfrenta em certos momentos de sua vida problemas de adultos que não consegue compreender. Pois afinal, é apenas uma criança no mundo de pessoas “maduras”. Não há quase uma história que segura o filme, há indícios, mas nunca muito claro sobre o que acontece em sua vida e das pessoas que o cercam. A via desse garoto, (que quase ia me esquecendo, se chama Tiago), é cercada por muitas dificuldades. Estão presentes a fome, a seca, a pobreza, o atraso. Mas a sua vida é apenas brincar com seu irmão, Felipe e tentar compreender sua família, ou seja, os adultos da cena. Mutum significa mudo, ou seja, silêncio, solidão. Palavras que resumem bem a vida do nosso protagonista e seu desfecho é belo, sensível e comovente.
Mutum é um filme que soube retratar as condições deste nordeste tão distante das grandes cidades e do Brasil de fato. Talvez seja assim que se sentem. Sós, afastados, solitários diante do país que vivem. Mutum não é uma leitura com cunho social sobre a fome e as dificuldades, mas sim um filme que tenta explicar o que se passa no íntimo de um garoto, ou talvez de todos nós. Pra finalizar, o longa é baseado na obra “Campos Gerais” de Guimarães Rosa. Só pelo fato de ser baseado na obra desse que foi um dos nossos grandes autores, percebe-se que o filme não é uma tentativa de leitura sobre o espaço geográfico, mas sim o espaço interior que há em nós.
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