Contando que um filme que se diga histórico, parta de liberdades poéticas para se contar uma história, há de se pensar que nunca será exatamente fiel à sua fonte original, havendo modificações, sejam elas para melhor atender o público, ou porque simplesmente houve a decisão de não se colocar aquilo no decorrer da história.
Temos vários casos com isso, “Tróia, “300”, “Cruzadas”, só para citar alguns, além de mais uma infinidade de títulos que tratam sobre, e é aí que “Njinga, Rainha de Angola” entra. O filme dirigido por Sérgio Graciano, tem a proposta de contar a vida da rainha que dá nome ao longa, está que foi um símbolo de resistência a colonização europeia daquele povo, mas o resultado final é um tanto quanto complicado e cheio de defeitos.
Logo de cara já vemos um fator que incomoda bastante, e já faz cair por terra a ideia principal. Njinga luta contra a dominação portuguesa em seu território, e aparece falando... Português, e um português um tanto letrado, e os demais integrantes da tribo também falam da mesma forma, inclusive causando momentos risórios quando primeiro falam uma frase no idioma local, e em seguida a repetem em português para que possamos entender. Por que não então o filme inteiro foi feito com as falas completas no idioma da tribo? Uma legenda não iria encarecer tanto mais a produção.
Desfilando mais momentos de vergonha alheia, temos uma verdadeira vitrine de atuações pífias, que as vezes nos faz querer tampar os olhos e poupar tais visões. A protagonista, interpretada pela ex-Miss Angola, Lesliana Pereira, que também já integrou o elenco de uma novela nacional, até consegue segurar bem as pontas, apesar de alguns bicos e trejeitos corporais um tanto afetados, mas os demais companheiros de cena protagonizam cenas bizarras, como a morte do pai de Njinga, logo no início do filme, pessoas insistem que alguém no leito de morte reviram os olhos e suspiram antes de cair com cara de cachorro abatido. Mas quem ainda supera nesse quesito, é o ator Jaime Joaquim, que interpreta Ngola Mbandi, irmão da guerreira, desfilando um trabalho digno de um programa humorístico, com mãos na cintura, voz gutural, caretas, olhos arregalados, tudo para justificar o lado “mal” do personagem. Sobra o desfecho do mesmo que é a cereja do bolo!
Esteticamente, o filme continua devendo. Uma fotografia feia, que incomoda de ser assistida, hora granulada, parecendo areia na câmera, hora tentando invocar um tom de ouro, que mais parece um quadro desbotado, não agrada em momento algum, sobrando alguns pequenos planos, um em especial, onde se vê uma paisagem a beira de um rio e o sol ao fundo, talvez a cena mais bonita do filme todo.
Os figurinos do filme parecem tirados de uma novela de época da rede Globo. Njinga e as demais mulheres da tribo, usam colares e cintas na torso, e deixando os seios das atrizes a mostra, que me pareceu desnecessário, enquanto os homens andam mais cobertos, com roupas feitas de animais que hora parecem um arremedo pobre dos Flintstone. Mesmo, quando numa cena, onde o empoderamento deveria ser visível, uma festa numa casa portuguesa, as coisas continuam apáticas. O vestido que dão à rainha angolana, parece um trapo remendado, e a caracterização dos negros que estão na festa, são de doer os olhos, parecem pintados à base de corretivo de caneta.
Graciano pretendia por em prática um filme épico, mas não teve mãos para colocar isso em ação, aliás, a ação do filme é quase tão pobre como seus figurinos. As batalhas são mais falsas do que as do seriado do Batman dos anos 60, combates dignos de teatro escolar, isso quando a batalha é mostrada, pois em alguns casos, só vemos a aproximação de dois exércitos e no momento chave, a cena é cortada e só ficamos sabendo em relatos o que se passou ali.
Lógico que ao meio dessa novela toda, teríamos um final redondinho, feliz e cafona, e é estalar o que acontece, totalmente previsível, mesmo para quem conhece a história de Njinga, o fato é não saber o que vai acontecer, mas a forma que é colocado e como foi contado, podendo realmente somente resumir em algo cafona.
Como dito antes, a ideia era se trazer um filme épico, ao exaltar um dos nomes grandes da mulher frente à batalhas e uma luta pelo seu povo, mas no final, o que vemos é um arremedo novelístico, feio e massante. Um grande potencial desperdiçado, que em outro momento possam se retratar do trabalho feito aqui, que realmente valorize a história dessa guerreira, porque nesse momento, a luta maior foi conseguir assistir seu filme inteiro.
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