“O Abraço Partido”, filme de 2004, disponível em DVD, tem como maior mérito as atuações de um elenco versátil, onde juntos dosam comédia e drama através do olhar de seu protagonista, Ariel, que em sua apresentação no primeiro ato da história, faz uma introdução com uma narração em off, exibindo todas as pessoas que convivem numa galeria de um bairro pobre em Buenos Aires.
Numa mistura de etnias, o filme lida com várias culturas na convivência de seus diferentes grupos, na maioria judeus, acompanhando as horas ociosas de seu protagonista que, após abandonar a faculdade de arquitetura, passa os dias acompanhando os trambiques do irmão e trabalhando na loja de lingerie da mãe, ouvindo diariamente histórias sobre seu pai que lhe deixara quando ainda era criança.
A relação de Ariel com sua mãe (Adriana Aizemberg) sempre se estremece quando esta fala sobre o ex-marido, como insinuações de algo que ainda é misterioso para os filhos. A narrativa de aparência séria está recheada de recreação, delongando diálogos bem humorados e que muitas vezes fingem não levar a lugar algum. O diretor e roteirista Daniel Burman tem grandes personagens e um belo contexto nas mãos, explorando vários assuntos pela perspectiva de um só protagonista, que deseja um passaporte polonês acreditando que se reencontraria naquele país.
Sendo a arte a paixão do rapaz, ele pensava que na Polônia poderia se tornar um alguém que não se considerava ali naquela galeria, investindo em seus desenhos, talento denunciado em breves momentos do longa, seguindo passos de alguns grandes nomes que saíram daquele país. Nota-se em Ariel suas breves fugas de pensamento, que lhe vem a cabeça relacionado a esse pai que praticamente não conheceu, evitando fazer coisas que de alguma forma possam remeter a ele. Nessa atmosfera cheia de mistério, alguns dos vários personagens chamam muita a atenção, como a loura do cyber café que tem encontros sigilosos com Daniel, omitindo, por sua vez, qual é o verdadeiro relacionamento que tem com seu patrão.
Dinâmico e humorado, “O Abraço Partido” conta com uma seleção de capítulos, que irão recontar o cotidiano desfigurado desse jovem perdido na indiferença daquele clã de pessoas que se encontram dia a dia para conseguir algum dinheiro, numa Argentina bem contextualizada e em crise. O cinema sulamericano vem sempre trazendo belos filmes, embora, infelizmente, relegados a segundo plano pela mídia.
Há grandes talentos esquecidos como Daniel Hendler (Ariel) e Adriana Aizemberg, que encanta. E também o diretor Burman, que pouco a pouco vem fazendo sucesso. Seu último filme, “Ninho Vazio”, prova isso. “O Abraço Partido” também faturou o grande prêmio do Júri no Festival de Berlim como também levou o prêmio de melhor ator para Hendler.
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