Descrever a sensação de navegar no mundo de Buñuel é incrível, O Anjo Exterminador é mais um daqueles filmes inquietos onde sua mente "doentia" revela o seu talento ímpar. Assuntos inimagináveis conseguem tomar forma através do seus modo peculiar e surreal de contar estórias.
O enredo é uma severa crítica a burguesia, a trama se passa em um jantar onde todos os convidados ficam impossibilitados de deixarem a casa .
Simplista e até certo ponto desleixado este roteiro ? Negativo, Buñuel espalha metáforas em sua ótica surreal e vai deixando um rastro de impressões singulares . Usa o jantar, um simbolo emblemático da aristocracia para a mostrar as mazelas incutida na personalidade da alma burguesa e de modo velado vai talhando sua crítica sem demonstrar uma conotação didática, sua inquietude transcende a formalidade e o surrealismo implementa o toque mágico e onírico. O inconcebível se torna concebível nas mãos deste gênio chamado Luis Buñuel .
O Anjo Exterminador tem de ser analisado no conjunto da obra, pois somente assim fazem sentido suas cenas sem sentido. Imagine cenas como as dos convidados chegando e os cozinheiros e empregados fugindo, seria servido como jantar um urso e um carneiro, mas eles estão vivos e dando um "rolê" pela casa, convidados com sede pegam um machado e "desce a mamona" na parede em busca de água, em determinado momento uma mão desmembrada começa e perseguir uma mulher e do nada ela acorda gritando e mais uma série de cenas "'inconcebíveis", Buñuel exige um inconsciente aflorado do espectador, nada é entregue gratuitamente, uma analise fragmentada compromete toda transposição de suas idéias e cria-se um vácuo entre a realidade e o surrealismo impossibilitando a oportunidade de abrir a porta do seu universo onírico .
O Anjo Exterminador foi o ultimo filme da fase mexicana e junto com o Discreto Charme da Burguesia podemos considerar o mais duro ataque a elite da sociedade, em determinado momento do filme os convidados estão com fome e acabam "descendo do salto" se comportando como um moradores de rua e ainda sim criticando e "zoando" o próximo.
Um trabalho irrepreensível, Buñuel é considerado o maior cineasta espanhol e depois de assistir filmes desta estirpe, da para entender o motivo de sua atemporalidade dentro do cinema.
"A moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como o são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade." Luis Buñuel
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