Baseado no livro de grande sucesso de Ira Levin, a história é simples e apavorante: jovem recém-casada, Rosemary (Mia Farrow), muda-se com seu marido, Guy (John Cassavetes), um ator desempregado, para um edifício soturno (Dakota) em Nova Iorque. Logo, ela começa a desconfiar que seu marido está envolvido com magia negra (junto com os vizinhos, um “simpático” casal de velhinhos) e, em troca do sucesso, quer entregar seu filho para rituais macabros. O filme, então, narra a luta de Rosemary para manter a criança longe de seus perseguidores, reservando-lhe uma trágica surpresa..
A vinda do anti-Cristo é, à primeira vista, o tema principal de "O bebê de Rosemary". Alguns chegam a dizer que o filme abriu caminho para os sucessos populares de "O Exorcista" e "A Profecia" na década de 70. Mais equívocos. Polanski não está interessado, nem em discutir seriamente o satanismo, nem em espantar o público com exibições circenses de vômitos e levitações. Polanski está interessado em usar o medo do desconhecido como mola propulsora de uma análise devastadora da família norte-americana, de seus sonhos pequeno-burgueses, de suas aspirações tão conhecidas, domesticadas e inofensivas...
À medida que o filme avança, Polanski vai desconstruindo a imagem deste “sonho americano”, “do casal adorável, jovem e feliz” e transformando tudo num pesadelo na vida de Rosemary, que curiosamente desconfia de todo mundo ao redor, menos de seu instinto maternal. Entram em cena temas sobrenaturais, fantásticos, como bruxarias, ocultismo, magia negra, seitas e satanismo, sem claro, condenar nenhum deles, fazer julgamento, se aprofundar. Polanski, por ironia do destino, teria sua mulher assassinada — Sharon Tate, grávida de oito meses — um ano depois deste filme, por integrantes de uma estranha seita liderada pelo psicopata Charles Manson, num dos mais brutais crimes envolvendo estrelas do cinema...
O sucesso do filme (custou cerca de 2,3 milhões, mas arrecadou algo em torno dos 35 milhões) se mantém até hoje: mesmo quem não viu, já ouviu falar. E a produção merece ser conhecida pela atual geração de amantes de cinema, pois mesmo visto hoje, o trabalho de edição deste filme é um dos pontos essenciais para que ele funcione. Grande parte de todos os acontecimentos acontecem dentro do apartamento do casal, ou em lugares fechados, o que pede um ritmo diferenciado para que o resultado não seja enfadonho. Polanski vai mostrando uma mudança bem arquitetada da trama: os vizinhos passam a ser mais intrometidos na vida de Rosemary, pessoas andam pelo cenário, cruzando salas, pelas paredes, como se a observassem, alimentando a paranoia da protagonista e a angústia dos espectadores que não sabem o que pode acontecer com ela...
Extremamente bem conduzido, de forma a gerar pensamentos ambíguos em cada espectador, “O Bebê de Rosemary” revela-se um excelente filme de terror que não utiliza cenas violentas como forma de assustar o espectador. Polanski cria uma situação aterrorizante, capaz de causar pânico sem a necessidade de utilizar recursos artificiais como a trilha sonora para isto. É a situação em que os personagens estão envolvidos que causa temor, o que é muito mais interessante. A dúvida gerada em torno dos pensamentos e visões de Rosemary e a ambiguidade de sua atitude final elevam ainda mais a qualidade da obra.
Por isso, independente de qual seja sua interpretação final, o espectador ficará satisfeito com o que viu.
Polanski ainda nos oferece um dos melhores finais de filmes da história. Quando Rosemary finalmente vê seu bebê no berço negro e confirma todas as suas suspeitas, tem a chance de escolher entre dois caminhos: ou renega seu filho, partindo para o confronto com os feiticeiros, numa atitude católica e moralmente defensável; ou deixa seu instinto maternal falar mais alto, seguindo um caminho de sombras e pecados. Mia Farrow sorri, terna, para o bebê, a câmara abandona o apartamento e Polanski mostra como se termina um filme mantendo a espinha ereta e o coração tranqüilo. Longa vida para o polonês!
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