"Você tem que ir através do seu medo para ver a beleza do outro lado."
Roteiro completamente reescrito. Troca de diretor. Lançamento adiado resultando numa produção com menos tempo que o ideal. O Bom Dinossauro era um projeto promissor que já despertava interesse dos espectadores desde seu anúncio pela Pixar (porra, pra variar a premissa dos caras parecia boa demais, o meteoro "erra" a Terra e os dinossauros não são extintos), sendo assim, é com um pouco de decepção que O Bom Dinossauro foi lançado e se viu como a bilheteria mais baixa do estúdio desde seu início com a obra-prima que foi o primeiro Toy Story. E, de fato, o próprio estúdio de Woody, Buzz e companhia pode ter se prejudicado com o lançamento do filme menos de um ano após seu retorno aos filmaços com Divertida Mente. Esperava-se ver a Pixar mantendo o ritmo alto e maduro que voltou, invés disso recebe-se o menor filme dos caras desde Carros 2.
Menor. Não ruim. Carros 2 ainda é um ponto baixo isolado, mais para vender brinquedos do que para contar uma história. O Bom Dinossauro ainda tenta e, em muitos momentos, consegue ter algo a dizer. A trama gira em torno do jovem dinossauro Arlo, que seguindo a evolução de sua espécie, vive com a família em uma espécie de fazenda onde vivem da agricultura e falam como humanos. O dino adolescente, no entanto, é extremamente medroso, o que acaba jogando-o após uma tragédia familiar em uma jornada para "provar seu valor" ao lado de um garoto humano ainda atrasado na escala evolutiva, que assume as vezes de uma espécie de "melhor amigo do dinossauro". A trama é lugar-comum? Sim. E as diversas chupações de O Rei Leão não ajudam muito (uma cena de morte, por exemplo, poderia ser refilmagem do filme de 1994). Mas ainda assim a Pixar possui sua magia, não podemos negar.
Tecnicamente elogiar o pessoal do estúdio é cair no óbvio: o realismo com que eles animam seus personagens e os ambientes só aumenta, o que resulta em queixos caídos quando percebemos, por exemplo, a reação dos corpos dos dinos a uma chuva torrencial que cai dos céus. Mais fácil elogiar, então, a segurança de Peter Sohn, que estreando aqui na direção dos longas do estúdio após comandar o curta Parcialmente Nublado, que explora bem tanto o drama quanto a comédia das situações criadas pelo roteiro. No segundo caso, destaca-se a cena em que Spot (o menino humano) e Arlo comem frutas podres e entram numa viagem chapada que nada deixa a dever para a surtada cena dos elefantes rosa de Dumbo. O cinema veio a baixo em risadas e com razão - e em menor escala, temos a aparição de um triceratops "de humanas", outro bom momento. No primeiro caso, o exemplo mais óbvio é, claro, uma despedida de partir o coração, onde o silêncio de um abraço diz bem mais que qualquer diálogo poderia. E ainda que esteticamente cenas com vaga-lumes sejam óbvias, é inegável a força imagética de dois momentos envolvendo os insetos e o que eles representam em ambos.
É uma pena, então, que Sohn precise trabalhar com um roteiro tão esquemático. À exceção de Arlo, Spot e do pai de Arlo, os personagens não dizem a que vem, resultando em um final cujo ápice emocional é sabotado por não nos envolvermos com a família do jovem dinossauro. Além disso, o filme nem ao menos precisava de um "vilão", já que a natureza, sempre imprevisível e traiçoeira (e a natureza vista em O Bom Dinossauro é bastante ambas as coisas, um mundo onde [sobre]viver é bem complicado), e os medos do protagonista já seriam obstáculos e tanto em sua jornada do herói, mas já que os possui, poderia ter investido em personagens mais interessantes do que o bando de "pterodáctilos" (entre aspas, porque não sei se realmente é essa a espécie deles) vistos aqui, que em nada lembram os grandes do estúdio e saem de cena de forma abrupta. Mais bem sucedida é a participação de um família de tiranossauros, que desempenham papel fundamental no amadurecimento de Arlo - a cena em que o patriarca da família revela que sente medo também e que sem isso não se está vivo é um momento delicado e emocional, daqueles bem ao estilo Pixar.
Muito mais equilibrado do que Carros 2, conseguindo agradar crianças e adultos - o que nem é difícil, afinal, é Carros 2 -, O Bom Dinossauro ainda assim tem sabor agridoce por sabermos que poderia ser muito mais do que é, como a Pixar já nos mostrou diversas vezes. Porém, se há uns 5 anos atrás isso seria uma decepção gigantesca, hoje, infelizmente, já pode ser encarado como apenas mais um deslize de um estúdio que, como qualquer outro, não consegue acertar em alto nível sempre.
Vai nada, vai curtir Marvel
cala boca ou eu mando audio no privado
Te bloqueio fdp
Achei o filme muito deprimente parar as crianças. Mas o roteiro enxuto e a parte técnica me fazem dar um 8.