“...E as crianças em que vocês cospem enquanto tentam mudar seus mundos são imunes aos seus conselhos. Elas sabem muito bem por aquilo que atravessam..." - David Bowie
Um cérebro (Anthony Michael Hall). Um atleta (Emilio Estevez). Uma princesa (Molly Ringwald). Um caso perdido (Ally Sheedy). Um marginal (Judd Nelson). Nas mãos de um cineasta qualquer seriam estereótipos sobre os quais são fundamentadas a maioria das obras que retratam a conturbada fase da adolescência. Nas mãos de John Hughes, talvez o melhor a trabalhar com essa faixa etária, são retratos tridimensionais de uma geração. Ou de todas as gerações. Esqueça o high school movie de sempre, apesar de Clube dos Cinco se passar 99,9% dentro de uma escola. Aqui o buraco é mais embaixo: é sobre relações. De nós com nossos pares, que de tão diferentes acabam nos fazendo esquecer que são iguais a nós; de nós com nossos pais e deles conosco, aquele relacionamento onde orgulho e frustração parecem sempre caminhar lado a lado em um limite que quando é borrado é problema na certa; e o mais difícil de todos, aquele que às vezes nem uma vida inteira é suficiente para trazer paz, então imagine na fase mais complexa da vida, o de nós com nós mesmos.
Existem brigas, discussões, beijos, piadas, dança e brincadeiras aqui, mas a síntese toda é uma conversa entre jovens que depois de se chaparem juntos parecem finalmente se reconhecerem como reflexos uns dos outros a ponto de se abrirem em um lugar propício a isso, um sábado de castigo na escola, onde foram ordenados pelo professor barra pesada (Paul Gleason) do lugar a pensarem sobre quem são e escrever uma redação. Os jovens se conhecem, conhecem uns aos outros e no processo, fazem o espectador refletir sobre quem é também, sobre quem foi e sobre quem vai ser. Sobre como leva sua relação com os pais e sobre como isso acaba influenciando sobre o tipo de pais que seremos também - "Você me diz que seus pais não entendem/Mas você não entende seus pais./Você culpa seus pais por tudo/Isso é absurdo/São crianças como você./O que você vai ser/Quando você crescer.", parece ecoar pela sala quando os jovens afirmam que jamais serão como seus velhos.
"Quando você cresce, seu coração morre", diz uma personagem em dado momento. O professor, que tanto defende que as crianças da época atual parecem perdidas, logo é alertado que quando era criança era assim também, apenas ele envelheceu e agora enxerga tudo de uma nova forma. Não importa a época em que estamos ou estaremos - basta perceber que o filme de Hughes é da década de 80 e hoje, 20 anos depois, seguem fazendo filmes com jovens que precisam se encontrar -, os jovens ao verem a vida adulta se avizinhar irão se sentir perdidos, e serem vistos como estereótipos e, mais que isso, precisarem sustentar os mesmos, de nada ajuda a coisa toda, seja para quem for.
Hughes parecia entender o impossível, a cabeça dos jovens, seus medos, anseios, amores, fez obras bacanas e esquecíveis (Gatinhas & Gatões) e fez obras-primas eternizadas na história do cinema (Curtindo a Vida Adoidado e esse Clube dos Cinco, a maior delas) e em todas elas teceu retratos fiéis de seu público-retratado-alvo. Para além das cenas marcantes - tente esquecer os momentos musicais de Curtindo a Vida ou de Clube -, há obras sensíveis, sempre amparadas em atores que rendem seu melhor nas mãos do diretor - ou você já viu Michael Hall, Estevez, Ringwald, Sheedy e Nelson tão bem assim?
O resultado então é que quando a obra se encerra, uma mão é erguida e o Simple Minds faz um pedido sobre não ser esquecido, já sabemos que jamais esqueceremos o que vimos nos últimos noventa minutos, assim como jamais esqueceremos o que foi vivido e sofrido durante a adolescência.
Até por que, logo após acabar o filme, você já sabe que irá revê-lo logo e muitas vezes depois disso, conservando sempre o encanto da primeira vez.
"Don't you forget about me
Don't, don't, don't, don't
Don't you forget about me"
O Pedro é foda!!! O apelido Máquina de Texto nunca caiu tão bem!!!! Parabéns, neu velho! Que cousa linda! E esse filme também, uma obra-prima.
Obrigado, Chico, elogio seu vale o triplo
Acabei não indo ver no cinema, aí revi em casa mesmo e escrevi isso, Felipe, mas imagino a experiência dessa obra-prima na telona...
Máquina de Texto já é demais, Cristian, mas valeu hahaha