Talvez esta seja a obra onde os estúdios Disney mais acertaram a mão ao se tratar de uma adaptação de história. Outros ótimos trabalhos já haviam sido feitos até então, o requintado A Bela e a Fera, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan entre outros. Mas tenho para mim que nada superou o conteúdo usado em O Corcunda de Notre Dame. Muita coisa, claro, foi mudada do material original, o livro de Victor Hugo, mas a real essência do que se tratava, continuou aqui, com forte conteúdo e maestria em criar um espetáculo tão grande que nos transporta pra dentro da animação com tamanho fervor.
O filme nos coloca junto a Quasimodo, uma criança que nasce com deformidades pelo corpo, e após sua mãe ser morta, é posto para viver sempre trancado no alto da catedral de Notre Dame. Esse pequeno prelúdio, que nós é contado de forma um tanto quanto teatral pelo cigano Clopin, nós mostra bem o que será visto durante toda a projeção: Um espetáculo digno dos mais belos palcos de teatros.
Digo isso devido à competência com que tudo foi feito aqui, ricamente cheio de detalhes, animação, fotografia, trilha sonora, os temas abordados que foram um pouco mais além das demais histórias já feitas, todo esse conjunto formam algo realmente encantador, digna de ser realmente chamada de adaptação de um livro com importância como esta obra tem na literatura mundial.
A obra de Hugo, publicada em 1831, é algo com peso imenso de drama e sentimentalismo, tratando de vários temas, como luxúria, assassinato, maldade, auto flagelação e mais temas que não caberiam em um desenho, devido ao público alvo principal, mas dessa vez, a coisa foi um pouco diferente. Mesmo tendo amenizado o conteúdo presente na obra original, o filme ainda trata coisas com certa diferença. Sensualidade, o pecado íntimo da luxúria que Frollo acaba vivendo quando conhece a cigana Esmeralda, sua autocondenação, a maldade que o povo francês tinha para com os diferentes, inclusive os ciganos, onde mostram uma monarquia que apreciava festivais bárbaros e torturas de vários tipos, questionamentos humanos entre desejo e religião. Outro fator, é o teor sensual contido em Esmeralda, que ao dançar mostra movimentos um tanto quanto sedutores, sempre com um olhar de hipnotizar qualquer marmanjo. Claro, tudo é mostrado de forma discreta, mas está presente, o que deixou tudo com uma cara de mais credibilidade, de mais ousadia da parte dos diretores do filme.
Outro ponto forte, e que carrega bem o drama da história, é sua trilha sonora. Em certos momentos tão carregados de sentimentalismo que nós remete à uma ópera genuinamente bem construída. A música que Frollo mostra seus tormentos devido aos pensamentos com a cigana é algo tão forte que causa arrepios, em conjunto com cenas de desespero em meios aos delírios com condenação e o inferno.
E finalmente, a beleza com que tudo foi construído, para contar um conto que se passa em um dos prédios mais bonitos feitos pelo homem, a Catedral de Notre Dame. A igreja com toda sua imponência em estilo gótico, recriada pedacinho por pedacinho, traz uma beleza de cair os queixos, somente a visão da mesma já merece uma nota dez, trabalho genuinamente bem construído.
A Disney realmente fechou uma época da animação com maestria, deixando em falta esse tipo de obra que nos deixa saudade, com tanta coisa superficial que tem sido lançada hoje em dia, trazendo efeitos de última geração, mas conteúdo zero.
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