A paixão descoberta involuntariamente é sem duvida um dos maiores clichês explorados em comédias românticas. Nele o protagonista, em determinado momento da narrativa, vê sua visão particular e pessoal acerca do mundo se desconstruir ao encontrar aquele alguém especial.
Inicialmente reconhecemos o casal como pessoas opostas ou incompatíveis, seja no quesito econômico, social ou até mesmo ideológico, servindo assim como pretextos fáceis tanto para a especificação do gênero, quanto para a dramaticidade progressiva. No caso do filme O crítico (El Crítico, 2013), as limitações que assombram esse tipo de conteúdo ganham forma pela utilização deslocada e rude da metalinguagem no qual tenta, sem sucesso, achar uma reflexão digna sobre o futuros caminhos do cinema.
Víctor Tellez (Rafael Spregelburd) é um crítico de cinema de opinião pessimista e pouco social. Enquanto tenta organizar sua vida familiar e financeira acaba por conhecer Sofia (Dolores Fonzi), levando-o a entrar em conflito com as emoções sentidas devido a mulher.
É perceptível observar influências de filmes de baixo orçamentos e de diretores independentes no longa realizado pelo cineasta Hernán Guerschuny. Jean-Luc Godard, figura esquecida até pelos estudantes de cinema e que ultimamente compartilha das mesmas opiniões do crítico do filme, vem em mente logo nas primeiras cenas exorcizadas por frames pretos e brancos, e a desnecessária narração em off ditada em francês.
Diferentemente, entretanto, de Wood Allen ou do próprio Godard, Guerschuny se gruda em referências dos autores aclamados e parece não querer soltá-los. O crítico segue enquanto desconstrução, mas se perde no caminho por não se definir como identidade própria, o espectador fica a deriva por uma colagem filmada toda com certo distanciamento prejudicando, e muito, a empatia com os personagens e seus dramas, que já por si só são mal apresentados e desenvolvidos, e não é apenas nas subtramas, tão rasas e descartáveis, que o filme demonstra problemas.
Seria previsível culpar o artificialismo dos personagens pelas atuações mornas do elenco ou o roteiro escrito por Guerschuny. Na verdade boa parte desse peso se encontra no jogo de câmera e a de montagem tão sem identidade e impessoal.
Em um plano especifico, vemos Tellez fazendo o café da manhã para Sofia após os dois terem transado pela primeira vez. A comida sendo colocada na chapa é sobreposta em primeiro plano enquanto observamos o fogão no fundo. Em um movimento, mecanizado e visivelmente dirigido, o personagem coloca o utensílio no fogo. Se tudo o que é enquadrado em cena deve ser utilizado para levar a história para frente, sabemos então que o ato será mais tarde usado como forma de interação dos personagens, o que ocorre exatamente em seguida.
A economia dos gestos capturados em um único take denuncia o caráter preguiçoso e pouco original do filme, enquanto a necessário de dialogar o que acabamos de ver serve para não termos qualquer dúvida acerca do estado de espírito dos personagens. Nunca que John Cassavetes com sua câmera fixa e catártica seria tão medíocre ao mostrar um movimento ou diálogo sem nos indicar novas facetas de personalidades. Mas talvez esse seja uma das maiores síndromes dessa geração de cineastas, indivíduos tão arrogantes quanto Tellez crescidos pela imagem gratuita e digitalização sem disciplina. Essa homenagem ao cinema disfarçada de crítica e ironia tende ser pejorativa, fofa e engraçadinha, pra não dizer também limitada e sem talento.
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