Curioso Caso de Benjamin Button, O
“Eu já te contei que fui atingido por um raio 7 vezes?”
Para terminar, gostaria de acrescentar que, assim como a visão dos grandes diretores deve ser mantida durante um filme, a visão de cada um sobre tal fábula também. Só assim, o respeito sobre pontos de vistas diferentes pode surgir, em um uníssono. Talvez isso seja possível somente no mundo de Benjamin Button, mas seja em qual realidade for, a principal lição de O Curioso caso de Benjamin Button é para nos mostrar, mesmo falando sobre morte e nostalgia, que a vida é bela realmente, e que se dane o que vai vir. É por isso que o presente se chama presente.
Como em toda vida, há muitos “subplots”, ou seja, pessoas que vão e voltam, e às vezes nos perguntamos: Porque eu conheci aquela pessoa, se nunca mais a vi? Isso acontece com todo mundo... Como em toda vida, há altos e baixos. Porém, tecnicamente, não é exagero afirmar que o filme é um dos maiores primores que o cinema já possuiu. Estamos vivendo em uma era cinematográfica de pura expansão técnica, e talvez por isso seja essa a versão definitiva da história: A visão sobre a morte inevitável de Benjamin, e principalmente a qualidade artística. Ganhou, muito merecidamente, três Oscars 2009, tais quais direção de arte, maquiagem e efeitos visuais:
-Direção de arte: Querendo manter uma fidelidade canina ao conto de 1922 , Fincher e Roth sempre pensaram em filmar em Baltimore, aonde se passava a história original. Mas o roteiro épico começava em 1918 e terminava em 2005, com a chegada do furacão Katrina, exigindo uma cidade com apelo histórico mais amplo. Nova Orleans, um lugar místico aonde um bebê pode SIM nascer em idade avançada, e ir rejuvenescendo em um asilo. Realmente, a direção de arte retrata desde a época antiga da cidade até próximo ao Katrina devastar o lugar. Sem contar o trabalho detalhado de reconstituição e evolução de época em diversas partes do mundo, como em Paris, por exemplo. Até mesmo dentro de uma embarcação, ou em um bordel, tudo remete as cores frias ou melancólicas que Benjamin Button vê a vida, e ao período clássico do conto de Fitzgerald.
-Maquiagem: Dos três Oscars, o mais merecido! Logo no primeiro take, nós já ficamos de queixo caído ao ver a belíssima atriz Cate Blanchet em um rosto lotado de rugas e quase deformado pelo tempo. Mais adiante, vemos ela novamente idosa, com truques perfeitos de maquiagem, que adicionadas com um figurino clássico, fica impossível de imaginar que é algo plástico. O resultado fica épico como há muito tempo não se via no cinema, apesar de Brad Pitt morrer de medo em passar horas e horas sendo maquiado para virar em algumas cenas alguém mais velho. O fato é que mesmo idoso, ele continua charmoso e elegante. Valeu o esforço!
-Efeitos Visuais: Nas cenas iniciais, seria impossível maquiar um bebê para ele ficar com uma aparência extremamente velha. E assim por diante! “O que os técnicos da Digital Domain fizeram foi pegar a cabeça de Brad, digitalmente, e colocar em cima da cabeça de um ator mais velho, ou mais baixo”, disse David Fincher. A pós-produção de O curioso caso de Benjamin Button foi de quase um ano, e exigiu muito dos atores, que precisavam passar horas fazendo captura de performance, com máscaras digitais, e encenando com o Benjamin Button idoso em um fundo azul. Cinema é sacrifico, alguém deve ter dito isso antes de mim.
Vamos ao detalhe mais atrativo de todos, um detalhe que todos adoram falar sobre o filme: As óbvias semelhanças com Forest Gump. Primeiro: O roteirista de Button é o mesmo de Forest. Segundo: A internet só tratou de aumentar essas semelhanças. Realmente, há muitas similaridades, porém os pontos de vistas são bem diferentes. Forest era sobre a vida, sendo um ciclo inesgotável de escolhas, o otimismo e a inocência, mas Button foi sobre a vida, sendo um ciclo inquestionável da morte, e como a vida ainda deve ser aproveitada e pode ser bela através de um segundo olhar. Uma fábula moderna que não é nostálgica, mas é sobre nostalgia, diferente de Forest Gump. Isso com certeza reflete a maturidade de Eric Roth como ser humano, antes de como roteirista. Porém, o filme demonstra a maturidade de Fincher como diretor, e Brad Pitt como ator, antes de seres humanos, no bom sentido, é claro. Nada pode ser mais agradável em um filme do que o que acontece aqui: Direção e atuações em total sintonia, nos entregando um filme sobre o tempo, amor e morte. Amor, que se for verdadeiro, dura uma vida inteira, talvez pra sempre.
O Curioso Caso de Benjamin Button foi uma fábula realizada em 2008, para se amar ou odiar. Não conheço ninguém, mas gostaria de conhecer, que apenas admira ou não gosta do filme. Todos os comentários que chegaram aos meus ouvidos giram em torno do “É perfeito, o melhor do Fincher” com “É uma grande besteira, facilmente esquecível”. Talvez, no final das contas, o filme se torna enfadonho por ser muito longo e com passagens desnecessárias, e também se torna apaixonante por seu lirismo em retratar um homem que nasce velho e morre jovem, preferindo esse tal lirismo do que a bizarrice natural de uma situação como essa, adaptada de um maravilhoso conto de Scott Fitzgerald, de 1922. Na verdade, essa adaptação começou muito antes de David Fincher pensar em dirigir o filme, mas nos anos 1990, é óbvio que os recursos digitais ainda não davam a possibilidade de usar a captura de performance como hoje em dia. Truques de maquiagem ficariam falsos na tela, e usar vários atores para interpretar toda a vida de Benjamin Button fizeram com que o filme ficasse caro, e, é claro, esquecido em uma gaveta qualquer de Hollywood. A fantástica história aos avessos passou pela dupla Spike Jonze, Charlie Kauffman, Ron Howard, Robin Swicord, mas foi com Eric Roth e David Fincher que tudo se tornou possível, sendo que Fincher ficou encantado com as possibilidades de tal história e resolveu filmar de qualquer jeito.
Pra começar, há verdades inquestionáveis no cinema! Uma delas, é que há certos filmes que é impossível fazer análises críticas, imparciais, frias, ressaltando os defeitos e qualidades – espero que no futuro, os críticos mais conservadores mudem esse estilo “certo –errado” de pensar sobre um filme. Algumas análises simplesmente são impossíveis de serem feitas sem certa predileção, certo calor e afinidade que tal filme despertou a alguém. A pior coisa que pode existir é ter vergonha de admitir que aquele filme, aquele que ninguém gosta, é o seu predileto. Por alguma razão, e essa razão merece ser creditada. Algumas pessoas adoram chorar vendo um filme, se assustar, gargalhar, tomar lições de vida, etc. Até porque, Cinderela Baiana é uma ótima escola sobre “O que não fazer em um filme para que o seu filme deixe de ser um filme”. Então, porque difamar alguma obra entre o estilo “certo e errado”? Isso pode ser cafona demais. E se nós pensássemos mais com o coração, sobre a arte? Impossível que ninguém nunca tenha “pensado” sobre isso, assim.
“Eu já te contei que fui atingido por um raio 7 vezes?”
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário