O Curioso Caso de Benjamim Button é um grande evento cinematográfico, aliando uma história fantástica a um dos maiores diretores de nosso tempo, levando o público a embarcar em uma maravilhosa e, igualmente interessante, trama recheada de emoção e surpresas. Disparado, o momento mais divertido do filme é seu 1/3, onde o roteiro escrito por Eric Roth, o roteirista de Forest Gump: O Contador de Histórias, partindo do conto de F. Scott Fitzgerald, nos apresenta o curioso e instigante crescimento de Benjamim, um bebê que nasceu envelhecido, onde este, ao longo dos anos, irá retroceder e ficar cada vez mais jovem. O público torna-se réfem de uma história tão chamativa e interessante, que o brilhante diretor David Fincher, de grandes obras cinematográficas como Clube da Luta (1999), não tem o menor trabalho em deixar tudo mais leve e despretensioso, com o desenvolvimento e relação dos personagens sendo construído de forma bem calma e suave. Os planos usados pelo diretor são belíssimos, bem como a utilização da fotografia, deixando o filme com aspectos serenos e super apreciáveis.
O personagem cresce dentro de um asilo, onde Queenie, interpretada por Taraji P. Henson, o comanda. Não poderia ser um lugar melhor para o desenvolvimento de nosso personagem. Apesar de estar com uma aparência de um velho de 80 anos, é uma criança insegura e curiosa por dentro, pronta para descobrir o mundo. Crescer naquele lugar, com pessoas maduras e experientes ao seu lado contribui de forma impressionante para o desenvolvimento de sua consciência, bem como sua relação com demais personagens e sua visão de mundo. O personagem em determinado momento do filme, mesmo que sua aparência nos engane, ainda é um jovem de cerca de 20 anos, e impressiona o modo como lida com as pessoas e as compreende, fruto de vários anos vividos no asilo, assimilando os trejeitos e experiências, que só são permitidas obtê-las por quem já passou por inúmeras 'batalhas' e situações durante a vida.
Com efeitos especiais de primeira qualidade, sem contar a primorosa Direção de Arte (Ambos vencedores do Oscar em 2008), torna-se fácil acompanhar a trajetória do 'garoto' Benjamim e sua descoberta do que é o mundo! A ótima maquiagem é captada logo de cara pelo público, que vislumbra momentos de puro encanto, acompanhando o personagem nas mais diversas experiências. Como o próprio nome do filme, é curioso e instigante acompanhar Benjamim, em sua trajetória ao “contrário”. Porém as coisas começam a ficar um pouco mais desinteressantes ao longo que a maquiagem e os efeitos visuais vão diminuindo, restando apenas o próprio Brad Pitt, 'de verdade', digamos assim.
O que era fascinante, agora já perde seu brilho. O curioso torna-se agora comum. Isto se dá, principalmente pelo fato de agora estarmos acompanhando o ator em carne e osso, tornando-o 'real', o que perdeu o charme, outrora colocado. Pitt é um grande ator, mas nesta obra, onde seu personagem era uma figura unidimensional, cai agora no óbvio, caracterizado pela figura do mesmo, aliado também a certa falta de carisma perto daquele personagem dos computadores. Quanto mais o personagem rejuvenesce por 'fora', ao mesmo tempo o mesmo vai tornando-se mais experiente, mas ao contrário de antes, que víamos um menino na pele de um velho, agora não conseguimos ver um velho na pele de um jovem! Pitt não deixa seu personagem melhor, não o desenvolve. A impressão que fica é que apenas sua 'beleza' se sobressai, deixando o personagem mais atraente. Quanto mais jovem o personagem se torna mais fica difícil separar sua personalidade de sua aparência.
Muitos elementos do filme acontecem para preencher o grandioso espaço/tempo em que Benjamim vive, outras são rapidamente exploradas e não são citadas novamente. Podemos lembrar cenas em que são necessárias para seu desenvolvimento, como os encontros com Elisabeth, interpretada pela sempre eficiente Tilda Swinton, e com seu Pai, apesar de que muita coisa, em ambos os momentos, são puramente enchimento para a duração do filme. Grandes furos na história são facilmente percebidos, onde sem dúvida uma das maiores, é o momento onde a filha de Benjamim, Caroline, questiona sua mãe, no leito de morte, sob esta nunca ter lhe contado que tinha dançado antes. O problema é que em determinado momento, a mesma aparece, mais nova, ao lado de sua mãe, em SUA academia de Balé!! Outros fatores do roteiro, como o furacão Katrina, e sub-tramas, a maioria envolvendo Daisy são meramente para encher lingüiça dentro da trama!
As interpretações estão mais charmosas e interessantes na primeira metade do filme, como dito anteriormente. Benjamim e sua mãe adotiva Queenie estão em sintonia, mas ao longo do filme, até mesmo esta característica se perde, com a figura de Pitt se sobressaindo sob todos. Daisy, vivida por Cate Blanchett, torna-se ao longo da projeção uma personagem sem carisma, muito menos interessante, bem como toda a segunda metade do filme, pra falar a verdade. Claro que sua relação com o protagonista é bastante explorada pelo roteiro, mas em poucos momentos o público presencia momentos honestos e de interpretações sinceras de ambos atores. Da metade para a frente, a impressão é de que as relações tornaram-se mais superficiais, embora o grande preenchimento de situações e sub-tramas, colocados pelo diretor, disfarça e engana.
Se você optar em assistir este filme, prepare-se para assistir dois filmes em um só! Você se pegará instigado com o desenvolvimento de Benjamim, construído de forma calma e serena, com efeitos visuais e maquiagens deslumbrantes, sem mencionar o show de Direção de Arte. Ao longo da projeção, perceberá que o foco de antes, da descoberta e curiosidade, mudará para dar lugar a relações não tão bem construídas, que soam superficialismo, deixando uma ligeira sensação de frustração em seu desfecho, mas que não é totalmente suficiente para destruir a bela obra levantada por Fincher, em momentos de puro brilhantismo e criatividade.
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