Ótimos efeitos embalam 'O Dia Depois de Amanhã' que usa de uma situação surreal para mostrar as consequências do ato humando impensado.
Apesar dos últimos trabalhos de Roland Emmerich terem pisado na bola em dar preferência aos efeitos do que a coesão do roteiro, o diretor alemão virou sinônimo de "cineasta dos filmes catástrofe". Sendo seu primeiro trabalho, 'Independence Day', com Will Smith e Bill Pullman, que prima mais pela técnica, uma vez que seu roteiro é desorganizado ao extremo, até o seu mais último fracasso '10.000 A.C.', onde nem mais os efeitos impressionam e são ocultados pela hilariedade e redundância da narrativa, Emmerich deve ter acertado em pelo menos uma produção. Talvez seja o caso de 'O Dia Depois de Amanhã', que conta uma história um tanto exagerada das consequências climáticas que a ação do homem descontrolada provocou em todo o mundo.
Jack Hall (Dennis Quaid) é um climatologista de Washington D.C. e trabalha para o governo americano, ele é casado com Lucy (Sela Ward), uma médica especializada em tratar de crianças com câncer. Os dois tem um filho extremamente inteligente chamado Sam (Jake Gyllenhaal), que após entrar para um grupo de pesquisa, viaja a Nova York com seu amigo Brain Parks (Arjay Smith) e a garota que ama, Laura Chapman ( Emmy Rossum) para participarem de um concurso de perguntas e respostas entre escolas americanas. Enquanto os três seguem seu cotidiano de competição na maior cidade dos Estados Unidos, Jack está na capital trabalhando, quando descobre que as balsas que medem as temperaturas da corrente marítima do Atlântico Norte estão medindo temperaturas muito abaixo do normal. Quando ele se aprofunda mais, descobre que o aquecimento global está fazendo derreter as calotas polares do Ártico e a água doce que cai na água está fazendo com que ocorra a dessalinização dessa corrente, que é importante para o equilíbrio climático dos Estados Unidos e da Europa. Quando ele uni a queda brusca das temperaturas das balsas com os vários casos de anomalias climáticas em todo o mundo, que incluem tempestades de neve muito acima do normal, chuva de graniso com pedras de gelo do tamanho de bolas de basquete, a quebra de uma platamorfa de gelo imensa no Ártico e uma série de tornados que devastaram a cidade de Los Angeles, ele percebe que a humanidade está a beira de uma mudança climática, que ele previra para mais de 100 anos depois da data da pesquisa. Se dando conta que errara nos cálculos, ele vê que pode ser necessário evacuar todos os estados do norte dos Estados Unidos antes que fosse tarde demais, mas quando esse momento passa, todos que ainda continuavam no norte não teriam mais para onde correr. Mas tudo fica ainda mais difícil quando Jack resolve ir atrás de seu filho Sam, em Nova York, que foi vítima de chuvas de mais de três dias seguidos e uma onda gigante que deixou a cidade em baixo d'água.
A base do roteiro de 'The Day After Tomorrow' já tem erros que jamais poderiam ter alacancado o restante do filme, se fosse preciso e necessário a coerência da ficção com a realidade. A dessalinização da correste do Atlântico Norte jamais poderia dar em uma nova Era Glacial, coisa que já teria acontecido devido ao grande número de gelo que caiu no mar nos últimos anos. A última Idade do Gelo, que aconteceu há mais de dez mil anos não acabou com a humanidade e certamente essa também não acabaria. A partir do momento que tal coerência foi descartada, passamos a avaliar a história como se tudo isso fosse possível. Em um tema assustadoramente trágico, o roteiro assinado tanto por Emmerich quanto por Jeffrey Nachmanoff possui subtramas de um superficialismo impressionante, como a dos lobos (facilmente descartadas) e cenas ridicularmente previsíveis, que tem a arte competente fora capaz de disfarçar a insuficiência da narrativa, como a cena em que o faxineiro caminha até uma porta e descobre que metade de um edifício fora engulido por um furacão em pleno centro de Los Angeles (se isso fosse possível, o prédio teria caído, mesmo com metade ainda de pé) e as paqueras do personagem Jason (Dash Mihok), em cima da funcionária da NASA, Janet Tokada (Tamlyn Tomita). Mais uma vez, o roteiro dos "filmes catástrofes" de Roland Emmerich estragam um filme que poderia ser visto, pelo menos pelos seus ótimos efeitos visuais, forte do diretor alemão, que não faz seu trabalho como deveria em nenhum filme, nem mesmo neste.
Mas se tem algo de bom neste 'O Dia Depois de Amanhã' são justamente os seus magníficos efeitos visuais. Desde a cena assustadora dos furacões de LA até a onda gigante sobre a cidade de NY, tudo é incrivelmente (e digitalmente) bem feito, e são todos os efeitos acompanhados por um trabalho sonoro caprichado, que parece ter pouco destaque devido a uma trilha sonora típica de cenas com situações catastróficas. Neste ponto, Harald Kloser
foi muito feliz ao compor tantas músicas instrumentais com nitidez e fidelidade. A cena final, em que aparece Nova York coberta por camadas e mais camadas de gelo grosso e a Estátua da Liberdade parcialmente coberta é um dos pontos fortes do filme.
Emmerich é considerado também um diretor péssimo para orientar o seu elenco. Todos neste filme estão em atuações se não medíocres, sustentadas pelo talento que nasceu com eles. Jake Gyllenhaal (espetacular em 'O Segredo de Brokeback Mountain') tem talento de sobra e soube o que fazer com a falta de preparo do diretor.
'O Dia Depois de Amanhã' por incrível que possa parecer não saiu da minha mente desde o dia em que fui vê-lo no cinema. Apesar de seu diretor incompetente e um elenco sem orientação, o filme funciona pelas suas belas imagens. Mas um conselho, não se deixe levar pela falta de coerência do roteiro, isso já é de praxe em filmes de Emmerich e só vai atrapalhar o seu divertimento. Veja o filme como um filme de ficção e não como um retrato do que poderá acontecer com a humanidade caso o homem não parar para pensar em seus erros agora, que foi essa a intenção do diretores e dos produtores, sem pé e muito menos sem cabeça.
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