Dirigido pelo versátil Robert Wise (de romances, ficções, suspenses, musicais..), O Enigma de Andrômeda nos traz há um tempo que já não existe: o tempo em que filmes de ficção eram feitos com carinho. Exemplos como O Enigma de Outro Mundo (1982), A Mosca (1986) e Planeta dos Macacos (1968) parecem cada vez mais raros no cinema norte-americano, que tornou o gênero um pequeno escape para sustos baratos com uma fotografia escurecida - não, aqui tudo é perfeitamente detalhado ao mínimo exemplar. A edição chega a ser primorosa em alguns momentos, fatiando a imagem da tela para saber o que os personagens estão vendo através de janelas ou em que andar estão em um elevador que desce camadas e camadas abaixo do chão. Tudo é bem colorido em O Enigma de Andrômeda, que não possui esse nome por causa da galáxia espiral, e sim por causa de um ser extraterrestre.
Até mesmo os filmes soviéticos distópicos e/ou profundamente filosóficos como Solaris (1972) são difíceis de se ver vindo do velho continente atualmente, é um momento ruim para a ficção. Talvez depois de algumas gerações que não presenciaram às viagens à Lua e o fim da Cortina de Ferro em 1989 dando fim a paranoia do apocalipse nuclear isso seja uma resposta de seu tempo. No cinema, ultimamente vejo poucas exceções em meio a tanta bagunça, Interestelar (2014) e Eu Sou a Lenda (2007) são belas exceções dentro de suas limitações, mas é um tiro no escuro, pois nem mesmo as bobagens feitas atualmente tem o brilho e o coração das bobagens de ficção de décadas passadas..
É sobre um satélite que cai em uma cidade com menos de 70 habitantes numa região quase inabitada do sul dos Estados Unidos, muito bonita, a cidade parecer ter mais m² de cemitério do que de casas, típico de regiões isoladas das grandes metrópoles, o que causa uma atenção maior por causa do espectador ver aquele lugar tão fascinante ser abalado de tal maneira. Esse satélite começa a causar estranhas mortes e um grupo de cientistas tenta estudá-la daí em diante. Para à frente, O Enigma de Andrômeda se mostra cada vez menos como um suspense ficcional para um suspense científico (a tensão toda permeia sobre o que é que contém no satélite caído), acertando em cheio para os futuros estudos sobre o espaço, onde, para nós humanos, parece cada vez mais fácil encontrar qualquer tipo de vida em formas microscópicas do que do tamanho imaginado décadas antes.
A bactéria verde mostrada, apesar de hoje parecer ridícula aos efeitos especiais disponíveis, custou 250 mil dólares para ser criada. A direção de arte foi muito elogiada na época, e ainda hoje é evidente aos olhos o quanto o filme foi bem trabalhado. Wise sempre se mostrou detalhista a mise en scène, mas o filme mostra problemas no roteiro (por que a bactéria consumia plástico? por que ela não consumiu o laboratório, com tanta borracha e afins?) e de continuidade, dando saltos desnecessários e despreparando novos acontecimentos que vêm a seguir - isso sem contar o final totalmente abrupto.
Erros aqui, acertos lá, o significativo é que O Enigma, como filme de ficção, é deliciosamente fácil de acompanhar, mesmo com os diálogos complicados que os químicos devem ter adorado, deixando claro que em momento algum tenta subestimar a capacidade de sua audiência.
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