UMA HERESIA, DE FATO
Dirigido por William Friedkin, O Exorcista (The Exorcist, 1973), baseado no livro de William Peter Blatty e roteirizado pelo próprio escritor, causou arrepios no mundo todo com sua estória assustadora, tensa, repleta de personagens com um background carregado e de apuro técnico excelente, sendo indicado a 10 Oscars da Academia, levando dois para a casa. Quatro anos se passaram e, enfim, uma sequencia também baseada noutro livro de Blatty chegava às telas do cinema. Roteirizado por William Goodhart, com trilha sonora do mestre Ennio Morriconne - parceiro habitual de John Carpenter - O Exorcista II - O Herege (The Exorcist II - The Heretic, 1977), de John Boorman, é muito mais pretensioso e aberto que seu antecessor, o que, de maneira alguma, significa melhor. Pelo contrário, joga fora o que de melhor tinha no filme de Friedkin: a atmosfera.
Regan (Linda Blair) agora é uma bela jovem, vivendo em Los Angeles, sob os cuidados de Sharon (Kitty Winn, a jovem governanta do primeiro filme) e da Dra. Gene Tuskyn (Louise Fletcher), psiquiatra que cuida de crianças problemáticas e traumatizadas e leva uma vida aparentemente normal e tranquila, sem lembrar-se dos detalhes sombrios dos acontecimentos em Georgetown, quatro anos antes. Parelalamente, o Padre Phillip Lamont (Richard Burton, com a maior pinta de James Bond) é designado para investigar a misteriosa morte do Padre Merrin (Max Von Sydow) durante o exorcismo de Regan. Em uma sessão de hipnose conjunta entre Padre Lamont e Regan, para alcançar suas memórias e descobrir o que houve naquela noite no quarto da jovem, ambos acabam despertando Pazuzu, o demônio que havia possuído Regan (e não o Diabo como se acreditava). Segundo as visões, Merrin já teria derrotado Pazuzu no passado, na cidade de Jepti, na Etiópia. Buscando extinguir de vez esse mal, o Padre Lamont parte para Jepti em busca de Kokumo (James Earl Jones, e sua poderosa voz de Darth Vader), um jovem que teria sido possuído e resistido à Pazuzu e a quem o demônio parece temer.
Tentando buscar as origens de Merrin e Pazuzu (e falhando, assim como a prequel de 2004), o filme de Boorman abre mão de uma das principais características do filme anterior, que era aquela sensação claustrofóbica e angustiante. Passando-se em vários locais diferentes (África, Washington e Los Angeles) o filme não foca em nenhum deles, dividindo as atenções ao decorrer da trama. Aliás, a ambientação da África é muito artificial, sendo nítida a reprodução em estúdio quase na totalidade das cenas, mesmo resultando em algumas imagens bem bonitas, como o templo sagrado nas montanhas.
A tensão, ponto forte do primeiro O Exorcista, praticamente inexiste aqui e o roteiro opta por algumas escolhas duvidosas e fáceis, como as fracas e estranhas cenas de hipnose conjunta, ou quando Padre Lamont descobre um princípio de incêndio quase que por mágica, Regan viajando de camisola no metrô. Há também conveniência de a polícia, os médicos, os bombeiros e os curiosos aparecerem somente depois de os personagens deixarem o local onde a batalha aconteceu. Isso sem falar em algumas ações estúpidas dos personagens, principalmente do Padre Lamont, que sai falando que conecta-se com um demônio pra qualquer um, seja pra um piloto de avião ou um líder religioso africano.
Mesmo com boa interpretação de Richard Burton, todas as atenções naturalmente se voltam para Linda Blair, esperando uma atuação próxima daquilo visto anteriormente. Mas não passa nem perto. Blair interpreta Regan no piloto-automático, embora sinta-se muito mais à vontade nas cenas em que está sob a influência de Pazuzu. A personagem de Louise Fletcher, Dra. Gene Tuskyn, tenta suprir a sentida ausência de Ellen Burskyn e sua Chris McNeil e, embora seja um ponto de equilíbrio às ações dos demais personagens, não possui o apelo dramático de uma mãe desesperada, tendo inclusive, um momento de flerte com o Padre Lamont.
A direção é bastante irregular também, e assim como o roteiro, insiste em vícios irritantes, tal como a sobreposição de imagens, principalmente nas cenas de hipnose. Ou as cenas que acompanham o bater de asas dos gafanhotos e um festival de cenas aleatórias em solo africano, sempre ao som daquele quase insuportável cântico desde a abertura. Mas também acerta em certos planos, como Lamont no antigo quarto de Regan. A cena da queda de um sacerdote do penhasco poderia ter sido um pouco melhor trabalhada para não parecer tão artificial, e a cena de Regan espantando os gafanhotos ao final podia ter ficado de fora, de tão ruim.
A edição de Tom Priestley talvez seja o ponto mais problemático da obra. Os cortes de uma cena para outra são feitas de maneira muito rápida, efetuados assim que a última sílaba de uma frase termina e já saltamos para outra cena. E a cena do exorcismo de Kokumo possui cortes muito mal empregados, denunciando uma falha em conjunto da direção e da edição.
Um belo trabalho da produção ficou por conta da maquiagem de Dick Smith, que embora sequer chegue perto do trabalho anterior, principalmente ao recriar as cenas de Regan possuída, merece elogios ao deixar Max Von Sydow com aparência muito mais jovem, retratando seu período na África (é óbvio que o talentosíssimo ator contribui muito para isso com suas expressões e seu comportamento em cena).
No fim das contas, O Exorcista II - O Herege é tão ruim que rivaliza com terrível O Exorcista - O Início (The Exorcist - The Beginning, 2004) como o pior exemplar da série. E larga atrás, pois aquela atrocidade pelo menos possuía uma técnica interessante e em O Herege, essa a parte fica devendo. E muito.
A pior sequência pra mim é REC 2 - Possuídos!! E olha que Rec nem é um clássico!!!
[REC] é interessante... Ao lado de pior do [REC] 2 - Possuídos caro Cristian é a versão americana com a Jennifer Carpenter aquela li sim é de chorar... De tristeza...!
O REC original é obra-prima!!!
Não sei se considero OP, mas é um fimaço, com certeza!!