O cinema dos irmãos Coen, que transforma a casualidade em anormalidade sem sair do “real”, encontra em O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998) uma libertação. The Dude(Jeff Bridges) é representante de toda uma geração, que em encontro com o cinema dos Coen, parece não só potencializar a fábula cômica dos irmãos, mas também trazer à tona o humor através do surreal, que parece ter sido esquecido durante o passar dos anos.
Como fez Martin Scorsese em Depois de Horas(After Hours, 1985), a comédia assumidamente surreal, sem rumo concreto e a perdição de um jovem na noite nova-yorkina em Taxi Driver(idem, 1976), os Coen utilizam sua marca para chutar o balde de vez. Praticamente não se sabe o que de fato é sonho ou é realidade, é um encontro bruto entre o delírio e a realidade que se constrói através dos temas que tanto debatem e dialogam com uma geração. Dude desde o começo, é um vagabundo maconheiro que valoriza suas amizades absurdas. Apesar de ser um filme com traços “scorsesianos” é essencialmente um filme dos irmãos Coen, possui todo o instinto sem rumo que ao encontrar a persona de Jeff Bridges, arruma um modo para também discutir com a realidade de uma geração que nascia ali, cada vez mais.
O humor de Cheech e Chong, as noites hippies, e toda a década que tinha nascido nos anos 70 e falecido nos 80, encontra na estética dos Coen, um modo para falar com uma nova geração, sem ser antiquado. A comédia dos Coen, assim como havia feito Scorsese à 13 anos atrás, propõe a simples fuga da realidade – proposta esta que, todo filme digno, deve impor – a fuga do cotidiano, da chatice. Por isso aqui, existe todo um trabalho de seus temas já conhecidos em fusão da personagem de Jeff Bridges, The Dude, que apesar de ser um resgate do que havia ficado nos anos 70/80, é também a voz da nova geração que a década de 90 estava presenciando.
A saída da realidade, ofertada pelos irmãos Coen, pura e corajosa, é também a demonstração do que se baseia o cinema deles próprios e do que o cinema, segundo seus pensamentos, realmente é constituídos. Pois assim, que embarcamos em seu filme, nada terá conexão lógica, trata-se de uma sátira de tudo e de todos, um amigo que só sabe falar da guerra do Vietnã, outro que sempre é mandado a calar a boca, uma pintora maluca e ninfomaníaca, um milionário rico tetraplégico, e um estranho caubói ali no boliche. É a fuga da realidade, que precisa ter, os jovens que estavam se “formando” nos anos 90, para quem saiba, um dia a gente veja mais “dudes”.
Não considero um dos melhores do irmãos Coen, The Dude é um excelente personagem, mas o filme é inferior à outros dos diretores.
O texto está ótimo Ricardo, curto e objetivo, sem redundâncias...
Consigo gostar mais desse filme do que Pulp Fiction. É muito foda para ser descrito em palavras. Hilário. Atemporal. Virei fã do Bridges depois desse filme. Um dos melhores personas criados pelos Coen estão presentes nesse daqui e, assim como os filmes do Tarantino, os Coen se fazem dos seus personagens para dar qualidade ao filme. O ambiente e as situações escrotas servem só de pretexto para eles brincarem com seus personagens.
Valeu Alexandre! 🙂
Difícil dizer qual a melhor cena do filme... Mas fico com a apresentação do Jesus Quintana! 😁