É de conhecimento de todos que os faroestes de Anthony Mann são responsáveis por captar um estilo bem diferente daquele apresentado por cineastas como John Ford ou Howard Hawks, que ao invés de construir protagonistas intocáveis, durões e cheios de autoconfiança, nos leva a conhecer toda uma complexidade psicológica que caminha de mãos dadas junto aos protagonistas, dando-lhe uma sobrecarga de emoção acima do que nos acostumamos a ver, além de inserir melancolicamente toda a vulnerabilidade destes heróis. Em O Homem do Oeste, considerado por muitos o grande filme do gênero capitaneado pelo diretor, essas características marcantes se mostram presentes em grandioso estilo, mas que infelizmente conta com uma trama fraca e inegavelmente sem emoção, que retira quase por completo todo o impacto e dualidade de um confronto de personalidades enfrentada pelo protagonista durante todo o filme. Todo este verdadeiro embate moral que acontece dentro da mente de Jones, ao passo que se depara novamente com seu passado e relembra com angústia as consequências desse estilo de vida, é prejudicado de forma brutal pelo roteiro inexpressivo.
Se os personagens são complexos, a história está muito longe disto. O próprio modo de como a trama molda o “retorno” de Jones à sua antiga casa é irretocavelmente ridículo. De forma apressada e sem cerimônia, insere um personagem coadjuvante desnecessário que faz parte do roteiro apenas para ser morto, lá para o meio do longa. Se a intenção do roteirista era promover maior tensão nas passagens que ocorrem um verdadeiro terror psicológico feito pelos capangas de Dock, comete-se um grande erro, em vista de que apenas Ellis é que garante momentos de verdadeira apreensão, a cerca de um possível ataque sexual eminente a qualquer instante, não ocorrido pela presença intimidadora de Jones no local, além da completa insanidade e confusão mental de seu velho tio. Lembrando ainda os péssimos momentos envolvendo os bandidos, que mesmo estando em cena para exercer um domínio numérico que faça tanto protagonista quanto telespectadores permanecerem sem ação e angustiados, não desenvolvem nada além de olhares discretos, ladeados as más intenções de sempre.
Mann explora com pouco otimismo a complexidade e dualidade moral que tomara conta do herói, construindo um sujeito confuso e pouco seguro de suas ações, entrando em conflito consigo mesmo em inúmeros momentos, como aquele em que acompanha de perto e sem reação um mortal pedido do capanga Coaley à sua protegida Ellie. A sutileza presente em passagens como aquela em que o casal está deitado no celeiro, e então Ellie demonstra pela primeira vez apreço pela companha de um homem, já que este não lhe atentou o corpo, mas a protege e guarda com zelo e cuidado, são um dos momentos mais belos do filme. Pena que o desenrolar da trama impeça um desenvolvimento mais complexo desse relacionamento, lembrando que a todo momento o diretor insiste em cortar para detalhes que não contribuem em nada ao filme. O próprio argumento do plano de assalto, os duelos na cidadezinha abandonada e o retorno de Jones para prestar contas com seu tio são risíveis, sem mencionar totalmente previsíveis.
Mesmo com Gary Cooper conferindo vida a um grande personagem, que nos faz lembrar-se de momentos inesquecíveis em filmes como Matar ou Morrer(1952) e Vera Cruz(1954), o roteiro não propicia espaço necessário para sua relação com Ellie seja descontruída através das experiências de vida de ambos, que mesmo sendo pessoas completamente diferentes e em circunstancias opostas, aqueles frágeis e amedrontadores momentos juntos na cabana e celeiro de Dock os uniram e promoveram uma importante reflexão acerca de escolhas e decisões tomadas ao longo de nossa trajetória, bem como as raras oportunidades de saírem de tal situação se apoiando naquilo que nunca tiveram na vida mas sempre objetivaram no fundo de suas almas. Enfim, poderia ser uma obra prima que servisse de referencia a todo um gênero, que construísse um vínculo psicológico entre a figura do herói do oeste com sentimentos que outrora pouco fosse trabalhado ou discutido nos cinemas, embora tenha sua grandiosa parcela de contribuição ao western americano.
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