O CIRCO E A SOCIEDADE
O circo é um atração histórica que atravessou gerações e ainda resiste aos dias de hoje, mesmo em uma sociedade tecnológica que prefere o cinema ou outros tipos de arte. Um dos principais atrativos circenses envolvem animais. Estes, que foram por vezes chicoteados no picadeiro a fim de satisfazer os anseios do público. Por que? Até hoje não se sabe o motivo de tanta humilhação em alguns circos antigos.
Mas antes de fazermos uma análise mais profunda do filme ''O Homem Elefante'', vamos a um breve resumo do enredo. John Merrick (John Hurt) é um inglês que vive sofrendo humilhações recluso em um circo, devido a uma desfiguração em seu rosto e corpo. Um médico (Anthony Hopkins), excelente no filme por sinal, decide ajudar este pobre homem a ser reintegrado na sociedade como um indivíduo normal.
Uma história que soa 'bobinha', mas que funciona muito bem na prática. Tudo é conduzido de forma natural na tela (com um preto e branco charmoso), desde a chegada de Merrick ao Hospital de Londres, onde é tratado pelo Dr. Frederick Treves, até o desfecho da narrativa. É impossível não se comover com a imagem de um homem totalmente deformado tentando aprender a falar e a soletrar palavras com a ajuda de seu novo companheiro. Isso causa um choque. E é aí que o diretor David Lynch trabalha. Por trás de toda a alegoria e bizarrice, há um fundo moral a ser trabalhado. Mas não pense que a tarefa do médico será fácil. Ele terá de enfrentar a repressão do dono do Homem Elefante que só se aproveita dele para fazer dinheiro no circo clandestino. A Inglaterra vitoriana é o pano de fundo desta obra. A sociedade inglesa naquela época era muito preconceituosa e não aceitava o diferente.
Anne Treves, vivida no filme por Hannah Gordon, cria um laço afetivo grande com John Merrick, pelo simples fato de ter pena daquela criatura e por ser esposa de Frederick Treves, ela se vê obrigada, mas depois reconhece que isso a engrandeceu. Ambos abraçam a causa de cuidar daquele pobre homem e logram um êxito louvável nessa tarefa. Destaque para a cena do jantar em que Anne conhece o homem elefante e derrama um punhado de lágrimas com uma sinceridade incrível. As atuações são realmente impecáveis e não é por menos que o filme tenha recebido oito indicações ao prêmio máximo da sétima arte, o Oscar.
‘Eu não sou um animal!” “Eu sou um homem”. É nessa cena, sendo perseguido numa estação de trem, que vemos que o homem elefante vomita o seu maior desabafo. Ali parece que ele ainda não saiu do circo. Parece que ele ainda está numa exibição para o grande público, sendo alvo de ironias e risos. É possível, a partir daí, estabelecer um paralelo entre circo e sociedade. Tratamos o próximo como realmente deveríamos? Fazemos o papel de cidadão ou de espectador? No circo ou nas ruas muitas vezes nossa conduta é a mesma.
O segredo do filme está em nós refletirmos e repensarmos nossas ações. ‘’O Homem Elefante’’ é aparentemente caricato, mas essencialmente emocional. É com o coração que ele mexe mais. O homem elefante sofre e sofre muito. Mas o que nos deixa mais feliz é saber que ele tem um médico que o ama, que enfrenta tudo por ele e quem sabe dá até a vida por ele. Que o ensinou a falar, a ser uma pessoa melhor e, acima de tudo, saber se calar diante da ignorância de uma sociedade hipócrita e que está a todo momento fazendo papel de espectador num circo dos mais mequetrefes.
Mas que belo texto. Pra quem acha que Lynch é só doideta e surrealidade, este foi um dos filmes que mais me emocionou até hoje. A frase "eu não sou um animal" nunca sairá da minha mente. Tanto Hopkins, quanto Hurt estão/são fantásticos.
Obrigado! E quanto as atuações, são na medida certa e sem exageros nas expressões, muito bem lembrado 😁