Não importa a qual gênero pertença, ou quanto é bem sucedido como obra cinematográfica eu sempre vejo um compromisso automático que todo filme que trate de mágica tem; ele já é interessante apenas por tratar sobre esse assunto tão fascinante (para mim) e se o roteiro explora ainda mais esses mistérios envolvendo os praticantes dessa arte, aí eu vou ao delírio. O problema é que eu estava empolgado para ver O Ilusionista, não só por ter como tema esse assunto que eu tanto gosto, mas também porque tudo parecia ter sido feito com cuidado e zelo pelos envolvidos na produção – além de ter ouvido e lido ótimos comentários sobre o filme. E com as primeiras cenas meu estado de espírito se alternava bruscamente entre a empolgação e o tédio.
A premissa em si é bastante promissora por si só: Durante uma de suas performances em sua terra natal, um conhecido mágico chamado Eisenheim reencontra Sophie, uma mulher que despertou a paixão do rapaz logo na infância. O problema é que ela está comprometida com o rico e poderoso Príncipe Leopold. Assim, quando Leopold fica sabendo do envolvimento de sua noiva com o tal ilusionista o primeiro pensamento que vem a cabeça é desmascarar os truques de Eisenheim para prendê-lo por fraude. O plano é frustrado quando os espetáculos apresentam serem reais e não apenas truques.
O roteiro é um ponto bem curioso presente em O Ilusionista: Se por um lado ele constrói a história de forma satisfatória, envolvendo o público na trama e fazendo-o torcer pelo protagonista, por outro ele apresenta diálogos terríveis (“Eu vi muitos mistérios, mas o único que não solucionei foi por que meu coração não a esquecia”) e algumas situações completamente embaraçosas e nada naturais. O roteiro escrito por Neil Burger (que também dirige o filme) ainda monta personagens interessantes; Eisenheim é de longe a figura mais interessante no longa, seus truques despertam interesse no espectador além de nunca esclarecer completamente a questão sobre realmente ter poderes sobrenaturais, além disso a interpretação de Edward Norton é magnífica e consegue dar mais uma camada de profundidade ao personagens.
Em contraponto ao interessante protagonista, temos uma atuação de Paul Giamatti que apesar de não ser ruim não combina com o clima estabelecido pela trama (é frustrante ver os sorrisinhos do ator na última cena, assim como não é convincente o momento em que Uhl se revolta contra seu ‘superior’), e o fato de seu personagem não ser dos mais interessantes e complexos, não ajuda em nada. Moldado de maneira esquemática pelo texto o Príncipe Leopold é o personagem mais fútil do filme, pois além de poder ser reduzido a um simples clichê genérico ele também não tem suas motivações e objetivos bem desenvolvidos pelo roteiro, e por isso a atuação de Rufus Sewell acaba soando boba – apesar de ter seus bons momentos.
Por outro lado, a direção de Burger é inteiramente incompreensível e muito tola, e este talvez seja o grande tropeço do longa: Tentando encher o filme de um clima típico de “filme de Oscar”, o cineasta aposta tudo que tem em ângulos tortos (e torturantes) e ainda somos obrigados a ver uma tentativa frustrada – que prejudica ainda mais a produção – de deixar o filme mais refinado usando uma iluminação piegas que sempre foca no que está acontecendo no centro da tela, deixando os cantos escuros. Já tecnicamente O Ilusionista apresenta ser um grande feito: A fotografia excelente de Dick Pope não exagera nem no sombrio e sujo demais nem no grandioso; os figurinos são bem escolhidos e ornam com a construção da época; a trilha sonora, apesar de exagerar em alguns momentos, é sutil o suficiente para causar um certo conforto; e a direção de arte é fenomenal (note, por exemplo, como o corredor que leva a sala do vilão já representa o fato dele ser uma figura forte, ameaçadora e que não liga para as consequências de seus atos, além é claro de ser beneficiado com eles).
Infelizmente, ainda encontramos outro erro gravíssimo no filme: Deixando de lado um pouco o fascínio pelo mundo do ilusionismo, o roteiro foca no romance água com açúcar, que mesmo funcionando em algumas breves passagens, acaba atrapalhando o desenrolar da narrativa, e consequentemente seu ritmo. E mesmo que o desempenho de Jessica Biel seja bom, Sophie não é simpática em nenhum momento apesar de ter motivos de sobra para ter. Além disso, os rumos que a historinha romântica toma são previsíveis (com exceção da pequena reviravolta final, que ocorre na última sequência), e com isso, a dinâmica entre Biel e Norton não consegue segurar a platéia interessada no destino da relação dos dois. E como já disse, o roteiro desvia a atenção para esse elemento dispensável e muito mal resolvido e o romance tem um tempo exagerado em tela.
Cafona ao extremo (em certo momento vemos as mãos do casal apaixonado sendo separadas por guardas brutamontes), com narrações em off desnecessária e pouco desafiador a inteligência, O Ilusionista acaba sendo – apesar dos problemas - uma experiência moderadamente agradável (mesmo que seja detestável em alguns pares de minutos) porém que é totalmente passável e esquecível. É recomendável quando houver falta de opções, caso contrário aposto que você consegue encontrar um filme melhor.
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