Com toques melodramáticos, O Impossível, longa dirigido por Juan Antonio Bayona é um filme que serve como documento histórico, retratando fielmente uma história verídica, com todos os requintes que Hollywood pode conferir. Digo isso porque se trata de um fenômeno natural devastador, um tsunami que atingiu a Tailândia em 2004 e dizimou tudo o que estava instalado na areia e depois dela. Os artifícios da Sétima Arte permitiram com que a equipe técnica do filme recriasse, quase que com perfeição, a onda gigante.
Além da parte visual, o filme merece destaque nas atuações. Apesar de situações extremamente clichês e subjetivas, a película ganha pontos com a performance de Naomi Watts. Além do nome que carrega consigo, a atriz, que já encarara papéis desafiadores, aqui tem de incorporar uma dura missão, dar vida a Maria, mãe de três filhos, que viaja com o marido de férias e sobrevive a um desastre. Sua força de vontade é resumida no olhar sofrido e inconstante de Watts, mulher que consegue, honestamente, se jogar na personagem.
Além dela, Tom Holland, que futuramente aparecerá nas telonas como o Homem-Aranha, é muito verdadeiro em suas feições. Guerreiro, ele ajuda a mãe a salvar os irmãos e a procurar o pai, que desaparece com a primeira enchente. Ele carrega a responsabilidade de atuar como um falso protagonista, já que o que mais se destaca mesmo é o sentimento de superação. Ele é realmente o personagem principal em O Impossível. Uma família, alojada num belo resort, vê a morte de perto por um simples detalhe, a força da natureza. Não somente exuberante, ela é cruel, muitas vezes, e não avisa para onde propagará sua energia, seu chiado.
Com vários ângulos preguiçosos e esquisitos, contudo, o filme se arrasta em se limitar a apenas um fator, o do vislumbre. Principalmente nas cenas iniciais, o cineasta abusa de ângulos bizarros, como se estivesse num filme essencialmente documentário, de arquivo. Essa complicação, entretanto, não abala as estruturas sólidas do roteiro que, com suas reviravoltas, prende a atenção do espectador do início ao fim. Os intérpretes secundários no filme pecam por sua fraca ou quase inexistente atuação. O todo é mesmo quem salva o filme.
Ewan McGregor, famoso pelo papel de Obi-Wan na saga Star Wars, faz, pra não dizer mais, um competente pai de família. No fim do filme é que ele mais aparece e interfere no enredo, quando a família se divide, cada um vai pra um lado. Mãe tem de procurar ajuda médica, filho assume uma falsa figura paterna para salvar a materna e esse jogo se desenrola até o belo clímax no hospital precário no centro da ilha, onde as histórias se cruzam de maneira analítica e mecânica. Tudo tinha que acontecer daquele jeito, redondinho, mas que, de certa forma, permitisse que lágrimas caíssem dos olhos daqueles que estivessem sentados na poltrona. Esse elemento de persuasão é um dos pilares da obra.
Com belos takes na praia e nos morros de rocha litorânea, Bayona fica colado na zona de segurança e deixa com o espectador o verdadeiro termômetro de seu trabalho. Ele olha de longe a receptividade enquanto filma, ainda que com algumas esquisitices, uma história familiar, fácil de ser identificada e, até certo ponto, memorável.
A cereja do bolo mesmo, ou melhor, uma das, é quando pai, mãe e filhos se abraçam no final do filme. Pra se ter uma ideia, quase que a família é dissociada e tem suas vidas descruzadas. Porém, Bayona mostra que a fé em certos momentos é necessária e o acaso atua como elemento desencadeador de surpresas.
Disponível no Netflix (foi lá que vi o filme pela primeira vez), o filme tem caído nas graças do povo. Eu, particularmente, não vejo nada de mais. Apenas um filme seguro e que plana rente ao solo. Quase me fez chorar, confesso. Mas, no final mesmo, fica que Naomi obteve sua segunda indicação ao Oscar com esse trabalho e Bayona mostrou que é expert, pelo menos em narrar decentemente uma história real de forma, digamos, mais adocicada.
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