NO COMPARATIVO ENTRE AS DUAS VISÕES DE UM MESMO TEMA, A ARTE AINDA SUPERA O MERCADO
Após o fracasso comercial de Hulk (2003) de Ang Lee, autoral e artístico demais na visão dos executivos, e com a iniciação do projeto Vingadores, a Marvel resolveu mudar radicalmente o foco na seqüência O Incrível Hulk (2008). E se o filme de Lee desagradou por investir bastante (e bem) no psicológico dos personagens e no drama de "o médico e o monstro" de Banner, resultando em um belo e sensível estudo de personagens, o filme de 2008 mostrava sua mudança de norte já na escolha de Louis Leterrier para dirigir o longa. O diretor acabara de entregar três filmes voltados 100% para a ação desenfreada: Carga Explosiva 1 e 2 e Cão de Briga. Efeitos melhores e algumas citações a outros heróis. Pra completar, o elenco foi todo reposto. Saíram Eric Banna, Nick Nolte e Jennifer Connely e entraram Edward Norton, Liv Tyler e William Hurt. Em questão de talento e competência não houveram muitas alterações, mas o trio comandado por Leterrier possui muito mais apelo junto ao público. Tudo para recolocar o Gigante Esmeralda de volta nas graças da galera.
Contudo, O Incrível Hulk se desenrola de uma maneira difícil de se acompanhar, pois o filme é extremamente esquemático. O general Ross encontra Banner, que tenta fugir e acaba virando o Hulk e derrota os militares pra depois fugir de novo, só pra ser encontrado mais tarde e tudo se repete outra vez. Isso torna o filme cansativo demais, mesmo se tratando de um filme de ação genuíno. E é mais do que nítido que este não é o tipo de filme para Edward Norton. O talento do ator, um dos maiores de sua geração, não está em xeque aqui. Mas o campo é muito restrito para um melhor desenvolvimento dos personagens - para Norton teria sido melhor ter participado do filme de Ang Lee. Aliás, falando em desenvolvimento, ele é quase nulo aqui. Leterrier se vale de um ligeiro clipe-flashback para nos interligar com os fatos ocorridos no filme anterior e "zap!", já estamos acompanhando a rotina de Banner escondido na favela da Rocinha, no RJ. E o modo como o Exército norte-americano invade a favela é absurdamente ridículo, como se não houvesse obstáculos do nosso governo, ou de "poderes paralelos", para tal ato.
E se no filme de 2003 o embate final era muito mais uma representação de um confronto com os fantasmas do passado de Banner, aqui Hulk foi posto em combate contra um antagonista que nada mais é do que um dos Anti-Hulk dos quadrinhos. Abominação (Tim Roth) nada mais é do que força bruta e fúria incontrolável partindo pra cima do Verdão, que responda à altura. Por mais que um confronto desta magnitude fosse mesmo aguardado desde os primeiros filmes do herói, a esperança de ver qualquer dilema ou moral no encerramento do filme foi por água abaixo. Tudo bem que o objetivo destes filmes é mais entreter do que instigar, mas eu esperava mais do que uma correria desenfreada de um lado para o outro.
Outro ponto bastante criticado no filme de Ang Lee, foi a maneira desmedidamente escrota como Lee filmava o Gigante Verde. Com efeitos bem mais modestos do que no filme de Leterrier, Lee não tem vergonha e não mascara nem disfarça o protagonista, filmando-o em plena luz do dia, em terreno aberto e em logas tomadas. Em O Incrível Hulk, na maioria das aparições o personagem está semi-ocultado por uma penumbra, ou uma fumaça, ou por cortes rápidos e movimentos de câmera bruscos. Ironicamente, aquilo que foi motivo para ridicularizar o filme de Lee (lembro-me de ouvir de um crítico que o Hulk de 2003 era o boneco de posto de gasolina mais caro da história) fez muita falta ao filme de Leterrier: ousadia artística. Lee monta seu filme como uma verdadeira revista em quadrinhos cinematográfica, por vezes mostrando várias ações simultâneas. Já Leterrier prefere uma narrativa mais tradicional, 100% linear e esquemática, tornando o filme deveras previsível e desanimador.
Nesta comparação entre os dois retratos sobre o personagem título, a conclusão a que chegamos é que um sofre com a falta daquilo que fortalece o outro. Mas neste embate entre arte x mercado, ainda fico com p primeiro. Em resumo, mesmo contestado e ridicularizado, o filme de Ang Lee ainda se mostra bem superior.
Curiosamente gostei mais dessa versão que da do Ang Lee.
Na verdade, não sou fã de nenhum dos dois, mas no comparativo, ainda fico com o de Lee. Valeu, conde!
Também prefiro a de Lee.
Acho a do Lee mais divertida...