Com “O inquilino”, Roman Polanski encerra a chamada ‘trilogia do apartamento’, composta também por “Repulsa ao sexo” de 1965 e “O bebê de Rosemary” de 68. Em toda a trilogia, a claustrofobia e solidão dos apartamentos servem de pano de fundo para a paranoia e terror dos personagens que, presos entre as aterradoras paredes, vivem num limite entre a fantasia e a realidade.
Trelkolvsky – interpretado pelo próprio Polanski – é um homem que aluga o apartamento de uma jovem suicida que se jogou da janela. Logo ele começa a notar um comportamento estranho nos vizinhos e passa a julgar-se perseguido por eles.
O filme pode ser visto como um grande estudo de caso sobre a paranoia. Até certo momento, vemos tudo pelos olhos de Trelkovsky, acompanhamos toda a desconfiança do personagem para com aqueles vizinhos estranhos e antipáticos, e também nos sentimos desconfortáveis em meio aquele ambiente totalmente novo e hostil. A partir da metade do filme, a perspectiva muda e entramos num viés de insanidade e psicose, mas o sentimento de estranheza permanece. Quando achamos que concluímos algo, a cena final nos traz novamente a angústia e incerteza que permearam toda a trajetória de Trelkovsky.
Polanski consegue passar através da tela o mesmo sentimento de dúvida e perseguição que assola o personagem. A câmera do diretor fica restrita ao enclausuramento do apartamento e do próprio Trelkovsky, fixando-se sempre em ângulos fechados e enquadramentos voyeurísticos, exemplificados principalmente pelas cenas na janela. O plano em que uma plateia distribui aplausos é soberbo e demonstra todo o bom gosto de Polanski nas composições de cena.
Em relação às interpretações, o diretor ousa na escolha de protagonizar o próprio filme, o que talvez se deva pela necessidade que sentiu de contar a história com a sua visão, mas Polanski não compromete e consegue passar a perturbação e trejeitos necessários ao atormentado Trelkovsky. O resto do elenco não tem muito destaque devido à própria natureza da narrativa, podendo-se citar apenas Isabelle Adjani que convence no papel de Stella e a presença do saudoso Melvyn Douglas como senhorio do prédio.
“O inquilino” é um grande exemplo do talento de Roman Polanski em dirigir suspenses psicológicos e talvez só seja superado em sua filmografia (no gênero), pelos, já citados, antecessores da trilogia do apartamento e pelo mais atual “O escritor fantasma” de 2010.
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