"Nós desenvolvemos um código para que possamos nos comunicar um com o outro, mesmo na frente dos outros sem que eles saibam o que estamos dizendo. (...) O código cresceu e cresceu conforme o tempo passou e, dentro de algumas semanas, nós poderíamos falar sobre quase tudo, mesmo sem abrir a boca."
Se Dente Canino, filme que tornou o diretor com nome de iogurte grego (e, obviamente, de nacionalidade grega) Yorgos Lanthimos relativamente conhecido no Brasil e no mundo, causava uma certa estranheza no espectador, seu novo filme, esse The Lobster, não fica muito para trás. A ideia central parece ser pegar aquela afirmação de que a gente morre sozinho, mas precisa de companhia ao longo da vida e transformar em uma espécie de ficção científica distópica que não parece uma ficção científica distópica, muito mais um drama alegórico sobre nossos relacionamentos amorosos, do ponto de vista individual e em sociedade. As metáforas afloram, umas geniais, outras de menor efeito e, ainda que perca (e muito!) o ritmo em sua segunda parte, a obra se mantém constantemente interessante, mesmo após seu encerramento.
O cenário é um futuro gélido e próximo, onde os solteiros são proibidos por lei de permanecerem assim e são colocados em um hotel onde são obrigados a encontrar um par em no máximo 45 dias. Se permanecerem sozinhos, serão transformados em um animal de sua escolha e liberados na natureza. É aí que entra o protagonista David, vivido pelo sempre subestimado e ótimo Colin Farrell: após ser deixado pela esposa de anos, ele vai para o tal hotel e passa a se habituar àquele lugar e suas regras de relações juntamente com o espectador. Conforme o tempo avança e David permanece solteiro, percebemos com ele que achar uma alma gêmea pode não ser tão fácil e mentiras ou resignação podem fazer parte de sua rotina. Esse período do protagonista no hotel, que corresponde a metade do filme, é o que de mais interessante The Lobster (lobster, lagosta, animal que David escolheria ser transformado) possui.
É interessante demais conhecer aquele mundo e suas regras, interações sociais e etc., seja em como todos se vestem igual e só são distinguidos por características particulares isoladas (Homem Mancando, Homem Balbuciando, Mulher com Hemorragia Nasal, são os "nomes" de alguns dos personagens), como fazemos em nossas próprias relações, geralmente nos extremos (quando conhecemos alguém ou terminamos uma relação, não raro fulana se torna a menina de tatuagens, ciclano o cara de dreads); seja na caçada que os "hóspedes" protagonizam, onde para cada solteiro que fugiu do local para tentar viver na floresta que for capturado, ganha-se mais um dia para tentar achar um par. Assim como ver que para muitos viver uma relação baseada em mentiras ainda acaba sendo mais vantagem do que seguir sozinho, algo nem um pouco difícil de associarmos a nossa realidade, claro (isso para não mencionar a ironia certeira do roteiro de Lanthimos e Efthymis Filippou, que em dado momento revela que em casos de dificuldade na relação, os casais podem solicitar um filho que deve facilitar a conciliação, mais uma demonstração do peculiar senso de humor do longa, que rende um momento inspirado também em um questionamento sobre a sexualidade do personagem de Farrell). Essa seria a parte do "precisarmos de companhia ao longo da vida", inaceitável a solidão naquele espaço.
Aí que David foge do Hotel, a parte sobre "morrer sozinho", Rachel Weisz e sua Mulher Míope entram em cena, ela e o personagem de Farrell se apaixonam, mas aí já é tarde demais, agora a preocupação já é com o fim da vida, menos criar laços e mais abdicar deles, porque, afinal, as covas cavadas por cada um serão ocupadas sozinhas. O ritmo cai, as metáforas, ainda que mantenham certa qualidade, também - os apaixonados desenvolvendo uma linguagem própria é interessante (e verídico demais), vale apontar, quem nunca criou sua própria linguagem com a pessoa de afeto? Dito isso, o fim do filme, apesar de incômodo por soar repentino demais, encaixa bem na visão pessimista que o filme exibe sobre a busca de uma alma gêmea que não apenas despertar o afeto, precisa também ser uma quase réplica do companheiro, em suas principais características.
Aí quando se espera alguém assim, ele talvez não venha antes do fade out e não só aquela cova, mas a vida também será sozinha. Ou ao menos aquela refeição na lanchonete.
Eu também, escrevo melhor que o Pedro, leia meus textos fodoes depois, todos hein 😎
Ainda acho que o Rafa não sabe ler, só isso explica nunca ter apreciado minha arte u.u
é fácil saber quando estamos zuando...
se o Ale aparecer é que estamos zuando.
Exatamente isso aí que o Lipe falou