Lembro-me ate agora da sensação que passou por mim ao ver em A Invenção de Hugo Cabret aquela cena em que nos é contada parta da história do cinema, belissimamente orquestrada pela performance do Bem Kingsley. Além das qualidades do filme do Scorcese, tal cena apenas as exaltou, mas não estou aqui para falar sobre a jornada do menino que morava no relógio da estação de metrô, estou aqui para falar sobre o homem que trouxe o ilusionismo e alta-fantasia ao cinema em seus primórdios. A maioria das pessoas deve conhecer ao menos o Viagem à Lua do George Méliès, devido ao Invenção de Hugo Cabret, curta que já mostra certa revolução nas hábeis mãos de tal diretor
Tendo sido um ilusionista antes de se apaixonar pelo cinema, seus filmes são carregados de efeitos que estavam além daquele tempo, quem imaginaria que em pleno ano de 1895 nós teríamos filmes que brincariam com o fantástico, levando-nos a castelos com morcegos e fantasmas ou ao desaparecimento de uma dama em plena tela. Efeitos que só foram evoluindo de acordo com o decorrer de sua filmografia, que adquiriu cores muito antes da Dorothy abrir a porta para a terra de Oz. O Locatário Diabólico se trata disso, de uma bela demonstração de seu ilusionismo fantástico, mas dessa vez sustentado por um enredo um tanto simples e divertido. George Méliès aqui interpreta um inquilino que, após ser apresentado a um apartamento vazio, mobília tal cômodo usando apenas o que possui dentro de sua maleta, ou seja, tudo. Assim, desafiando a sanidade do corretor que mostrara o apartamento a ele.
Obviamente estamos falando de um curta, seis minutos de um homem que abre sua maleta e retira de lá um baú enorme, onde há desde um espelho com mais de um metro de altura até pessoas vivas. Algo que pode funcionar como uma metáfora sobre o seu cinema, assim como pode ser vista em vários de seus curtas. Mas só isso não basta para uma análise, sua duração é um obstáculo para estas palavras, mas há certos pontos neste que podem ser analisados. Tecnicamente falando, o filme beira à perfeição, pois Méliès consegue nos convencer de que ele tira um piado e afins de dentro de seu baú, além das cores, que dão certo frescor ao filme. A narrativa ao redor do Inquilino funciona a favor do ilusionismo de seu criador, fazendo o curta funcionar pelo primor de seus efeitos especiais feitos a partir de vários cortes e peças falsas – fatores essenciais do cinema dele.
Por fim, eis um curta que vale muito à pena ser visto e apreciado, afinal, a fantasia do Méliès é tão impressionante quanto alguns filmes que saem hoje em dia. Seis minutos que devem ser vistos e talvez revistos sempre que possível, pois sempre há aquele sorriso e brilho nos olhos ao ver a grandiosidade de algo tão simples, uma dicotomia das mais poéticas. Por fim, nós somos o corretor que se surpreende ao ver o apartamento mobiliado, a platéia surpreendida, e o inquilino é o ilusionista que em seu palco é um rei zombeteiro, um feiticeiro como o Merlin, que dá vida a tudo o que toca.
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