"Se você correr como um relâmpago vai cair como um raio."
O título escolhido para The place beyond the pines no Brasil, contrariando um histórico de deslizes (como o filme anterior de Cianfrance, Blue valentine, que aqui chamou-se Namorados para sempre), não deixa de revelar uma poética ironia, afinal, a narrativa habitada pelos personagens do longa de Derek Cianfrance parece ser qualquer coisa, menos um lugar onde tudo termina. Todas as ações se estendem indeterminadamente, culminando em um efeito cascata assustador que parece não avistar fim nem menos ao subir dos créditos finais.
A narrativa abre no tom documental tão familiar ao realizador egresso dos longas dessa categoria: em um plano sequência seguimos Handsome Luke (interpretado por Ryan Gosling) se dirigindo para mais uma de suas apresentações no globo da morte. Indo e vindo em diversas cidades com a equipe do circo do qual faz parte, Luke descobre ao retornar à uma pequena cidade que se tornou pai em sua última visita. Sem dinheiro, mas com anseio de dar sustento ao filho, Jason, e a mãe desse, Romina (Eva Mendes), o motoqueiro usa a habilidade mostrada naquela cena inicia para se tornar assaltante de bancos, ato que o coloca em rota de colisão com o policial Avery Cross (Bradley Cooper), também ele pai de um garotinho, AJ.
E é aqui que Cianfrance surpreende com uma decisão tão corajosa quanto a reviravolta arquitetada por Alfred Hitchcock em seu Psicose: o realizador confronta Luke e Cross, num duelo onde apenas o segundo sai vivo. É então que, ao mudar o foco de seu filme para o policial, percebemos que a real intenção do cineasta não era falar sobre o personagem de Gosling, mas sim, versar sobre como todas as nossas ações exercem impacto direto ou indireto nas vidas das pessoas que nos orbitam.
Luke fala à certa altura que cresceu sem o pai presente e que não quer o mesmo futuro para o filho. Não quer que ele se torne um reflexo de quem ele próprio se tornou. Os tiros disparados por Cross no entanto, cuidaram para que o ciclo de ausência se mantivesse: Jason (Dane DeHaan) e AJ (Emory Cohen) crescem sem a presença da figura paterna – o primeiro pela morte do pai, o segundo pela decisão de Cross em adentrar a carreira política, afastando-o da família. E aí Cianfrance muda novamente o eixo que mantém seu filme. Moldados pelas ações de seus genitores, as crianças se encontram e exercem as ações que permeiam o terceiro ato dessa história.
Após seu excelente filme anterior, Derek Cianfrance novamente alcança belos resultados com seu drama Newtoniano, filmando planos singelos e de grande significado – o caminhar silencioso que abre o filme, a corrida acelerada de Luke e sua moto por entre as árvores – e sequencias de ação de primeira, como os tensos assaltos executados pelo protagonista e a impressionante perseguição entre Luke e Cross, que contrariando a abordagem utilizada à exaustão em longas de ação (diversos cortes por segundo, dificultando a compreensão do espectador), investe em longos planos que despertam a tensão exatamente por manterem-se fixos aos acontecimentos, mesmo quando um dos personagens foge do foco da câmera. Por outro lado, Cianfrance se perde na condução do terceiro ato de sua história, esboçando um final trágico, com toques Shakespearianos que parece ser adiado por diversas vezes, o que causa a impressão de que o diretor não sabia como encerrar sua história (ele é também o roteirista da produção) e que poderia ter deixado uns bons minutos na sala de montagem.
Mas, se a direção de Cianfrance apresenta apenas deslizes pontuais, o elenco da produção é bastante irregular, alternando os bons desempenhos de Ryan Gosling e Bradley Cooper com as atuações apáticas de Eva Mendes, Emory Cohen e Dane DeHaan. Gosling, coberto de tatuagens, empresta seu carisma ao motoqueiro Luke, conferindo-lhe um quê do motorista de Drive: um homem de poucas palavras, que encara seu veículo como uma extensão do próprio corpo, capaz de ações violentas, mas ainda assim capaz de estabelecer laços com aqueles à sua volta. Já Cooper, cada vez mais confortável no posto de galã com talento dramático, torna o policial Cross uma figura complexa, que na ânsia de fazer o que julga certo não perceber prejudicar aqueles que ama. Mas, se esses dois nomes, em alta no cinema americano, se saem bem, o mesmo não pode ser dito de Mendes, que parece nunca desvencilhar-se da inexpressão habitual e dos jovens DeHaan (que parece irmão mais novo de Leonardo DiCaprio) e Cohen, que por vezes derrapam em um exagero incompatível com a narrativa da qual fazem parte.
Encerrando com um plano significativo, que sugere que a narrativa ocupada pelos personagens acompanhados durante as duas horas e vinte minutos de duração, as coisas continuam em um ciclo de reações que parece não encontrar seu fim, O lugar onde tudo termina, ainda que tenha algumas falhas, representa mais um passo acertado na carreira de seu talentoso realizador.
Cara, tenho esse filme e nunca assisti! Ganhei de presente de uma ex-namorada e emprestei pra minha mãe, que adorou. Não havia lido muita coisa sobre ele propositalmente, mas como gostei de Blue Valentine e muita gente havia me falado muito bem dele, vinha mantendo boas espectativas.
Como sempre, tiro uma base pela tua opinião, Pedrão. Como entrei de férias hoje, deste mês não passa.
Vai sem medo, Cristian, depois diz o que achou 😎