- "Se eu fosse seu pai, esse seria o momento de lhe dar um sermão ou algo assim, sobre o que você está fazendo para si mesmo."
- "Sabe Dan, se você fosse meu pai, você não precisaria."
É de conhecimento geral que a adolescência é uma fase complicada na vida das pessoas. Não se é mais a criança sem preocupações de outrora, tampouco se é o adulto recheado de responsabilidades. É um meio termo incomodo, onde se percebe nitidamente a infância sendo deixada pra trás e a vida adulta se avizinhando. Não é de se estranhar então que tantos jovens se percam nessa fase da vida para nunca mais se encontrar – e aqui não me refiro a se perder em drogas, sexo e rock and roll, mas sobre a perda da identidade própria, sobre se olhar no espelho e não saber mais quem é ou o que quer.
Pois, em alguma parte desse caminho, Sutter (Miles Teller) se perdeu de si mesmo. Quando em dado momento o professor lhe pergunta se não deseja concluir o ano e se formar para seguir sua vida a resposta sincera vem em forma de um “eu sinceramente não sei”. O “seguir a vida” é algo que o assusta, preferindo então viver apenas o “aqui e agora”, sem se preocupar com o que vem depois. Recém deixado pela namorada, Cassidy (Brie Larson), Sutter trata o copo de bebida como uma quase extensão natural de seu braço, sem nem perceber o evidente alcoolismo – num dos melhores momentos do filme, seu chefe e amigo lhe fala que só poderá mantê-lo no emprego se prometer parar de beber. A dolorosa resposta? “Desculpe, sinceramente, você sabe que não posso lhe prometer isso”. Popular na escola, sendo o tipo de cara que não consegue andar pelo corredor sem cumprimentar dezenas de pessoas, o rapaz logo se envolve com uma garota deslocada, Aimee (Shailene Woodley), que passa seus dias ajudando a mãe e lendo mangás de ficção científica. Essa relação vai mudar a vida de ambos, dando para Sutter a coragem de buscar contato com o pai, de quem sua mãe insiste mantê-lo afastado.
Escrito pelos mesmos roteiristas (Scott Neustadter e Michael H. Weber) do sensível e belo (500) Dias com Ela, The Spectacular Now é conduzido de maneira calma e tão sensível pelo diretor James Ponsoldt quanto a história de Tom Hansen, desenvolvendo seus personagens e suas situações enquanto discute os temas a que se propõe, como a influencia da família em nossas vidas, as mudanças experimentadas ao se relacionar com alguém e claro, a dificuldade em abandonar uma zona de conforto e buscar algo diferente. Da mesma forma, é interessante notar como o filme busca retratar o gradativo amadurecimento de seu protagonista, tornando o rapaz que encerra o longa alguém muito diferente daquele que o inicia, algo simbolizado pelo texto de um e-mail enviado a uma universidade.
Dito isso, é interessante como o filme trabalha a descoberta do personagem de que seu maio inimigo é ele mesmo, sabotando-se com seu próprio e despretensioso estilo de vida – a namorada, por exemplo, diz a certa altura ter largado ele por querer um futuro, quanto ele se prende ao presente. Além disso, o aguardado encontro com o pai ausente reflete o quão parecido o garoto é com seu velho, ainda que ele não tenha desempenhado papel direto em seu crescimento, revela traços que refletem a próprio personalidade do rapaz, fazendo-o ao ser decepcionado por aquele homem, teoricamente mais maduro, perceber o quanto está magoando aqueles ao seu redor e a sim mesmo com suas decisões. E aqui vale apontar que o desempenho do jovem Teller é surpreendente, conseguindo transpor ao espectador todos os sentimentos que atravessam seu personagem.
Não que The Spectacular Now esqueça-se das figuras que orbitam o protagonista ao focar-se em seu desenvolvimento: todos os personagens que surgem em tela encontram tempo o suficiente para cativar o espectador e justificar suas existências na narrativa. Da ex-namorada que mesmo magoando o protagonista encontra no desempenho delicado de Brie Larson alguém com quem o público se identifica e que genuinamente se importa com o rapaz com quem dividiu tantos momentos ("você sempre será meu ex-namorado preferido", diz a certa altura), ao chefe que representa uma figura paterna ao garoto que trabalha em sua loja (papel de Bob Odenkirk, o Saul Goodman de Breaking Bad), todos encontram ao menos um momento que ressoa junto a jornada de amadurecimento de Sutter. Mas é mesmo a irmã do personagem, Holly, que surpreende em uma cena de forte carga emocional, representando papel indispensável na busca do garoto pelo pai, num momento que o excelente desempenho de Mary Elizabeth Winstead acaba com o espectador ao, de maneira contida, deixar extravasar a dor pela situação que o irmão virá a enfrentar. Um momento que, ao lado da outra única cena em que Winstead surge em tela seria o suficiente para justificar sua indicação aos prêmios do ano.
E se mencionei as premiações acima, é injusto perceber como o espetacular (trocadilho irresistível) desempenho de Shailene Woodley (que já merecia mais reconhecimento por Os Descendentes) não tenha figurado em todas as listas de melhores atrizes do ano. Assumindo o papel de co-protagonista do longa, Woodley empresta talento e doçura na medida certa a Aimee, tornado-a gradativamente uma nova versão de si mesma a medida que sua relação com Sutter avança – a garota logo toma seu gosto por bebida, por exemplo -, tornando-se uma pessoa mais forte, decidida e, ainda que ocasionalmente magoada, mais madura para os novos rumos de sua vida. E Woodley assume essas facetas de uma personalidade de maneira brilhante, indo do olhar envergonhado e sorriso fácil de uma garota deslocada socialmente que percebe-se apaixonada pelo novo amigo, ao choro desesperado ao perceber que uma declaração não saiu como imaginava.
Encerrando de maneira doce após se tornar dolorido, The Spectacular Now é o tipo de filme que já é lançado pronto pra se tornar marcante para muitos jovens, assim como alguns irmãos temáticos (o próprio (500) Dias com Ela, por exemplo). E mesmo para aqueles que o filme não chegar a tanto, representará uma bela experiência cinematográfica.
😢
♥
tem morte por câncer ou suicídio? se tiver eu assisto.
bjs
Ngm morre Lipe. Mas tem um atropelamento, serve?