La passion de Jeanne d'Arc (O Martírio de Joana D'Arc) – 1928
Carl Theodor Dreyer
Falar do valor histórico, da expressiva atuação de Renée Maria Falconetti e do trabalho artístico de Dreyer nessa altura do campeonato é desnecessário, assim como dos mistérios envolvidos na gravação e restauração do mesmo, então vamos ao filme:
Dreyer se dispôs a dramatizar os últimos momentos de Jeanne d'Arc, figura emblemática francesa, camponesa e analfabeta, acreditava ser representante de Deus e defensora da França que, se vestindo de homem, liderou tropas francesas contra a ocupação britânica na França; foi aprisionada por franceses que apoiavam britânicos, julgada e condenada à fogueira em 1491, com 19 anos, pela inquisição por heresia; canonizada pelo papa Bento XV em 1920 e declarada padroeira da França em 22. Dreyer sem nenhuma contextualização (considerada desnecessária para alguns) se baseou nas transcrições oficiais do processo para fazer o filme, se focando nas expressões, nos closes e nas falas.
O filme busca claramente, em alguns elementos, associar o martírio de Jeanne ao de Jesus Cristo, o que não deixa de ser apelativo, mas vale a pena ressaltar alguns dos trechos. Jeanne, em toda sua inocência busca de alguma forma se expressar em meio a tão ardilosos juízes; inocência esta aliada à falta de instrução que a levam à um fanatismo religioso, e à uma fé cega; a mesma que quando questionada hesita ao dizer sua idade e acredita ter nascido para salvar a França, se emociona ao ser questionada sobre quem a ensinou o pai-nosso pois o aprendeu com a mãe, e espera de Deus a salvação de sua alma como recompensa por seus atos; fatos que claramente mostram a importância da religião em sua constituição. Vale também ressaltar a pressão exercida pelos ardilosos inquisidores, seja através de perguntas de múltiplos sentidos, manipulações ou chantagens, mas tudo isso só serve para mudar momentaneamente a opinião de Jeanne, que no fim se entrega à morte por suas convicções estimulada pelo forte peso da culpa por ter inicialmente voltado atrás com o medo da fogueira/morte.
Sobre outro ponto de vista, voltando aos carrascos inquisidores, é interessante ver nessa semelhança com o martírio de Cristo, como desta vez é um ramo da igreja que o exerce.
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