O RETORNO DE LEATHERFACE ÀS TELAS É QUASE UM DEBOCHE DE HOOPER SOBRE ELE MESMO DE TÃO RUIM
Doze anos após o estrondoso sucesso de O Massacre da Serra Elétrica, o criador da série, diretor e roteirista Tobe Hooper, traz seu icônico personagem de volta, porém, num tom descabidamente cômico e completamente incoerente. Se no primeiro filme Hooper recebeu aplausos por manter um ritmo propositalmente lento por boa parte da projeção, priorizando o desenvolvimento da trama e o suspense, neste O Massacre da Serra Elétrica - Parte II (The Texas Chainsaw Massacre II, 1986) em menos de cinco minutos já vemos Leatherface perseguindo suas primeiras vítimas numa cena tão ilógica quanto o roteiro desta bagunça apelidada de filme. Aliás, essa cena é uma das mais ridículas já vistas por mim. Primeiro, pela conveniência de que sempre que os dois arruaceiros ligam para o programa de rádio onde a protagonista Strash (Caroline Williams - linda) trabalha, a ligação não pode ser cortada, aparentemente por um problema técnico. Só que eles ligam duas vezes, e as outras ligações seguem normais, mas a deles não pode ser interrompida de jeito nenhum. Que conveniente. Na mesma cena, além de um dos bandidos ter um revolver de vídeo game com password, pois tem munição infinita, e o outro não largar o telefone nem enquanto é ameaçado por maníaco com uma serra, vemos uma das perseguições mais idiotas do cinema, mesmo se tratando da um filme de terror dos famigerados anos 80. A caminhonete em que Leatherface persegue suas vítimas acompanha, de ré, o carro sport em que as vítimas se encontram. É dose!!
O que espanta aqui é a indecisão de Hooper entre manter a violência apresentada no original e adotar o tom mais trash desta continuação. Pois acreditem, um filme chamado O Massacre da Serra Elétrica, ainda mais sendo uma seqüência, só tem 3 mortes o filme inteiro!!! Na verdade são 4, contanto a de um membro da família de canibais. Mas vítimas mesmo, só os dois arruaceiros do início do filme, e o amigo da protagonista, L.G., que nem é morto por Letherface, mas sim por Chop-Top (Bill Moseley). Na verdade, o Leatherface deste episódio é ridículo demais, sacudindo sua serra sobre a cabeça, gritando feito um porco assustado, vestindo um terno apertado e bulinando o órgão sexual de Strash com a moto-serra enquanto lambe os lábios. Ainda nesta cena, há um dos momentos mais constrangedores do cinema, quando Leatherface insinua movimentos sexuais com a serra em direção à protagonista, antes de sair dando gritinhos com a arma para cima. E é nisso que se resume sua participação no filme. Matar que é bem bom, nada!! Aprofundar o personagem, menos ainda. A descaracterização conceitual do vilão é tão grande, que tira, inclusive, o sentido do título. Primeiro porque não se passa no Texas e sim em Oklahoma, estado vizinho. Segundo, por que não há massacre nenhum e muito menos utilidade para a moto-serra. No primeiro filme, havia um sentido e um propósito para o instrumento do título ser usado pelo vilão, como para serrar os fortes ossos dos animais abatidos no antigo matadouro onde trabalhava. Aqui, tanto faz se, no lugar da serra, Leatherface segurasse um pirulito de tutti-frutti.
Percebe-se neste filme, uma insistência em se pronunciar o nome de Leatherface a todo instante, como se o diretor quisesse deixar claro para todos que era o mesmo personagem visto uma dúzia de anos antes. E não é só isso que interfere na concepção do personagem. Uma das melhores coisas no primeiro O Massacre da Serra Elétrica era o fato de Leatherface ser 100% humano. Sofria de distúrbios mentais e vivia em uma realidade doentia, é verdade, mas era humano. Aqui, já começa um processo que se consolidaria no terceiro filme: o de tornar Leatherface uma espécie de Jason. Em determinado momento, um personagem atravessa uma serra no abdômen do vilão, que segue lutando como se nada tivesse acontecido. Muitas dessas besteiras se devem ao fato incompreensível de Tobe Hooper ter levado o filme para o lado da comédia de humor negro típica dos filmes de terror trash oitentistas. Algo que acabou ridicularizando grandes vilões e séries como A Hora Do Pesadelo e seu Freddy Kreuger ou Sexta-Feira 13 e seu Jason Voorhees. Leatherface também não escapou dessa onda.
De bom, o filme traz o bad boy descontrolado, polêmico e talentoso Dennis Hopper (num momento delicado na carreira), além de uma trama razoável sobre uma radialista que acaba gravando um ataque de Leatherface e resolve ajudar um ex-xerife à provar a existência de tal assassino. Mas é muito pouco. O filme poderia ser considerado o pior da série se não fosse a existência do terceiro episódio, que quase deu início a morte de Leatherface - que ganhou uma sobre-vida décadas depois com os pavorosos remakes. Altamente dispensável para quem ainda não viu e difícil de digerir para quem teve a infelicidade de assistir a essa porcaria de Tobe Hooper. Um dos piores filmes de sua carreira.
- revisado em 18/10/2015
Pior é que aumentei um ponto por causa do Dennis Hopper....