POUCO DINHEIRO E MUITA INSPIRAÇÃO NUMA DAS MAIORES OBRAS-PRIMAS DO CINEMA DE TERROR
Rodado de forma independente, em 1973 e lançado no ano seguinte, O Massacre da Serra Elétrica (The Taxas Chainsaw Massacre, 1974), do controverso diretor Tobe Hooper (Poltergeist e Pague Para Entrar, Reze Para Sair), custou míseros US$ 140 mil e faturou US$ 40 milhões em bilheterias!! Quase 300%!!! Lançou um dos vilões mais icônicos da história do cinema - o demente Leatherface - e ganhou duas sequências e gerou alguns documentários à respeito do filme. Mas o que culminou em tamanho sucesso, mesmo com sua exibição sendo proibida em diversos países, inclusive no Brasil? A resposta vem de um conjunto de fatores que nos levam somente à uma conclusão: o filme é simplesmente um dos maiores exemplares do cinema de terror de todos os tempos. E com justiça.
O ponto mais forte da projeção é, sem dúvida, a direção cautelosa e paciente de Hooper. A obra mais parece um road movie interrompido por um evento assombroso, do que propriamente um filme de terror. Nos primeiros 35 minutos de filme, nada acontece além de acompanharmos os cinco jovens protagonistas viajando e dialogando em sua van (qualquer semelhança com Scooby Doo não é mera coincidência). Somente após o 36º minuto de filme é que as coisas começam a tomar rumos de filme de terror, embora algumas passagens já deixassem a atmosfera tensa e o clima sombrio. Entre essas passagens, destacam-se a arrepiante abertura, com flashes macabros em restos putrefatos de cadáveres desmembrados. Assim como o rádio anunciando uma série de manchetes trágicas e violentas e a cena do caronista louco (Edwin Neal). Todas essas cenas deixam uma sensação de inquietação constante no espectador, como se nos preparasse para algo maior. Quase um aviso prévio. Daí pra frente, tem início um dos filmes mais angustiantes de todos os tempos, num mausoléu de horrores e bizarrices composto por algumas das cenas mais perturbadoras do cinema e alguns dos personagens mais doentios que eu já vi.
Os gritos ensurdecedores da bela Sally (a scream queen soberana do cinema Marilyn Burns) fundem-se à já naturalmente incômoda trilha sonora, adentrando de forma violenta na mente do espectador e ao cenário da cultura pop mundial, ditando as regras dos filmes de terror lançados dali em diante. A tortura psicológica a qual a protagonista é submetida é tanta, que em certo ponto nos faz torcer para que os insanos antagonistas matem a jovem de uma vez para que aquela agonia tenha fim logo.
E quando a violência toma conta de O Massacre da Serra Elétrica, Leatherface assombra. Um simples fantoche do velho Sawyer (Jim Siedow) ele parece não ter a menor consciência de seus atos, o que o torna ainda mais assustador. Como não arrepiar-se com o som do motor de sua moto-serra? Ou não sentir repulsa pela máscara de pele humana que ele usa para esconder seu desfigurado rosto? Como não sentir a dor de Kirk (William Vail) a cada martelada desferida contra seu rosto ou do indefeso e paraplégico Franklyn (Paul A. Partain) ao ser serrado ao meio em sua cadeira de rodas? Mas nenhuma cena é mais horripilante do que o jantar onde o medonho Vovô, com uma marreta, tenta acertar a cabeça de Sally. Bizarrice pura. O único defeito do filme talvez seja não fornecer mais informações sobre o passado dos vilões - mas, pensando bem, talvez seja isso que os deixe tão ameaçadores.
Porém, se não fosse o trabalho precioso de Tobe Hooper, o filme descambaria para o comum, e não uma seria esta espécie de estudo-retrato sobre o medo impactante diante de uma surpreendente situação macabra. Mas Hooper o eleva à condição de obra-prima ao trabalhá-lo sem a menor pressa, com todo o carinho. Se hoje não impacta mais, é porque as gerações foram tão batizadas com doses cavalares e cada vez mais explícitas de violência que anseia por vísceras expostas e sangue jorrando, e não mais por atmosfera e sustos. Uma pena.
O filme foi vendido, inclusive em um anúncio na própria abertura, como sendo baseado em fatos reais. Mas a verdade é que foi inspirado nos crimes cometidos por Ed Gein, que em meados dos anos 50 assombrou a cidade de Plainfield, Winsconsin, matando brutalmente suas vítimas e colecionando pele e ossos. Outra curiosidade: em 1988, a extinta distribuidora AB Vídeo lançou no Brasil um péssimo filme chamado The Hollywood Hookers, com Gunnar Hansen - ator que interpreta Leatherface - batizado por aqui como O Massacre da Serra Elétrica 3 - O Massacre Final, dirigido por Olen Ray, causando muita confusão entre os fãs, mostrando mais uma vez o descaso que algumas distribuidoras têm com lançamentos por aqui (algo parecido aconteceu recentemente com Pânico na Floresta (Wrong Turn, 2003) que teve seu título usado em Timber Falls de 2007, batizado por aqui de Pânico na Floresta 2. Um Absurdo). A verdade é que O Massacre da Serra Elétrica 3 oficial, foi lançado em 1990 e é o pior filme da série.
Emfim, O Massacre da Serra Elétrica é indiscutivelmente um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, não só por trazer uma direção apurada e inesperadamente boas interpretações e crueza gráfica de suas perturbadoras e violentas cenas, mas por fazer diferente daquilo que se espera e mostrar que nem sempre um belo orçamento se faz necessário para criar um clássico definitivo.
- revisado em 18/10/2015
Excelente texto caro Cristian! Suas informações sempre enriquecem seus comentários...
Puxa, valeu mesmo Gabriel. Meus últimos comentários têm ficado bem ruins, mas quando um amigo lê dá vontade comentar sempre. Continue escrevendo seus comentários que eu continuarei lendo sempre que puder (textos novos e antigos). Abraço!!!!
Ah, Cris 😢