Assistir ao filme “O nevoeiro” é experimentar uma perspectiva diferente sobre a tão explorada “temática apocalíptica”. O enredo é aparentemente simples, retrata o drama dos moradores de uma pequena cidade, especificamente os que ficaram presos em um supermercado, cercada por um denso nevoeiro de onde saem criaturas bizarras. O que se vê, então, é luta pela sobrevivência daquele grupo de pessoas.
Acompanhamos o destaque de alguns personagens: primeiramente o herói/protagonista, bem ao gosto dos clichês do cinema americano, é o pai devotado e líder nato que fará de tudo para proteger seus companheiros e sua família. Os demais também seguem a linha de um certo clichê: o desajeitado que se mostra mais valente que os outros; a garota que se simpatiza com o herói; outra moça, também bonita, mas de papel secundário, que morre na metade do filme; e outros tantos facilmente descritíveis. Mas uma personagem chama atenção, a senhora Carmody, fanática religiosa que no início do filme parecia ser apenas uma pessoa soltando disparates pouco proveitosos para aquela situação. O destaque dessa personagem, com sua gradual poder de influência nos personagens, é que nos parece como a perspectiva diferente citada aqui logo no início.
Podemos dizer que o filme The Mist mostra como um religioso pode fazer uso de uma catástrofe para propagar sua crença, sobretudo por usar tal calamidade como um evento que endossa os preceitos da sua fé. Os mais maleáveis podem dizer que a senhora Carmody representa um comportamento religioso pouco em voga atualmente, muito mais semelhante com o de séculos atrás. Mas se apegar a isso seria querer tirar da reta a religião, mormente a sua postura diante de cataclismos que assolam a humanidade. Na verdade, o filme parece se valer da frase do Marquês de Sade: “O medo e a ignorância são a base de toda religião”. Afinal, é o desconhecimento e o temor a respeito do que está acontecendo que parecem motivar as pessoas a seguirem a senhora Carmody (e ela própria, decerto).
Mas não nos empolguemos muito, pois o filme pouco sabe explorar esse recurso que ele lança mão. As citações bíblicas e as próprias palavras da senhora Carmody só são contestadas inicialmente porque estavam assustando algumas pessoas (sobretudo as crianças), e não porque significassem a exploração daquele evento com fins religiosos. Com exceção da conversa que o grupo mais preocupado com a presença da senhora Carmody tem no depósito do supermercado, pouco se fala para evocar a razão por trás das palavras da fanática, obviamente que isso deveria ser feito não pensando nela – afinal não é simples chamar à razão um fanático –, mas naqueles que estavam a ouvindo. Não por acaso que ela só pode ser silenciada com um tiro na cabeça, mas a morte de seu assassino poucos minutos após, mesmo que por uma das criaturas bizarras da trama, chama a atenção e nos fazer pensar umas coisas...
No mais, pouco ou nada o filme nos acrescenta de novo na temática em que se insere. A tentativa de dar um desfecho surpreendente acabou redundando um uma grande incoerência dentro da própria narrativa: como personagens que lutaram pela sobrevivência durante todo o filme se dão por vencidas em um dos momentos menos adversos?
Elementos técnicos do filme também não nos impressionam muito, direção e atuação dos atores – com exceção de quem interpreta a senhora Carmody – nos lembram bastante àqueles filmes de quinta categoria (se é que ele não faz parte) sobre a invasão de criaturas estranhas em nosso planeta. De fato, o filme nos faz pensar que ou Darabont “leva mais jeito” para o drama, como “A espera de um milagre” e “Um sonho de liberdade”, não para um terror/suspense, ou ele comete alguns deslizes por ser novato naquele gênero cinematográfico. Mas nem devemos ser severos demais com um diretor, por já ter um carreira considerável, nem complacentes pelo mesmo motivo.
Assim, sem medo, mas talvez com alguma ignorância, podemos dizer que “The mist” é um filme de ação/terror com uma perspectiva que chama atenção, mas ele pouco estimula nossas ideias e quase nada empolga em sua ação.
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