Freddy Krueger talvez seja o serial killer mais famoso de todos os slashers da história. Seu corpo queimado, seu suéter listrado em verde e vermelho, mas principalmente, sua luva com lâminas nos dedos assombram há muito tempo gerações de adolescentes. Nos anos 80, era o assassino de maior destaque, ofuscando até Jason Voorhess, era um verdadeiro ídolo pop, com brinquedos, histórias em quadrinhos e muitas outras tralhas. Sua imagem foi seriamente desgastada pela mídia e principalmente pelos filmes que deram seqüencia ao “Hora do pesadelo” original. De assassino cruel, passou a ser um comediante bobo e constrangedor.
Quando foi convidado pela New Line Cinema pra dirigir o sétimo filme, Wes Craven não pensou duas vezes e concordou em participar da película, ofendido com essa imagem de palhaço que haviam feito de sua maior criação. Apesar de ter sido o filme que menos rendeu nas bilheterias da saga, gerou a melhor continuação de todas da série e marcou a volta triunfal de Krueger. Dirigindo e roteirizando, Craven dá um verdadeiro presente aos fãs do vilão e entrega um filme tenso e assustador, digno do primeiro filme da franquia.
A história tem início quando a atriz Heather Langenkamp (a Nancy do primeiro e terceiro capítulo) é contratada para um novo filme da série, mas percebe que alguém a está fingindo ser o Freddy e perturbando ela e sua família. Mas estranhos acontecimentos vão encaminhando ela para uma terrível revelação, a de que Freddy rompeu as barreiras da ficção e começou a atacar na vida real, fazendo novas vítimas e espalhando o terror novamente.
O roteiro desse sétimo longa diverge da péssima trama construída a partir do quarto filme. Desistindo de tentar continuar com a narrativa dos outros capítulos da franquia, Craven fez seu própria história e o resultado foi excelente, misturando ficção e realidade de uma forma magistral, mesmo que um pouco confusa. Os atores e o próprio Craven representam eles mesmos, participando de uma nova seqüência de “Hora do pesadelo”, num exercício genial de metalinguagem, o que deu um tom mais realista a obra e conseqüentemente mais assustador.
Homenagens ao filme original e a saga é que não faltam. Em diversas cenas o diretor traz impressionantes referências que só enriquecem a obra, exemplo quando Dylan assiste ao filme de 1984 na televisão e fica assustado com o que viu, ou quando Heather diz “foda-se o passe!” no hospital, a mesma frase dita no original quando Nancy caminha pelos corredores da escola, ou quando Julie é arrastada pelas paredes, sujando tudo de sangue e é morta por Krueger, uma grande menção a cena antológica de Tina morrendo nas mãos do psicopata no primeiro filme, enfim, são muitas menções honrosas de fazerem os olhos dos fãs brilharem.
As atuações são formidáveis, já que de uma forma bizarra os atores e o elenco estão interpretando eles mesmos, então não foi um papel realmente desafiador pra ninguém, mas mesmo assim conseguem se sair bem. O destaque fica por conta de Langenkamp, que neste está mais madura, mas sempre está ótima em todos os filmes da série em que aparece, Robert Englund que aparece pela segunda vez sem a maquiagem de Krueger, mas também o interpreta muito bem no filme, e Craven que fica meio sem jeito em frente às câmeras, mas marca presença.
As faixas da trilha sonora também são muito boas, apesar de serem poucas. A famosa “Losing my religion” é a mais conhecida de todas e a melhor da trilha, que ainda conta as canções “Chase’s blues” e “Score from ‘A nightmare on elm street’”, que combinam com o clima misterioso do filme. Os efeitos especiais são bons se comparados aos precários usados nas seqüências anteriores, a maquiagem também está boa, visivelmente na nova aparência de Krueger. A fotografia do filme, ao desenrolar da trama, vai ficando mais fria e o clima, que usa muito de sombras pra ser construído, fica mais tenebroso.
Se nos outros filmes da série Freddy Krueger foi esculachado e transformado num palhaço idiota com piadas sem-graça, aqui é tratado da maneira que merece, voltando a ser o serial killer assustador que era no primeiro filme e aterrorizando tanto os personagens quanto os espectadores. Neste filme, Freddy não mata uma pessoa a cada minuto que passa como nas seqüências, sendo um dos filmes da franquia que tem menos mortes, o que torna mais amedrontador saber quem será o próximo personagem a morrer, e não todo o elenco. Portador de uma capa preta, Krueger fica com uma aparência sinistra e misteriosa nessa seqüência, dando a volta por cima da banalização de sua imagem, ficando a altura de toda sua fama maquiavélica.
A ascensão de uma lenda do cinema de horror, o sétimo filme da franquia é o segundo melhor de toda a saga, ficando apenas atrás do clássico primeiro capítulo, e um verdadeiro espetáculo nostálgico, feito principalmente para os fãs que acompanharam toda a saga do vilão, mas que ainda funciona como uma grande película assustadora e divertida, com Craven mostrando seu talento em criar mais uma obra surpreendente e o bom e velho Freddy Krueger nos aterrorizando mais uma vez.
“Vocês são todos meus filhos agora!” – Krueger
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