Gosto de cinema tanto quanto muitos, mas não farei uma análise técnica ou estética do filme, tendo em vista que isso já foi feito com maestria neste espaço, minha análise tem outro viés...
O Poderoso Chefão I mesmo situado nos anos 40 nos revela muito dos anos 70, década onde foi produzido. Esse filme pode nos dizer muito do momento da produção.
O filme é baseado na obra literária de Mario Puzo, escrita no final dos anos 60, e já refletia o espírito que regeria toda a década seguinte. O imenso idealismo que tomava conta do mundo, desde o aclamado 68. Tudo nos anos seguintes poderia ser resolvido, o mundo tinha que ser salvo, os regimes autoritários, principalmente na América Latina, deveriam ser contidos, mesmo com a guerra fria entre os EUA e a URSS, tudo naquele momento poderia ter solução.
Mas Coppola em seu filme, aos pouco vai nos mostrando algo que esta além de nossos pobres olhos mortais...
Michael (Al Pacino) o filho que nada queria saber da máfia e repudiava as atitudes de sua família, , confirma esta posição quando narra para sua namorada Kay (Diane Keaton) sobre como seu pai Vito Corleone (Marlon Brandon) convenceu um empresário musical a deixar um de seus afilhados livres, diz que essas atitudes são da família e não dele.
A questão reside justamente neste ponto inicial.
Michael não quer e nem concorda com os negócios da família, tanto que mora distante e pouco têm contato com eles. É um ex-soldado, herói de guerra, respeitado e muito respeitador. Mas algo acontece para que tudo que imaginava fosse questionado.
Seu pai sofre um atentado e ele corre para junto de sua família e daí então ele começa a reavaliar seus conceitos. Ele se propõe a matar aqueles que atentaram contra a vida de seu pai, inclusive com a justificativa que mataria um traficante e um policial corrupto. Mortes estas que fariam um favor a sociedade. Ato planejado, ato executado. Mortos.
Ele se refugia na Itália - Sicilia – onde se apaixona e se casa com por uma jovem que também morre na sua frente, vitima de um atentado com carro bomba. Ele volta aos EUA e começa a trabalhar com sua família. Chegando a ser o Chefe após o assassinato de seu irmão Santino (James Caan), na briga pelo poder local. O ápice da transformação de Michael se dá quando ele trama e mata todos os seus adversários, se tornando o chefe da máfia.
Essa trajetória do Michael é o exemplo típico do que ocorreu naqueles tempos, onde o idealismo tentava a todo custo se sobrepor ao pragmatismo que há muito resistia. Mas ai veio a década de 70 e confirmou toda previsão de Coppola e mais uma vez nada pode ser feito, todas as esperanças estavam mortas novamente. Guerra do Vietnã, Crise do Petróleo, o movimento punk, o niilismo e o desencanto.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário