Como seria uma sociedade sem a possibilidade de mentiras? Poderia haver ordem perante duras verdades que não poderiam ser escondidas? As relações humanas seriam melhores ou nos tornaríamos frios e mecânicos?
O Primeiro Mentiroso é um filme que usa como ideia principal de seu roteiro, a existência de um mundo sem a concepção da mentira, onde acompanhamos o cotidiano de Mark Bellison (Ricky Gervais). Um sujeito cujo jeito de viver monótono e esquemático, é um espelho da sociedade a que pertence. Indivíduos sem expressão, cuja sinceridade beira ao desaforo, mas que se encaixa perfeitamente no perfil daquele mundo.
Os primeiros minutos são bem aceitos, com o esquema de somente falar a verdade naquela cultura. O primeiro encontro de Mark com Anna é marcado por um humor ácido, representando o que muitos casais na vida real realmente pensam em uma primeira saída. É divertido acompanhar situações banais por esse ponto de vista, com uma veracidade que torna crível aquela sociedade, apesar de aparentemente cruel, ainda assim pacífica se comparada com nossos ambientes reais e cercado por falsas modéstias e confianças frágeis.
No entanto, o que se mostra uma boa ideia no papel, acaba caindo por terra na execução. A partir do momento que Mark conta sua primeira mentira, o filme desanda e as piadas que no início divertiam, tornam-se cansativas, arrastando situações mais do que deveria fazendo com que o interesse no desenrolar da história se perca.
Ricky Gervais tenta dar mais credibilidade ao seu personagem, mas é difícil se importar com Mark. Principalmente pelo fato de que a sua química com Jennifer Garner é inexistente, e o romance forçado não convence, deixando com que cenas que deveriam ter um apelo emocional maior dentro daquele universo, soem como paródias sem graça da própria ideia que deu certo no começo do filme.
A mudança de tom em seu final, quando insere o contexto da criação da religião é bem vindo. A crítica ácida quanto ao fanatismo religioso e suas concepções derivadas, salva do desastre toda a ideia encaminhada até ali. Mesmo que o drama destoe do tom proposto na hora inicial, o fôlego que esse trecho retoma ao filme, o torna suportável até seu final previsível.
Com atuações corretas e algumas beirando a caricatura (Rob Lowe parece perdido em seu personagem), e um desperdício quanto a execução das ideias de seu roteiro. O Primeiro Mentiroso prova-se uma comédia que funciona nos seus minutos iniciais, e que não convence no prosseguimento de suas ações.
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