Esta grandiosa produção da Metro de 1945 contém todos os elementos clássicos que fizeram a fama deste grande estúdio.
O diretor Albert Lewin cercou-se, cuidadosamente, dos melhores técnicos da época para apresentar este extraordinário conto lúgubre repleto de citações filosóficas e simbólicas, a começar pelo texto inicial de Omar Khayyan (que abre e fecha o filme).
A partitura dramática de Herbert Stothart, com seus acordes comoventes, oferece a tonalidade certa que, esta extravagante história pede.
Dorian Gray é um jovem burguês da alta sociedade inglesa que tem seu retrato pintado por um amigo. Após ouvir as amoralidades ditas por Lord Henry Wotton; Gray deseja, de corpo e alma, trocar de lugar com a pintura. Ou seja, ele permaneceria jovem e bonito, enquanto o retrato envelheceria. O desejo é atendido mas após um incidente trágico amoroso, Gray assume um comportamento grosseiro e áspero transportando seus pecados, doenças e agressividade para a pintura.
Dorian Gray é, quase como, um alter ego de Oscar Wilde. Um almofadinha mesquinho, preocupado apenas com o seu umbigo, juventude e beleza. Como é notório, Oscar Wilde era um homossexual não assumido que despejava nos textos todos seus impulsos sexuais reprimidos, apresentando personagens ambíguos e inseguros. O filme reflete muito bem estas incertezas, pois os personagens masculinos estão constantemente admirando-se e trocando elogios sobre suas aparências.
A adaptação é fiel ao extremo e os personagens refletem a imagem desta ambigüidade sexual. O filme é narrado em off, por Lord Henry Wotton (George Sanders), uma espécie de colunista social do período Vitoriano na Inglaterra de 1886. É ele quem analisa e apresenta os personagens, impregnando o texto com tiradas sarcásticas e cheias de ironia.
Albert Lewin dirigiu apenas 6 filmes em sua carreira, mas atuava como produtor e supervisor de produção e de roteiros, o que facilitou transportar toda a complexidade da história de Oscar Wilde para as telas. Ele consegue transmitir sensações e sentimentos e apresentar os vários personagens, com um simples e econômico movimento de câmera. Como exemplo deste virtuosismo assista a cena onde o irmão de Sybil, James Vane, (Richard Fraser) aparece. Em um primeiro plano, Lewin expõe o ciúme e a preocupação do personagem sem dizer uma única palavra. Outras analogias são fartamente utilizadas ao longo do filme, como a borboleta presa por Lord Henry Wotton. Ao segurar o inseto, Wotton manifesta sua preocupação ilusória em segurar a juventude e a beleza.
A fotografia prateada de Harry Stradling Jr. (Uma rua chamada desejo, Suspeita) é outro mérito. Trabalhando com um belíssimo jogo de sombras, ele modifica a luz ao longo da história, causando um certo mal-estar a platéia. Há um interessante uso do Technicolor quando o retrato aparece por quatro vezes. O efeito é impressionante.
O elenco é primoroso. Hurd Hatfield encarna Dorian Gray com tamanha convicção e elegância, que nunca mais conseguiu livrar-se do estigma do papel. George Sanders, como o influente Lord H. Wotton, é eficaz quando desempenha papéis de homens prepotentes e arrogantes, como neste caso. Angela Lansbury, como a angelical Sybil Vane, em seu terceiro papel, é outro destaque. Com a fragilidade de um rouxinol assustado, Angela transmite a humilhação e insegurança de Sybil com muita sensibilidade.
O Retrato de Dorian Gray é uma obra prima clássica do cinema, que merece todos os elogios possíveis. E acima de tudo é uma história atualíssima que fala da eterna preocupação humana em manter-se jovem a qualquer custo.
Nota 9,5
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário