Um drama suave e livre de preconceitos, honesto ao extremo e embalado por atuações poderosas.
Quem pensa que o mundo continua na mesma época decadente de décadas atrás, onde qualquer pessoa que seguisse um comportamento alternado da maioria era julgado e condenado como pecador, está muito enganado. Felizmente, o século 21 chegou e abriu os olhos de pessoas que foram forçadas, perante à sociedade, a saberem aceitar as diferentes personalidades e facetas de diversas populações, e em todo o lugar do mundo. O Segredo de Brokeback Mountain, é para muitos, o símbolo da liberdade homossexual, que foi sempre oprimida pela maioria conservadora. Embora este comentário não se trate explicitamente de uma crítica ao preconceito, é imprecindível que esse problema atual seja comentado, uma vez que o filme tem justamente o tema GLS envolvido. O fato é que ainda existem tipos que acham que se encontram em um patamar acima dos negros, homossexuais, asiáticos e judeus. E na minha sessão, onde algumas criaturas ficavam berrando exclamações preconceituosas, pude perceber como a ignorância do povo não acompanhou a passagem do século, e por sinal, de um milênio também.
Mas enfim, tratando-se de um filme de Ang Lee, diretor de Tempestade de Gelo, o ótimo Razão e Sensibilidade e o seu mais último e competente trabalho artístico em O Tigre e o Dragão, pode-se perceber que o homem tem contrastes, como o seu próprio filme reflete, sensíveis e com este 'Brokeback Mountain' fica claro que ele optou mais uma vez para o seu melhor lado de diretor. Disputando o seu segundo Oscar, mas desta vez, ganhando, Lee pôde comprovar o seu talento atrás das câmeras e tanto os resultados fabulosos do elenco até os da parte técnica, que inclui a abatida fotografia e a trilha sonora de cordas de Gustavo Santaonella mostram isso.
A história é, ao mesmo tempo simples e complexa. Simples por se tratar de uma história de amor, com seus limites, e complexa por se tratar de um amor entre dois homens. Interpretados pelo falecido Heath Ledger e por Jake Gyllenhaal, de O Dia Depois de Amanhã, Ennis Del Mar e Jack Twist, respectivamente são dois personagens dramáticos e de carga extremamente profunda e pesada. Ennis, que em língua indígena que dizer "ilha" é um típico homem texano que vai em busca de trabalho nas colinas do interior dos Estados Unidos, onde a montanha Brokeback se sobressai com suas paisagens exuberantes, onde a neve cai sobre os cedros durante o inverno. Ele, que é logo aceito para o cargo de pastor de ovelhas, conhece Twist, um futuro novo-rico, mas que ainda tinha de lutar para conquistar sua vida. Os dois então, passam a trabalhar juntos e isolados do mundo, comaçam a sentir atração um pelo outro. É o ponto de partida para uma história de amor entre duas pessoas do mesmo sexo, onde o preconceito, a ilusão e a separação ficam evidentes perante às câmeras de Ang Lee.
O roteiro assinado por Larry McMurtry e Diane Ossana, baseado no conto de Annie Proulx é extremamente bem sucedido, sem exageros e sem partir para o sentimentalismo cínico. Tanto as passagens finais, que demonstram maior sensiblidade não são de maneira alguma um misto de gêneros típicos de uma história de amor batida e clichê, mas muito pelo contrário. A adaptação conseguiu se formar muito bem perante às exigências da sociedade atual, que embora injustas, devem ser seguidas especialmente em um caso de filme, com cenas que não escondem aquilo que todos devemos nos acostumar, mas que ainda não se firmou.
Heath Ledger é de todos, o que mais brilha. Nascido da Australia, e agora há pouco, mostrando seu infinito talento como o Coringa de Batman - O Cavaleiro das Trevas, ficou ainda mais evidente a falta que um ator do gabarito dele fará para o cinema, depois de sua morte acidental, provocada pela overdose de remédios.. Ele simplesmente está sensacional na pele de Ennis Del Mar e tanto Ledger, quanto Gyllenhaal surpreendem pela incrível coragem e determinação, dispostos a tudo para alavancar suas carreiras. Michelle Williams, que se casou com Ledger pouco depois do término das filmagens do filme, também brilha e sua mais do que merecida indicação ao Oscar, poderia muito bem ter premiado a jovem e novata atriz com o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante.
Falando em Oscar, este mais uma vez completou o seu tabú contra filmes independentes. Com a vitória de Crash - No Limite na categoria principal, a Academia provou que ainda sabe premiar filmes bons, mas sem grande reconhecimento internacional. O Segredo de Brokeback Mountain poderia ser sim, o grande favorito da noite, mas a qualidade de Crash é maior e o filme tem resultados bem mais positivos, graças ao roteiro. O filme de Ang Lee, entretanto, venceu em três categorias, incluindo Melhor Diretor, Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora, para a simples e bem sucedida música de Gustavo Santaonella, feita em sua maioria de cordas e violão.
'Brokeback Mountain' é um filme livre de preconceitos e que deve ser encarado como uma aula de se fazer cinema, demasiadamente longo, porém corajoso e muito bem feito. Atuações magestrosas de um elenco em construção (agora nem todos), com um roteiro e diretor acima da média que fazem a diferença.
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