A imigração ilegal nos países europeus vem se tornando pauta de muitos filmes ultimamente. Em um curto período me lembro de ter ido ao cinema e visto dois fimes com tema semelhante: "Import/Export" e "Bem-Vindo". O primeiro mostra a decadência do leste europeu através de uma mulher que sai da Ucrânia em busca de melhores condições de vida na Áustria. O segundo, por sua vez, nos apresenta um garoto do Curdistão que a todo custo tenta ir da França à Inglaterra para encontrar sua namorada. "O Silêncio de Lorna" tem muitas coisas em comum com essas duas obras, mas com um enredo completamente distinto.
Lorna é uma jovem albanesa insatisfeita com o modo de vida no seu país. Seu sonho é abrir uma lanchonete junto com o namorado Sokol. Para isso, arranja um esquema com o criminoso Fabio para casar com Claudy Moreau – um belga viciado em drogas. De acordo com as leis na Bélgica (e na maioria dos países), um estrangeiro que casa com um nativo tem o direito de adquirir dupla nacionalidade. Nesse caso, ela passaria a morar na Bélgica em situação legal, não mais como uma imigrante irregular. No vai-e-vem da trama, Lorna ainda teria que se casar (mais uma vez) com um russo rico, que pagaria uma alta quantia de dinheiro a ela – suficiente para se estabilizar no novo país. Junte a isso a necessidade de se livrar do ex-marido (o drogado)… entenda o ’se livrar’ por matar mesmo. Pois é! Para adiantar o processo de divórcio, Claudy teria que morrer.
O tom dramático do longa se estabelece logo de cara. Lorna mora com Claudy e se vê obrigada a cuidar dele todos os dias. No entanto, mesmo enfrentando muitos problemas desse tipo, ela passa a se identificar com o rapaz - o que obviavente trará consequências catastróficas. Todo o drama da personagem é bem construído e aprofundado, mas, ao meu ver, faltaram algumas coisinhas. Quando li a sinopse antes de assistir ao filme pensei: “nossa, como esse tanto de informação vai caber em pouco mais de 1h30?”… os diretores Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne construíram um ótimo clima, auxiliados por uma linda fotografia, mas foram infelizes nesse aspecto… falta gancho para o espectador! Em determinado ponto a história fica um pouco confusa, e quem está assistindo demora mais do que deveria para se situar.
Ainda que existam pontos negativos como esse, o argumento é sólido o suficiente para se sustentar sozinho. A trama demora para engrenar, pois é exposta lentamente ao espectador. É a partir dos 25/30 minutos que passamos a entender o que realmente está acontecendo. Longe disso ser um defeito, vale dizer, já que é interessante ver todo o problema sendo montado com minúcia.
Outra coisa que merece certo destaque é o final. Posso dizer que me senti indiferente quanto a ele e até agora tenho dúvidas se gostei. Aquela coisa de final interpretativo é interessante, mas achei que nesse filme faltou aquele quê a mais… Lorna ficou maluca e está tendo devaneios ou tudo aquilo realmente é real? Esse tipo de resposta só teremos quando o dvd chegar às lojas recheado de extras (pelo menos assim espero).
"O Silêncio de Lorna" é uma obra interessante e bem feita. Mesmo pecando em alguns aspectos jamais deixa de ser um drama profundo e perturbador. Ora sentimos raiva da personagem – brilhantemente interpretada pela novata Arta Dobroshi -, ora entendemos todas as suas angústias, atitudes e conflitos. O filme vale também por ser mais um retrato inteligente sobre o atual panôrama dos imigrantes ilegais no velho continente, que precisam se submeter a coisas terríveis, a maus tratos e a trabalhos sub-humanos só para continuar vivendo.
Como curiosidade, a obra foi muito bem recebida no conceituado Festival de Cannes. Na oportunidade (2008), o longa figurou entre os indicados à Palma de Ouro. Mesmo sem o título máximo do festival, "O Silêncio de Lorna" foi condecorado com o prêmio de melhor roteiro.
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