“ANIQUILAR A RAÇA HUMANA... GRANDE IDÉIA!”
O talentoso e controverso diretor Terry Gilliam (Mont Phyton; Os Irmãos Grimm), baseado-se no filme La Jetée (1963), de Chris Marker, faz em Os Doze Macacos (Twelve Monkeys, 1995) seu melhor, mais complexo e grandioso trabalho. Um clássico dos anos 90, de temática pesada e suja, abordada sob um tom cômico e um ponto de vista caótico.
O enredo é complicado, requerendo uma segunda ou até uma terceira visita. Em 1996, o Exército dos Doze Macacos, um grupo terrorista até então desconhecido, liberará um vírus que matará mais de 5 bilhões de pessoas, obrigando os sobreviventes a viverem no subsolo buscando um meio de retomar o controle da vida no planeta. Em um futuro próximo, o prisioneiro James Cole (Bruce Willis) é enviado por cientistas até 1995 para rastrear o Exército dos Doze Macacos e descobrir sua origem, além de coletar um espécime vivo qualquer ainda não infectado que poderá servir de base para uma possível cura. Porém, os cientistas comentem um engano e acabam enviando Cole para 1990, e não 1995. Ao falar de suas origens, sua missão e de sua teoria apocalíptica, Cole é dado como louco e internado em um hospício, sob os cuidados da Dra. Khatlyn (Madeleine Stowe, uma das mais belas atrizes de Hollywood). Dentro do hospício, Cole conhece Jeffrey (Brad Pitt), um paciente hiperativo, anarquista e paranoico, ao qual conta sua história. Jeffrey, então, decide ajudar Cole a escapar e cumprir sua missão.
Além das ótimas interpretações de Bruce Willis e -principalmente- Brad Pitt, o elenco de apoio conta com atores renomados e competentes, como a já citada Madeleine Stowe, David Moorse e Christopher Plummer. O roteiro é perfeito, sem pontas soltas e completamente amarrado. A música tema é sensacional e a direção de Gilliam é genial. Ou seja, tecnicamente o filme é excepcional. A câmera inclinada de Gilliam, nas cenas com Cole e Jeffrey, é preponderante para a compreensão do estado mental dos personagens, passando a contínua sensação de vertigem e desorientação. Além disso, ela (a câmera de Gilliam) movimenta-se em determinadas cenas onde, geralmente, espera-se que deva ficar parada, como na cena de Cole amarrado na maca do hospital no futuro, ouvindo vozes.
Outro belo trabalho técnico de Gilliam em Os Doze Macacos é a cena do aeroporto, mostrada diversas vezes ao longo da projeção, sempre de uma perspectiva diferente, de um novo ângulo, de um diferente ponto de vista, sempre muito bem filmada e revelando um novo detalhe a cada exibição, unindo todos ao final épico do filme, na cena derradeira do filme: esta mesma do aeroporto.
Mesmo que todos os personagens sejam úteis à narrativa e cole seja o protagonista, é indiscutível que Jeffrey é o propulsor de toda a história. A personificação do caos e da anarquia, além de completamente pirado, Jeffrey é dono das melhores frases do filme, geralmente dotadas de uma crítica direta. Frases como “Mastercard! Visa! A chave da felicidade!”, “Se você compra muito é um bom cidadão. Do contrário, está fora do sistema.” e “Não deixam nós nos comunicarmos com gente de fora, podemos espalhar a loucura!” são proferidas há todo momento.
E é aí que reside a maior força do filme, nas mais variadas críticas que compõem sua trama, seja ao uso indiscriminado de cobaias em experimentos científicos, seja aos rumos da sociedade contemporânea, superpopulação, consumismo, à fabricação de armas químicas e ao controle da informação por parte da mídia (notem que, na cena em que Cole tenta fugir do hospício, o guarda lê um jornal onde as manchetes da capa e da contracapa são, respectivamente, “Criança-Morcego é encontrada!” e “A pirâmide mágica!”). Além disso, o filme apresenta teorias interessantes, como a loucura contagiosa e a ligação entre a assimetria do espaço-tempo (teria sido Cole que, por um erro de cálculos cometido por cientistas no futuro, acabou dando a ideia dos Doze Macacos à Jeffrey e, ao comentar com este sobre o terrível vírus, acabou levando a ideia ao conhecimento dos autores no laboratório do pai de Jeffrey?).
Há também muitas cenas e questionamentos curiosos dentro do próprio enredo, como Cole, ainda criança, assistindo ao próprio assassinato. E afinal, o que levou a Dra. Khatlyn a não fugir de Cole quando teve a chance: instinto profissional ou estar começando a acreditar em Cole? O estado mental de James Cole também é posto em cheque quando o próprio personagem começa a duvidar de si mesmo a passa a acreditar que sofre de paranoia e esquizofrenia.
E é nesse ritmo, cheio de questionamentos e críticas, em um enredo complicado e intricado, que Terry Gilliam constitui um dos maiores clássicos dos anos 90 e da ficção-científica. Definitivamente, um filme para doidos.
“Eu quero desconhecer o futuro.” _James Cole
Belo texto! Adoro muito esse filme! 😁
Muito obrigado, Francisco.
Assisti esse filme umas 5 a 7 vezes e fiquei embasbacado em todas elas. Obra de arte.
Mas com certeza, Luiz. Quando eu era peqyueno, não entendi de primeira, e isso me facinou. Valeu!!!