“Só tenho as escolhas que fiz. E a minha escolha foi ela”.
David Norris (Matt Damon) é um jovem político que, candidato ao senado, almeja um dia ocupar o assento presidencial na Casa Branca. Prejudicado em sua campanha por um vídeo polêmico, Norris conhece a bailarina Elise Sellas (Emily Blunt) em um banheiro e se apaixona imediatamente pela moça. Logo, porém, descobre que o encontro foi um “acaso” que jamais deveria ter ocorrido e que misteriosos homens vão fazer de tudo para que os dois nunca mais se encontrem, mantendo assim o plano que já foi traçado para ambos. Claro que Norris não vai se contentar em manter-se longe de Elise, fazendo de tudo para reencontrá-la.
Baseado em um conto de Philip K. Dick (que em outras, escreveu as obras que originaram também Blade Runner – O Caçador de Andróides e Minority Report – A Nova Lei), Os Agentes do Destino investe boa parte de sua narrativa em estabelecer o modus operandi dos agentes do título e em retratar os esforços de Norris em encontrar seu amor, logo abordando conceitos interessantes e levanta questionamentos sobre se de fato somos realmente livres em nossas escolhas ou seguimos um plano já traçado desde o nascimento.
Em dado instante da projeção, por exemplo, Norris questiona o porquê de, se ele e Elise não nasceram pra ficar juntos, sentir o contrário toda vez que pensa na moça. É uma pergunta de superfície simples, mas que em essência trás o centro temático da narrativa incrustado: ora, se seu sentimento pede por algo, por que aqueles homens se julgam no direito de impedi-lo?
Um tema que é ainda mais aprofundado ao, em outro momento, um dos agentes que vigia Norris lhe mostrar a real dimensão de suas ações no plano geral traçado para ele e sua paixão: eles poderão ficar juntos, mas o custo disso será a carreira de ambos, culminando no distanciamento de sua carreira na política e na frustração das expectativas artísticas da bailarina, que se veria fadada à aulas em uma escola infantil, em contraste com a promissora carreira internacional que alcançaria distante do homem de sua vida. Ao entregar esses detalhes nas mãos de Norris para que ele decida o que fará em seguida – manter-se ao lado da moça e viver o romance que deseja ou se afastar e cada um seguir com suas vidas individualmente – o homem lhe mostra a real dimensão do confronto entre livre arbítrio e destino, em uma cena muito mais dolorosa por suas implicações do que pelo seu desfecho.
Da mesma forma, ao estabelecer que os protagonistas foram destinados a ficar juntos em outra versão do plano, alterada posteriormente para a situação atual, o filme parece defender que sim, destinos são traçados, mas temos nossa influencia nas nossas próprias trajetórias e daqueles que nos cercam ao fazermos pequenas escolhas.
Essa riqueza temática aliás, rende momentos de beleza impressionante, ainda que simples na maneira como são retratados, como ao vermos a corrida desesperada de Norris para chegar a tempo em um ensaio de Elise, enquanto os agentes em seu encalço tentam impedi-lo, pois uma simples olhada na moça dançando será o suficiente para fazê-lo se apaixonar a ponto de bagunçar todo o plano de ambos. Um momento simples, mas que retrata uma complexidade imensa ao nos questionarmos se aquele amor a primeira vista pode mesmo ser uma escolha livre ou se estamos no fundo todos destinados a conhecer nossas almas gêmeas.
Dirigido – e roteirizado – pelo estreante George Nolfi, Os Agentes do Destino apresenta uma bela construção de atmosfera, transitando com eficiência entre o romance e o suspense, ao passo que também brinca com o clima conspiratório e paranóico de clássico da ficção cientifica. Além disso, a eficiente montagem de Jay Rabinowitz consegue manter o ritmo sempre em alta, evitando que os diversos avanços temporais – que por vezes cobrem anos – nos afastem de seus protagonistas, conseguindo transmitir a dor de anos de distancia mesmo sem mostrar o que os personagens viveram no período – o que também deixa claro que nada daquilo importou de fato, servindo como um agravante de que suas vidas só ganham significado agora na presença um do outro. Da mesma forma, o trabalho de montagem de Rabinowitz é responsável por uma das mais incríveis sequência de perseguição do cinema em anos, onde alternando diversos cenários atravessados por portas em diversas localidades, o filme trás o casal protagonista e os agentes em uma cena que por si só vale o longa – e é frustrante perceber como o longa desperdiça um final ideal ao se estender-se um pouco além da conta.
Ancorado em um casal de atores que exala química em performances que jamais parecem refletir os rostos famosos por trás dos personagens, podendo ser confundidos com pessoas comuns do lado de cá da tela – o que torna a dimensão do que é visto no filme ainda maior e mais significativa - Os Agentes do Destino revela-se um entretenimento de primeira, conseguindo funcionar em diferentes gêneros e sempre alcançando resultados merecedores de aplausos.
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