Todo filme de Wes Anderson é extremamente triste, pior, melancólico. Mesmo em Moonrise Kingdoom(idem, 2012), onde a trama central é unicamente juvenil, seus personagens sofrem, são pensativos, estranhos, diferentes e na maior parte do tempo deslocados da maioria. Em Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001), mesmo que deslocados cada um de si, a família ainda é o propósito dessa aventura de Anderson sobre esse seu próprio universo criativo e tão inovador dentre tantos cinemas que batem na mesma tecla, sem explorar nada. Desse modo, o seu cinema se torna ainda mais incomum e potente diante os demais.
Como Tim Burton, apesar das diferenças estéticas e narrativas, Anderson esculpe uma visão totalmente diferenciada. Os Tenenbaums que mais parecem à família Adams, é o perfeito lugar para ele criar sua melodia, membros da família estranhos, gênios em áreas específicas e complexos, mimados. No encaixe de Anderson, mesmo o maior deslocamento ou estranheza que possa existir na cabeça do público, se ajeita a um único tratamento que transforma seus personagens como pessoas comuns, traz a tona indiferença ao tratar de temas tão distanciados, aqueles que incomodam a moral de qualquer um, como incesto, ainda que em uma base superficial, suas histórias são contos, fábulas diretos, como contadas para uma criança não se preocupam em se aprender no que estaria certo ou errado.
E é assim, que Tenebaums ganha esse tratamento de originalidade, enquanto discute com o espectador direta ou indiretamente situações rápidas, de humor, drama e tragédia, faz um trato de desaprender, larga a mão do que seria correto ou incorreto. Em travellings e panorâmicas, seus personagens envolvem o espectador para discutir abertamente sobre temas muito complexos, principalmente em torno de amor, tanto o de família quanto o de namorados. Não há algum distúrbio que incomode Anderson, chega a perguntar para nós o verdadeiro final feliz de uma história, mas se da conta refletindo com o espectador, que não há motivo para tirar o seu universo, seus artifícios, elementos que o constroem, como cores exuberantes, um mundo teatral embalando de músicas clássicas que transformam quem assiste em uma criança ou no mínimo algum esquisitão de seu filme.
Aqui, há principalmente o trabalho dele com sua criatividade. Embora seja um de seus filmes mais corajosos, é sobre impossibilidades que trata o seu cinema, sobre ser ou não ser um maluco que curte a vida intensamente. É escondido, como quase todos os seus filmes, um drama, um drama familiar no caso de Tenenbaums, onde temos o paradoxo delicioso para explorar e desfrutar, de bem sucedidos que se tornaram tediosos, chatos cada vez mais, onde transformaram suas vidas de aventuras em verdadeiras cúpulas fechadas que não atendem a entrada de ninguém. E é emocionante para o espectador que o retorno do estilo “aventuresco” volte em uma pessoa idosa, um Gene Hackman afiado e confiante em sua atuação, onde desaprende e mente até o fim de sua vida, um malandro eterno.
Possivelmente, a caricatura, o andar desleixado de seu cinema extravagante é o ponto chave de Anderson. Seus personagens são únicos, são pessoas a serem examinadas, transforma para o espectador a realidade deles em uma verdadeira ação para quem vê, pois sabe que esse encontro de seu cinema com a realidade é totalmente incompatível. Sendo assim, com suas diferenças pessoais, parecem estar perdidos no mundo que Anderson sente repulsa a cada filme, um mundo muito próximo da realidade, que torna seus personagens em rabugentos sem esperança, malucos infelizes, prodígios melancólicos, então o mesmo acontece para quem observa o espetáculo de Anderson, seu motivo aqui não é apenas mostrar seu cinema e mundo, mas puxar o espectador para sua realidade, ou melhor irrealidade, não aquela de criaturas mágicas ou efeitos sobrenaturais, mas sim de um mundo como nosso só que simplesmente mais bem aproveitado, traz assim a esperança de quem vê um universo de possibilidades.
Ainda que qualquer tema possa parecer bizarro a primeira vista, o cinema de Anderson não é ingênuo e nem apelativo, trabalha com todas as questões de forma densa, sem apelar, sem ser ingênuo, seus personagens sabem o que é amor, apenas buscam o sentimento dele em alguém ou reencontra-lo novamente, transforma assim seus filmes de românticos perdidos e desastrosos em fábulas que conectam seu charme e graciosidade em obras únicas. Ainda somos crianças, desaprendendo desse destino que a realidade convencional reserva, encontrando abrigo na reconciliação. Tenenbaums tinha tudo para ser um filme de melodrama choroso, mas opta por redescobrir o seu interior, para assim encontrar a única resposta válida no cinema de Anderson, a de aprender a desaprender, aprender a viver.
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