No mesmo ano Os Fantasmas de Scrooge chegava ás telas de cinema em todo mundo, também acontecia a estréia de Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (ou no título original: Fantasmas das Namoradas Passadas). A comédia romântica estrelada por Matthew McConaughey e Jennifer Garner podia até ser fraca e absurdamente clichê, porém, mostrava que uma conhecida história pode sim ser adaptada para o cinema atual com frescor e irreverência. O completo oposto disto ocorre no filme dirigido e escrito por Robert Zemeckis: O roteiro, além de desenvolver o personagem central de maneira falha, o longa metragem acaba caindo onde menos se espera que um filme que seja feito com uma técnica tão exuberante caía: Na mesmice completamente.
Reciclando mais uma vez o clássico romance escrito por Charles Dickens, Os Fantasmas de Scrooge acompanha Ebenezer Scrooge, aquele homem sem alma nem piedade que odeia o natal, e que só age quando dinheiro está envolvido. Porém, na véspera de natal o homem recebe a visita de três espíritos que lhe mostraram seu passado, seu presente e seu futuro fazendo com que ele mude de vida e seja um ser humano melhor, e blá...blá...blá....
Apresentado ao público como uma figura cruel e sem coração, o protagonista é um personagem um tanto quanto mal estruturado: Sua frieza mostrada no início da projeção é absolutamente compreensível, já que é exatamente disto que a história se trata, porém é estranho demais ver o senhor Scrooge fazer piadinhas com os fantasmas (mesmo que os poucos momentos cômicos se apresentem como um ponto á favor do filme) e mais estranho ainda notar suas exageradas e bruscas mudanças de humor repentinas. Para mim, todos esses problemas têm haver com Jim Carrey, que mesmo mostrando um esforço exemplar – e até se saindo muito bem em algumas de suas tentativas de construção do personagem – dá esse ar desnecessário á produção, porém é curioso imaginar como seria Os Fantasmas de Scrooge se este adotasse inteiramente essa narrativa mais leve e divertida, aposto que o filme teria se saído muitíssimo melhor e o resultado seria recompensador.
Por outro lado, é impossível não elogiar á belíssima captura de movimentos, que mesmo sendo usada cada vez mais em filmes populares continua atual e surpreende cada vez mais. Aqui não poderia ser diferente... O longa é visualmente impecável, todos os personagens são detalhados com perfeição e os cenários são fantásticos. A direção de arte também é notável, construindo um clima natalino perfeito para a história – que é ajudada pela ótima trilha sonora (apesar de muito repetitiva). Ainda é possível comentar sobre os ótimos efeitos sonoros usados durante o filme (os cães latindo, as crianças brincado no gelo, Scrooge e os fantasmas voando noite adentro, tudo isso proporciona uma experiência fora do comum, em alta definição).
Robert Zemeckis comanda o filme de maneira desorientada, se por um lado o clima pesado e sombrio (temos até uma tomada onde o cineasta usa da trilha sonora alta para dar um susto no público, momento óbvio num filme de terror) é interessante para os adultos, por outro, é obscuro demais para não causar um certo incômodo nas crianças – há sequências de espíritos vagando, carregando correntes e se desculpando com entes queridos que estão vivos. E se havia algum possível ponto á favor ao filme (apresentar a clássica história á nova geração usando a linguagem atual) este também é frustrado não apenas pelos motivos já citados antes, como também pela obviedade da narrativa tantas vezes vista pelos mais diversos meios de entretenimento (fazendo desta uma experiência desagradável para qualquer pessoa com uma idade superior á doze anos). Em contraponto, é bom notar que Zemeckis cria planos coerentes e belíssimos que mesclam um cenário com outro utilizando bem o sobrenatural presente na cena em questão.
Se existem momentos divertidos e que funcionam dentro de Os Fantasmas de Scrooge é em razão ao charme atemporal da história de Charles Dickens, mas como obra cinematográfica o filme falha tremendamente, causando apenas dois tipos de reação: De medo ou de exaustão, depende de sua idade. Portanto é curioso ao final deste comentário fazer a constatação mais absurda e ilógica possível: Eu prefiro rever Minhas Adoráveis Ex-Namoradas com todos os seus clichês e personagens vazios, do que Os Fantasmas de Scrooge um filme de um grande cineasta (ou que um dia já foi) que é inspirado num conto belíssimo e tem uma animação impecável. O motivo? Originalidade narrativa. (Leia as últimas três linhas e notem que a frase parece não ter muito sentido, mas assista aos dois filmes comentados e você entenderá minha ideia).
Observação Final: O som da gargalhada do Espírito do Natal Presente é incrivelmente insuportável.
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