Apostando em sátiras a guerra e a uma sociedade onipotente, “Os Homens que Encaravam Cabras” talvez não seja tão acessível, mas ao final deixa um agradável tom de satisfação.
Já vou logo avisando, quem quiser ir ao cinema apenas para se divertir, esperando somente mais uma comédia onde o telespectador fica o tempo todo rindo sem raciocinar nada é bom passar longe de “Os Homens que Encaravam Cabras”. Aqui a sátira é madura e ao mesmo tempo irônica. E mais uma coisa, não se assuste com o título.
Aposto que não será fácil a aceitação deste filme, não foi assim nos Estados Unidos e acredito que muito menos aqui. Quem estiver andando pelo Shopping e avistar o cartaz de “Os Homens que Encaravam Cabras” pensará: “Os tradutores realmente são péssimos” ou que realmente que o filme será uma baderna total. Pelo contrário, com o titulo traduzido – pasmem – correto, a crítica aqui é forte, mas infelizmente apenas para os que se deixarem levar pelo filme – o que é concordo ser difícil. Este talvez seja o grande pecado da direção do estreante Grant Heslov.
O filme pode parecer uma piada, mas há relatos de pessoas que juram por sua própria vida que entre os anos 60 e 70 os Estados Unidos recrutaram videntes e místicos para desenvolverem supostos poderes extra-sensoriais em militares, com o intuito de usarem em missões secretas. Isso é verdade? Quem sabe, no entanto é nesse pressuposto que se baseia o best-seller “Os Homens que Encaravam Cabras” de Jon Ronson, livro no qual é baseado o roteiro de Peter Straughan, tendo na direção Grent Heslov (indicado ao Oscar 2006 pelo roteiro de “Boa Noite e Boa Sorte”)
Eis no que se baseia o filme: Nos anos 70 foi criada uma unidade experimental que, ao invés da utilização de armas de fogo, a principal ferramenta de combate era a mente. O então conhecido como ‘Exército da Nova Era’, estava sob o comando de Bill Django (Jeff Bridges), tendo como seu principal soldado, Lyn (George Clooney). Na época em meio ao transtorno e tensão da guerra e na tentativa de superar traumas pessoais os soldados se apoiavam em músicas clássicas e outros passatempos, porém quando sem solução a melhor maneira era partir para o LSD.
Porém estamos em 2003 e não na década de 70, é então que essa história cai literalmente nos colos do frustrado jornalista, Bob Wilton (Ewan McGregor), que se junta a Lyn e começa a se envolver com essa estranha tática de guerra.
Impossível não fazer a associação do porque da escolha de Ewan McGregor para realizar este filme. Para quem não se lembra Ewan viveu o Jedi Obi-Wan Kenobi na recente trilogia “Star Wars”, e hilariamente aqui Ewan é ensinado às táticas Jedis, sendo George Clooney o seu “mestre”. E não é só essa as inúmeras sacadas que o filme nos proporciona: O questionamento da guerra tanto do Vietnã como do Iraque é a principal crítica e a mais feroz também, que aqui são tratados como única, sem qualquer diferença; a introdução do personagem de Kevin Spacey também pode ser uma amostra do espírito de passar por cima do outro, custe o que custar; as entrevistas com George W. Bush…. Porém todas essas críticas são feitas acompanhadas de tímidas risadas, confesso, não é um filme que fará você chorar de tanto dar risada, longe disso, porém para os amantes de humor negro e também de filmes com um pouco mais inteligência irão se deliciar com “Os Homens que Encaravam Cabras”.
O filme irá dividir opiniões, isso pelo fato da direção um pouco confusa de Grant Heslov, confusa pela sua falta de linearidade e pelo fato de alguns momentos as críticas ficaram muito escondidas dentro dos plano-sequencias. Talvez tenha sido proposital, com o intuito de cada vez que assistido novamente possa ser percebido outra mensagem subliminar, que, aliás, é explorada em uma parte de sua produção. Apesar de tendo um belo texto em mãos e cometendo algumas falhas o saldo final do trabalho de Heslov é positivo.
Se anteriormente eu relatei que o titulo nada simpático possa distanciar o publico do cinema, o que com certeza irá atrair é o elenco de peso: George Clooney, Ewan McGregor, Jeff Bridges e Kevin Spacey e é claro a cabra!? Contando ainda com participações especiais de Robert Patrick e Stephen Root. Do quinteto que estampa o pôster somente Ewan McGregor e obviamente a cabra (até no pôster, o filme satiriza a si próprio) não foi premiado com um Oscar, ao contrário George Clooney recebeu por “Syriana – A Indústria de Petróleo”, Jeff Bridges por “Coração Louco” e Kevin Spacey por “Os Suspeitos” e “Beleza Americana”. E aqui eles não atuam só com o nome, aqui as atuações são dignas de serem lembradas, a completa entrega dos atores é algo a ser louvado, principalmente George Clooney que graças aos irmãos Cohen foi “descoberto” como comediante, “E Aí, meu Irmão, Cadê Você?” e “Queime Depois de Ler” são provas concretas disto.
Ao som de “More Than a Felling” dos Boston o resultado final é positivo, evidentemente não será um filme fácil de ser engolido por muitos. Entretanto quem for fã de comédias com um pingo de inteligência, irá se deliciar com essa ótima sátira as guerras e a toda uma sociedade onipotente.
Nota: 7,5
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário