O movimento “Dogma 95” fundado por Lars Von Trier e Thomas Vinterberg em 1995, procura fugir dos padrões de Hollywood a fim de resgatar um cinema mais cru e seco, incentivando a criatividade de novos cineastas somente com uma trama intrigante sem efeitos ou recursos, desde que sigam as regras impostas pelo o movimento. O uso da câmera filmada no ombro do cinegrafista em constante movimento, corrido de um rosto para o outro, desprovido de qualquer recurso que melhore a imagem ou filtros, sem acessório, são uma das exigências respeitadas à risca em “Idiorterne”. Mesmo assim, “Idiotas” é um péssimo filme. Horroroso, feio e pobre, mesmo sem tais recursos, continua sendo ruim.
É um filme que incomoda demais e não deve ser levado à sério por um cara que goza de tais talentos, mas há obras melhores do diretor para serem apreciadas. Ele sabe muito bem o terreno em que está pisando e tem o dom de nos provocar de forma tão latente, perturbadora e mórbida sem cair em clichês. Por isso seu trabalho é tão admirado ao criar até mesmo uma áurea de mistério em todos os seus filmes, por deixar os atores em situações tão à mostra para seu público, se tornando um cara bem mais que cultuado. Além de nos mostrar que é um exímio observador do comportamento humano, não se pode dizer que ao escrever o roteiro desse filme ele foi feliz ao desconhecer as dificuldades das pessoas com deficiência que tanto gostariam de ser “normais”.
Posso dizer com toda a certeza que o QI de Von Trier oscila para dois extremos entre a genialidade e a mediocridade mas aqui, ele abraçou seu lado medíocre sem medo de ser feliz. Sabemos que o cara adora provocar e fazer seu público pensar abordando temas polêmicos de forma direta e até mesmo violenta, porém em “Os Idiotas” que mais parece um longa porco de Larry Clark, é abordado um tema sério de maneira fútil e chula que poderá chocar boa parte de seus (futuros) fãs e o público no geral facilmente. Por outro lado, nos é mostrado as verdadeiras reações da sociedade quando se deparam com pessoas de problemas mentais o que é triste e o mais triste ainda, são as motivações dos protagonistas em imitar tal comportamento.
Filhinhos de papai irresponsáveis e inconsequentes sem a menor noção da realidade muito menos a de seus atos com visão esquerdista e formação acadêmica, eles decidem formar um grupo com o nome de “Os Idiotas”, formados por Jovens que gozam de saúde plena vivendo ao bel prazer fingindo ter problemas mentais em lugares refinados. Acompanhamos o dia a dia desses jovens intelectuais que desafiam a arrogância da classe média (apesar deles mesmo fazerem parte dessa mesma classe), que se acham superiores aos demais e vemos isso claramente em seus olhares de medo e nojo na cena do restaurante, quando a ricaça vai comprar a mansão do tio de Stoffer (o líder), ou na hora que seu amigo senta com os motoqueiros no bar, entre vários absurdos.
Esse deveria ser um dos primeiros longas do diretor e eu até entenderia, porque um cineasta para que alcance uma certa maturidade, necessita que amadureça esse lado através de muitos curtas ou longas e qualquer um sabe disso. Ao que me parece, Trier abusou do uso de drogas pesadas quando escreveu esse roteiro e talvez, seu único lado positivo seja: o de mostrar esse lado oculto da classe média e seus preconceitos mas de toda a sociedade que também os descrimina. A cena da pequena orgia explicita, o uso abusivo de drogas, incomoda pelo contexto em que eles são inseridos aqui.
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