O grande campeão do Oscar de 1992 é um interessante western dirigido pelas mãos de ninguém menos que um dos grandes mestres deste gênero, Clint Eastwood, levando novamente aos cinemas toda a emoção dos conflitos de bang-bang do velho Oeste, acrescentando ainda muito estilo em uma rebuscada direção e atuação. É impossível não notar, em muitos momentos, que a história do protagonista se mostra bastante semelhante ao do velho astro, fazendo alusão aos muitos filmes de faroeste que o mesmo protagonizou nas décadas anteriores. É justamente essas características, essa aproximação de carisma, toda uma empatia que já não precisa ser mais construída, que nos faz familiarizar com a obra, permitindo que a apreciação seja ainda maior. Esse filme é a grande chance para uma nova geração de telespectadores conhecer o maravilhoso universo que ladeia os filmes de faroeste.
Um tom melancólico toma conta desde o início da projeção até os seus instantes finais, elementos estes que acompanharão o filme em todos os seus grandes momentos, pois aqui não se trata de vingança, de tiros pra lá e pra cá, mas sim de uma singela forma de trazer novamente estes personagens aos cinemas. Os diálogos são deliciosos, e de longe, é o grande atrativo do filme. Simples e direto, o roteiro nunca perde tempo com exageros ou sub-tramas desnecessárias, muito pelo contrário, confere um trabalho eficiente aos protagonistas, bem como nas relações dos mesmos. Possuindo tantos nomes consagrados em seu elenco, seria bastante complicado trabalhar cada um de maneira digna, mas excetuando a participação de Richard Harris, todos ganham seus merecidos destaques, e provam mais uma vez seus enormes talentos frente às câmeras.
Eastwood não é mais o jovem de antes, repleto de energia e tomado pelos desejos incontroláveis do ódio, paixão e vingança, onde agora é um senhor pai de família, que há anos não atira em alguém e muito menos ingere uma gota de álcool. Impressionante a forma como é desenvolvido seu personagem até o grandioso momento em que explode toda sua fúria, após a morte de um amigo. A trajetória que ele trilha, não é de redenção por uma vida cheia de dor e maldade, mas sim por um respeito interior, algo inconsciente que nem ele sabe explicar. Os próprios letreiros que tomam a tela no inicio e no desfecho da projeção apontam essas características. É em seu personagem que as atenções estão voltadas, para o exato momento em que este irá parar de viver da grande fama de seu passado sangrento, e colocar pra quebrar nos dias de hoje, como nos velhos tempos. O momento chega, e é magnífico, diga-se de passagem.
O melhor do filme não é Eastwood, muito menos Freemam, e sim Gene Hackman, merecidamente premiado com o Oscar de ator coadjuvante. Seu personagem é o mais interessante de todos, e o mistério que ladeia o mesmo é igualmente perturbador. Inicialmente simpático, ortodoxo e de caráter condizente ao de um bom xerife, se mostra ao longo do filme uma pessoa totalmente diferente, excêntrica e muito perigosa, daqueles personagens que nos fazem roer as unhas quando esta em tela, de tanto a sua imprecisão no que vai fazer ou deixar de fazer. A tensão que carrega consigo quando está presente é algo maravilhoso, e isso é posto a prova por um grande astro que é Hackman, que sabe como ninguém possuir dualidades, que aumentam o frenesi dramático e eleva ainda mais as qualidades desta obra como um todo.
O destino de todos é simples e apresentado de forma sem cerimônias. Uma parte irá matar dois vaqueiros que esfaquearam uma prostituta, e os demais irão pegar essas pessoas que tentarão a proeza. Assim está armado todo o palco de Eastwood, que coloca personagens importantes frente á frente sem perder tempo, como Harris e Hackman, por exemplo. Porém a participação de Harris é pequena, e sem a menos expressividade dentro da trama, embora este seja importante para o começo da apresentação de uma personalidade marcante e excêntrica do xerife. As passagens dentro da cadeia, os diálogos, a postura dos astros, o clima tenso, tudo está encaixado em seus lugares, e esta sem dúvida é um dos grandes momentos do filme. Hackman está maravilhoso, e seu talento é colocado em prática em situações de gelar a espinha de apreensão.
Embora seja apontado como um clássico, sendo legitimado pelo Oscar de Melhor Filme, o filme ainda possui seus defeitos, e estes são cruciais para um fechamento mais digno da história e dos personagens aqui apresentados. As prostitutas, que são os principais elementos para todos estes conflitos acontecerem no filme, são retratadas de maneira superficial, onde em momento algum se é aprofundado suas personalidades e sentimentos, deixando suas razões e atitudes rasas, o que enfraqueceu bastante a apreciação completa da obra. A própria garota que foi cortada não possui a atenção do roteiro em momento nenhum, excetuando um rápido diálogo com o personagem de Eastwood em determinado momento, o que se mostra muito pouco para contextualizar melhor a posição que tomaram, e acima de tudo, explorar como se sentem em verem quase todos morrerem por uma atitude impensada que as mesmas tomaram.
Os Imperdoáveis retorna em grande estilo com o faroeste e seu delicioso clima de tensão, mesmo que experimentando de alguns erros que ao final, contribuíram para diminuir o valor total do filme. Mas Eastwood, Freemam e principalmente Hackman elevam a força do projeto, e os incontáveis e memoráveis momentos que protagonizam vale com certeza a apreciação deste estilo ‘modernizado’ do western. A fotografia belíssima que nos remetem ao século XIX é empregado de forma melancólica e estilizado por uma direção criativa, de personalidade e extrema competência de Eastwood, que trabalha com perfeição elementos que cercam as relações de todos os personagens que se encontram ao longo do filme objetivando a mesma coisa. O instante em que os olhares de William 'Bill' Munny e Little Bill se cruzam no bar é sem dúvida, uma das passagens mais significativas do filme, daquelas de deixar o público congelado na cadeira. Sensacional.
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